Mészáros - Entrevista (O Marxismo Hoje)

 

Anotações Sobre “Autor - István Meszaros (Textos)”.

 

 

 Entrevista Com Mészáros (O Marxismo Hoje)”:

1 - A entrevista é de 1993. Mészáros acha importante diferenciar capitalismo de capital, pois o primeiro é fácil de abolir via levante revolucionário; já o segundo, não é.

2 – “O capital não depende do poder do capitalismo e isso é importante também no sentido de que o capital precede o capitalismo em milhares de anos. O capital pode sobreviver ao capitalismo, é de esperar que não por milhares de anos, mas quando o capitalismo é derrubado numa área limitada, o poder do capital continua, mesmo que numa forma híbrida.”

3 - Diz que a URSS não era sequer capitalista de estado, mas seu sistema era dominado em grande parte pelo poder do capital. Havia divisão do trabalho (ficou intacta) e trabalho excedente extraído de forma política.

4 - Capital é um sistema socioeconômico metabólico de controle. Logo, “A burocracia é uma função dessa estrutura de comando sob as circunstâncias alteradas onde, na ausência do capitalista privado, você tem que achar um equivalente para esse controle”. Portanto, a burocracia não é uma causa do problema, mas uma consequência deste.

5 - A solução, para Mészáros, tem a ver com achar um “modo alternativo de regular o processo metabólico da sociedade, de tal forma que o poder do capital seja, de início, limitado para, ao final, ser certamente eliminado”. (Talvez esteja aí parte do leninismo refinado que Manolo identificou nele)

6 - Limitar não é o mesmo porém que controlá-lo. O controle do capital é impossível. Ele não se deixa enganar. Se não eliminá-lo, ele eliminará. Por isso mesmo, crê que a ideia de socialismo de mercado está sempre fadada ao fracasso.

7 - A questão é o indivíduo. "Se as pessoas como indivíduos não estão interessadas, não se envolvem com o processo de produção, com a regulação do processo metabólico social, então, cedo ou tarde, elas assumem uma atitude negativa ou mesmo ativamente hostil diante dele".

8 - Apesar de tudo, afirma que o socialismo não foi sequer iniciado na URSS, pois faltaram quaisquer passos a fim de envolver realmente as pessoas no processo de produção, o que necessariamente começaria a minar a divisão social do trabalho e a derrubada do poder do Estado e do capital.

9 - Assim, conclui que os socialistas têm que parar de achar que tudo se resume a derrubar o capitalismo.

10 - Inclusive se posiciona no sentido de alertar para mudanças em curso: "O processo de expansão do capital, abrangendo o próprio globo, foi mais ou menos realizado. O que presenciamos nas últimas décadas foi a crise estrutural do capital. Eu sempre defendi que há uma grande diferença da época em que Marx falava da crise como algo que se desencadeia na forma de grandes tempestades. Hoje ela não tem que assumir essa forma. O que caracteriza a crise de nosso tempo são as precipitações de variada intensidade, tendentes a um continuum depressivo. Recentemente começamos a falar de uma recessão de mergulho duplo (double dip), logo falaremos de uma recessão de mergulho triplo. O que estou dizendo é que essa tendência para um continuum depressivo, em que uma recessão se segue a outra, não é uma condição que pode ser mantida indefinidamente, porque ao final ela reativa violentamente as explosivas contradições internas do capital e existem também certos limites absolutos a considerar nesse aspecto".

11 - Os marginalizados e intelectuais sonhados por Marcuse como sujeitos revolucionários não podem ser os atores principais.

12 - Quando Marx diz no Manifesto comunista que a classe operária tinha a perder apenas os seus grilhões, isso certamente não é verdade para a classe operária dos países do Grupo dos Sete, tanto hoje como há algum tempo. Eles foram muito bem-sucedidos em melhorar seu padrão de vida por todo esse período histórico até a última década, aproximadamente.

13 - O capital é uma força extraparlamentar. Logo, outra força do tipo precisa se contrapor. O problema é que até Lênin afirmava a necessidade de operar no quadro parlamentar. Se o movimento socialista não se rearticular numa ofensiva de foco extraparlamentar, o quadro não se alterará. Dai sua crítica à instituição “partido”.

14 - Pra mim isso é bem claro, mas parece que há quem ignore: “Ou o socialismo se afirma universalmente, de forma a abranger todas essas áreas, incluindo as regiões capitalistas mais avançadas do globo, ou ele não vencerá”.

15 - A revista faz uma ponderação de como operários dos EUA poderão se solidarizar com a causa operária mundial já que seus rendimentos são tão mais elevados (a revista afirma que isso se deve em parte aos rendimentos dos trabalhadores de outras nacionalidades serem rebaixados). Mészáros não chega a se aprofundar nisso não.

16 - A entrevista acaba na página 9. Depois há textos de Florestan e outros autores, os quais li dinamicamente e sem compromisso com fichamento. Alguns trechos são interessantes…

17 - As guerras exigem muito das massas, degradam suas condições de vida, provocam um crescimento "desmesurado" e brusco da base "proletária e popular" do Exército burguês e podem dividir e desmoralizar as classes dominantes. Os Estados Unidos, potência capitalista cujo território nunca foi palco de conflito bélico interimperialista, jamais estiveram ameaçados por um movimento operário socialista revolucionário

18 - Um dos textos observa que a construção do socialismo na Rússia (que dependeria da vitória da revolução nas potências européias) era tão difícil quanto era fácil a tomado do poder: “A tomada do poder era mais fácil pela fragilidade maior das condições de dominação do Estado tzarista, que havia tomado a Rússia atrasada no elo mais frágil da cadeia de dominação mundial do imperialismo, ao acoplar um meio social atrasado com as tentativas de se tomar um Estado imperialista, sentado à mesa com as potências européias que repartiam o mundo entre si. A excessiva pressão sobre a sociedade produzia aquela fragilidade, que a guerra se encarregou de materializar mediante a incorporação maciça de operários e camponeses às armas e ao fronte de guerra irmanados.

19 - Observo um pouco de semelhança com uma causa parcial do colapso da URSS, qual seja, a tentativa de competir com uma potência imperialista, o que é muito custoso ainda que não se exerça o avanço “imperialista”.

20 - Emir Sader observa que o aparente sucesso da URSS (consolidação da tomado do poder e crescimento econômico em contexto de Grande Depressão) teve consequências gigantescas para a esquerda mundial: “Como posteriormente teorizaram dirigentes da Revolução Cubana, o papel do "campo socialista" deveria ser o de propiciar a acumulação socialista primitiva para as novas revoluções.”


Introdução à Meszaros:

21 – É outra entrevista. Agora para promover o “PAC”.

22 - “Deixei a Hungria em 1956, após a repressão militar soviética ao levante popular. É certo que eu já era crítico do stalinismo antes disso, em pontos centrais como a prática autoritária do planejamento e a questão nacional. Entretanto foi em outubro/novembro de 1956 que me convenci de que um sistema que promete "desestalinização" e que então aplica as mais brutais medidas stalinistas como a liderança soviética o fez na Hungria é sobremaneira incapaz de renovação interna.”

23 - O surgimento do desemprego crônico, um resultado que transforma o que Marx chamava de "exército industrial de reserva" em humanidade supérflua e condenada à condição de precarização desumanizadora, à mercê de leis autoritárias mesmo em democracias liberais tradicionais.

24 - O problema é, de fato, que, sob o capital, um corpo separado controla a extração e alocação de trabalho excedente, e não o que Marx chamou de "livre associação de produtores".


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