João Bernardo - Ainda Não Sabiam Que Eram Fascistas (PP) - Parte II

 (continuação...)

614 - JB fez um importante recorte. Quando fala em “sindicalismo revolucionário” aqui nesta série está a tratar apenas de uma corrente do mesmo, a que surge sob influência de Sorel e é significativa especialmente na Itália. Não se refere à CGT francesa ou à seção francesa da internacional operária. Ou seja, um comentador que o acuse de esculhambar os sindicalistas revolucionários como um todo e desde a época da AIT estará sendo desatento.

615 - Interessante que trechos de Sorel já enaltecem um tipo de trabalhador, como ideal à produção, que só iria surgir lá no toyotismo.

616 - A leitura de Les Illusions du Progrès revela que para Sorel a tendência para a mediocridade seria inerente à história. «O grande erro de Marx consistiu em não se ter dado conta do enorme poder da mediocridade na história» [7]. Identificada à democracia [8], a mediocridade poderia apenas ser contrariada por acções vigorosas. A apologia da elite leva necessariamente a uma teoria dos heróis.

617 - Em Sorel era mais moral e menos economia. Mais civilização e menos luta de classes. Por isso falava tanto em decadência. A tendência a negociação naquela fase do capitalismo o irritava profundamente.

618 - Sorel e os sindicatos: “Considerar a classe trabalhadora como desprovida de organização própria é convertê-la numa massa e criar as condições ideológicas necessárias à promoção de uma elite. Sorel resumiu o enredo do drama social às manobras dos políticos profissionais e à actuação dos militantes do sindicalismo revolucionário.”

619 - No quinto artigo fica claro que o jovem Mussolini expressou simpatia pela versão bakuninista e blanqista de socialismo e reprovou asperamente o mestre Sorel quando este aderiu, em 1909, à “Áção Francesa”. O pai foi um radical da I Internacional.

620 - Em 1910 já era referência no PSI.

621 - Criticava o militarismo e fez greve geral contra a guerra na Líbia. Chegou a ser preso por campanhas contra as expedições militares.

622 - Na direção nacional do PSI expurgou os reformistas do jornal e passou a abrir espaço aos sindicalistas revolucionários, incluindo-se os Labriolas da vida, que apoiaram a guerra na Líbia. A tiragem do jornal subiu de 20 mil para 100 mil exemplares.

623 - Na Revista “Utopia”, fundada por Mussolini, tinha até texto de Karl Liebknecht e Bordiga.

624 - Em 1914 já fazia campanha pela intervenção na guerra. Considerava as trincheiras a grande frente de combate do proletariado italiano.

625 - Enquanto Lenin e os seus companheiros da minoria na conferência de Zimmerwald atacavam a guerra para transformá-la em revolução, os sindicalistas revolucionários pretendiam chegar ao mesmo objectivo através da participação no conflito.

626 - Mussolini em dezembro de 1917: «As palavras “república”, “democracia”, “radicalismo”, “liberalismo”, a própria palavra “socialismo”, já não têm mais qualquer sentido. Terão um amanhã, mas ser-lho-á dado pelos milhões “daqueles que voltaram”. E poderá ser algo bastante diferente. Poderá ser, por exemplo, um socialismo antimarxista e nacional. Os milhões de trabalhadores que regressarão para rasgar a terra com as suas charruas, depois de terem estado na terra rasgada das trincheiras, realizarão a síntese da antítese entre classe e nação»

627 - Em 1919, declarou guerra ao socialismo não por ser socialista, mas por se opor à nação.

628 - Em 1940, declarava que a entrada na guerra tinha a ver com a luta dos povos pobres e trabalhadores contra os ricos.

629 - JB deixa claro que “O nazismo não foi nacionalista mas supranacional, a ponto de, nos 900.000 homens que passaram pelos Waffen SS, incluindo todas as baixas, menos de metade terem sido alemães originários do Reich”.

630 - Referem-se a um tal Marcus Garvey, propositor de fascismo no movimento negro, inclusive com alianças com racistas brancos norte-americanos… Estranhíssimo.

631 - JB: "O fascismo italiano, por exemplo, pôde ser filo-semita durante um longo período e tornar-se depois parcialmente anti-semita sem que isto alterasse minimamente a sua estrutura política. O mesmo se passou com o fascismo espanhol, que foi inicialmente filo-semita, tornou-se anti-semita durante a guerra civil por mero oportunismo, porque precisava do apoio nazi, e regressou em seguida ao filo-semitismo. Além disso, o tipo de anti-semitismo adoptado tardiamente por Mussolini não se confundia com o anti-semitismo vigente no Terceiro Reich nem obedecia aos critérios expressos nas leis de Nuremberga."

632 - JB: "Já Marinetti havia proclamado que os mais velhos entre os futuristas tinham trinta anos e nesta senda o fascismo apresentou-se sempre, em todos os países, como o movimento da juventude, o novo contra o velho. Ansiedade, novidade e um terceiro elemento, a raiva, entendida como rancor. Enquanto os comunistas concebiam a luta de classes os fascistas concebiam a raiva individual, e ninguém exprimiu melhor do que Céline um rancor que deu o tom a toda uma política. Foi por estas portas que um bom número de anarquistas individualistas aderiu ao fascismo, reforçando-lhe aquela violência de rua que era entendida como radicalismo de acção. Creio que na teia urdida entre estes três elementos pode inserir-se a vida intelectual e estética do fascismo."

Comentários