Meszaros - A Actualidade Histórica da Ofensiva Socialista (Enorme Capítulo do PAC)

 

Meszaros - A Actualidade Histórica da Ofensiva Socialista (Enorme Capítulo do PAC):

25 – Tem a ver com a ideia de que a crise estrutural do capital se manifestou desde os anos 70, o que deveria ter levado a uma ofensiva socialista. Em vez disso, os partidos e esquerda em geral continuam na defensiva.

26 - Os indícios dados por Mészáros de que esta crise seria diferente me parecem um tanto errados. Ao contrário do que diz, há ramos e países sem crise. Também não vejo o fim dos ciclos. Estão aí vários países com crescimento contínuo atualmente.

27 - Ele afirma ainda que o capital não tem pra onde correr agora, ao contrário da Grande Depressão. Não consegui identificar o porquê. “Re”privatização de serviços públicos - e da própria previdência… Contingente enorme de trabalho humano que ainda pode ser robotizado ou coisa do tipo… etc. (relação capital constante e variável)... Desenvolvimento da biogenética/biotecnologia para ampliar os dominios sobre os corpos, tornando-os mais rentáveis... Recuperação de mais-valias absolutas etc etc e etc. 

28 - A nota de rodapé “19” traz um interessante trecho esculhambando a privatização na Inglaterra. Ao fim: Se alguém pensa que esta citação vem de uma publicação socialista pequena, prepare-se para uma grande surpresa, pois ela foi retirada do artigo editorial — sob o título "Privatization is now a dirty word" (Privatização é agora um palavrão), que apareceu em 14 de Agosto de 1994 no jornal conservador britânico de maior circulação, The Sunday Times. De facto o editorial termina com um lamento: "Este jornal apoia a privatização. Nós não temos nada com aqueles que criticam os ganhos financeiros que se concedem àqueles que exibem genuína iniciativa. Infelizmente, o governo fez tudo muito fácil para que o nome de privatização, respeitado no passado fosse arrastado em infâmia".

29 - Rousseau pirado com o parlamento: “Os representantes do povo não são, nem podem ser, seus representantes, não passam de seus comissários, nada podendo concluir definitivamente. É nula toda a lei que o povo não ratificar directamente; em absoluto, não é lei. O povo inglês pensa ser livre e muito se engana, pois só o é durante a eleição dos membros do Parlamento; uma vez eleitos, ele é escravo, não é nada. Durante os breves momentos de sua liberdade, o uso que dela faz mostra que merece perdê-la”.

30 - Tem trechos interessantes de Hugo Chávez (1993) criticando a redução de democracia à urna e também o “paternalismo” e “populismo” dos partidos venezuelanos. Por sinal, propõe uma democracia participativa radical nos seus escritos. Formada por conselhos eleitorais em cada localidades, órgãos independentes de partidos.

31 - Um dos problemas deste texto que estou lendo é o fato de que a única grande contribuição dele já me parece óbvia desde os escritos de Marx, qual seja, a conclusão de que “Enquanto o capital permanecer como o regulador efectivo do sócio-metabolismo, a ideia de "luta igual" entre capital e trabalho está destinada a permanecer uma mistificação.” E, como o próprio autor diz, isso serve de lição tanto aos membros da socialdemocracia quanto aos “soviéticos”.

32 - Em algumas partes ele é didático, no resto não acho muito. “O trabalho ou é o antagonista estrutural e a alternativa sistémica ao capital — e, nesse caso, "compartilhar a força" com o capital é uma auto-contradição absurda — ou permanece a parte estruturalmente subordinada (o constantemente ameaçado "custo de produção") do processo de auto-reprodução ampliada do capital e, como tal, totalmente sem poder.”

33 - Outro trecho muito oportuno em que se coloca de forma didática ideia semelhante a da entrevista que ele deu: "Foi nesse sentido, tão revelador quanto fatal, que o sistema soviético, em vez de activar o poder de decisão autónomo dos produtores, reforçou a disjunção entre as funções do Estado e a força de trabalho sob o seu controlo, impondo, sob o pretexto de "planeamento", as ordens do seu aparato político sobre os processos produtivos directos. Nem mesmo a eternidade poderia transformar em sistema socialista auto-administrado uma ordem sócio-metabólica aprisionada por determinações estruturais tão irremediavelmente alienadas".

34 - Mészáros afirma que às lideranças sindicais atuais resta, assim como aos partidos trabalhistas, difundir a capitulação aos imperativos materiais “realistas” do sistema. Isso significa que são como se fossem mais uma personificação do capital. Agora interna. Dentro do próprio movimento.

35 - Defende que o parlamento não tem a mínima condição de controlar o sistema do capital. Isso “Ainda que as regras formais e os custos materiais para entrar no Parlamento pudessem tornar-se equitativos — o que claro, é impossível diante da monstruosa desigualdade de riqueza entre as classes, assim como perante as vantagens ideológicas e educacionais gozadas pelas classes dominantes na condição de detentoras do controlo material e cultural da "ideologia dominante" —, a situação não seria significativamente alterada.”

                36 - Atribui a margem que antes existia para a estratégia trabalhista nos “países centrais” à superexploração das massas trabalhadoras nos países periféricos.

                37 - Na qualidade de trabalhadores isolados, que sob nenhuma circunstância poderiam organizar a si próprios vis-à-vis da autoridade controladora do processo de trabalho, poderiam ser premiados como indivíduos "stakhanovistas" exemplares (a serem emulados por outros) ou punidos e enviados aos milhares aos campos de trabalho como "sabotadores criminosos" e "agentes inimigos".

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