Marxistas - Textos Diversos XIV - Gramsci Versus Reformismo (Chris Harman)

 (continuação...)

197 - Segundo Harman, Lenin e Trotski defenderam no Terceiro Congresso da III Internacional Comunista em 1921, sobre a base da experiência dos bolcheviques russos, a formação de frentes únicas com partidos reformistas, para conquistar a maioria da classe operária para o comunismo. Eles lutaram duramente contra a ultra-esquerdista `teoria da ofensiva', muito em voga então, particularmente no Partido Comunista da Alemanha - a visão de que os Partidos Comunistas podiam simplesmente lançar-se ao assalto para a tomada do poder, sem o apoio da maioria da classe, através de repetidas aventuras insurrecionais.

198 - A tática da frente única tornava Grasmci um reformista? Para Harman, não, pois o italiano definia a frente como uma "atividade política (manobra) cuja finalidade é desmascarar os pretensos partidos e grupos proletários e revolucionários que têm uma base de massa".

199 - A luta ideológica pela hegemonia (nem foi Gramsci quem inventou esse termo) não era a única. Era, decreta forma, um apoio essencial à luta principal. Era precisamente por causa desse atraso da ideologia em relação à economia que a intervenção do partido revolucionário nas lutas econômicas dos trabalhadores era necessária, para arrancá-los da influência reformista.

200 - Sobre o movimento de Turim (1919-1920) observou: Essa unidade entre 'espontaneidade' e 'direção consciente', de 'disciplina', é precisamente a ação política real das classes subalternas.

201 - Guerra de posição não é tudo. Quando a sociedade é complexa, Gramsci diz, num trecho, que a 'guerra de movimento' cumpre "mais uma função tática do que uma função estratégica". Ainda assim… uma função. Ou seja, a maior parte do tempo os revolucionários estão engajados na luta ideológica, usando a tática da frente única em lutas parciais para arrebatar a direção das mãos dos reformistas. A insurreição armada ainda era, em Gramsci, o momento decisivo das lutas, porém, só triunfará com o apoio da maioria dos trabalhadores.

202 - Numa certa altura dos Cadernos, Gramsci situa a transição da 'guerra de posição' política no período após 1871; noutro lugar, porém, ela é deslocada para o período pós-estabilização da economia capitalista mundial, no começo dos anos 20. Essa confusão sobre o momento de transição é importante, porque deixa por resolver a questão se a 'guerra de posição' é uma estratégia eterna ou uma estratégia apropriada apenas em certos períodos.

203 - Assim Harman interpreta a revolução russa, após os fracassos dos levantes do século XIX contra os czares (um deles foi assassinado até): A derrubada da autocracia exigiu uma prolongada 'guerra de posição' - dez anos de círculos de discussão marxista e outros dez anos de agitação 'economicista', antes do partido de massas poder surgir em 1905, e depois mais 12 anos de recuperação de forças. Essa 'guerra de posição' foi necessária para preparar o terreno para a 'guerra de movimento' em 1905-1906 e 1917.

204 - … Em fevereiro Lênin teria sido surpreendido pela pujança das massas. A grandeza de Lenin reside na sua habilidade em compreender exatamente quando se deve fazer a mudança estratégica da 'guerra de posição' para a 'guerra de movimento'.

205 - É interessante lembrar que a metáfora de 'guerra de posição e de movimento' foi empregada por Kautsky, em termos muito próximos aos de Gramsci, contra os ataques desferidos por Rosa Luxemburgo à direção reformista do SPD em 1912.

206 - Harman crê que desde o pós-guerra a sociedade que Gramsci viu mudar mudou ainda mais. Os 'intelectuais funcionais' - os advogados, professores, padres, médicos - deixaram de desempenhar um papel chave na formação local de opinião pública. Ademais, tivemos as mudanças no mundo do trabalho. (...) o trabalho por turnos dificulta a organização de associações políticas ou culturais locais. Os meios de comunicação servem agora de intermediação direta entre o Estado e a sociedade.

207 - Gramsci e o momento da tomada dos meios de produção: Apenas naquele momento é que os trabalhadores ganharão controle das oficinas gráficas, universidades, e assim por diante, enquanto que os capitalistas puderam adquiri-los muito antes de se tornarem politicamente dominantes. Gramsci tinha necessariamente que se mostrar ambíguo neste ponto. Mas hoje essa ambigüidade oferece uma desculpa para pretensos intelectuais que querem fazer de conta que estão travando a luta de classes através de uma 'prática teórica', 'uma luta pela hegemonia intelectual' quando de fato, eles não fazem senão avançar suas próprias carreiras acadêmicas. Ele não podia escrever abertamente sobre insurreição armada.

208 - No início, na polêmica de 1925, Gramsci apoiou Stálin-Bukharin. O “socialismo em um só país” seria uma posição internacional a ser defendida provisoriamente, digamos. Porém, deixou claro que se durasse muito (essa tática defensiva) ia dar merda...

209 - Em 1925: Nessa época, futuros trotskistas de destaque, tão variados como Andres Nin e James P. Cannon, ainda apoiavam Stalin contra Trotski.

210 - Erros de Gramsci, talvez por não dar a devida dimensão aos condicionamentos da economia: em 1925 ele pensava que o fascismo estava à beira da ruína. Mas nos Cadernos do Cárcere, poucos anos depois, ele falou como se o fascismo tivesse uma longa vida pela frente.

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