Marxistas - Textos Diversos XXIV - Marx, A Tradição Liberal e o Conceito de Homem (Losurdo)

 

Domenico Losurdo - Marx, A Tradição Liberal e o Conceito de Homem:

338 - Benjamin Constant sobre o trabalhador: "Os proprietários são donos de sua existência, porque podem negar-lhe trabalho".

339 - "Libertar-se da necessidade", tal como formulado por Roosevelt, resulta tão intolerável para Tocqueville quanto para Hayek, pois efetivamente remete a uma tradição política diferente ... (na França, remete a Rousseau e ao jacobinismo; na Alemanha, a Hegel, que foi o primeiro a falar em "direitos materiais", e sobretudo a Marx, que reúne e unifica em si a herança da filosofia clássica alemã e a do filão rousseauniano-jacobino).

340 - Mesmo Rawls diz que a liberdade e sua primazia dependem de um nível de renda mínimo. A Constituição da Itália e a ONU pensam parecido.

341 - Karl Popper em “A sociedade aberta e seus inimigos”: Nessas condições, a liberdade econômica ilimitada pode ser tão autodestrutiva quanto a liberdade física ilimitada, e o poder econômico pode ser quase tão perigoso quanto a violência física, pois os que dispõem de rendimentos em excesso podem coagir os que deles carecem, sem usar de violência, a uma servidão "livremente" aceita. (Por isso que Marx fala em “escravidão assalariada”, caro Popper)

342 - Popper considerava o marxismo obsoleto inclusive porque já existia forte taxação progressiva no “Ocidente” para ajudar os mais pobres. Como se Hayek e outros não quisessem acabar com isso…

343 - Direitos sociais e cidadania como direito à renda digna… Tudo socialismo, para Hayek.

344 - "A felicidade à qual o homem está destinado é apenas aquela proporcionada por sua própria força", isto é, sua capacidade – assim se exprimia Wilhelm Von Humboldt já em fins do século XVIII, numa Alemanha fundamentalmente ainda aquém do capitalismo. Por essas e outras que Spencer tinha frases que, no fundo, significavam “que morram os pobres”.

345 - Tocqueville enxergava a revolução de 1848 como “socialismo”, pois queria a intromissão do Estado no mundo da indústria, limitando, por exemplo, a jornada em doze horas.

346 - Tradição liberal contra todo tipo de discriminação? “até recentemente, a legislação de alguns Estados do Sul ainda proibia matrimônios inter-raciais.

347 - Mas Hayek insiste em sua hagiografia: "o liberalismo clássico apoiara as reivindicações de "liberdade de associação". Na realidade, a polêmica anti-sindical, ora mais explícita e violenta, ora em surdina e quase imperceptível, acompanha constantemente a história do pensamento liberal. De resto, para desmentir o patriarca do neoliberalismo, basta citar os autores que são, como veremos, os seus prediletos (Mandeville, Burke etc.).

348 - França: lei Le Chapelier, que proibia as associações operárias, só é revogada em 1887.

349 - O voto censitário só foi começar a cair no início do século XX (não dá datas claras).

350 - Locke e Mill falavam de certos homens como mercadorias (Locke) ou raças inferiores (Mill). Losurdo defende que é o socialismo quem traz um conceito universal de homem. Hayek está “certo” em criticar certas declarações universais de direitos.

351 - Hayek diz que as multidões são como os jovens. Não deveriam poder votar.

352 - Já em Hegel encontramos a afirmação de que não somente ao escravo tratado pelo patrão como instrumento de trabalho mas também ao pobre reduzido pela fome a condições de substancial escravidão nega-se, em última análise, a qualidade de homem.

353 - Mandeville, campeão da liberdade celebrado por Hayek como opositor da intervenção estatal: Mas, na realidade, o liberal inglês desejaria regulamentar, de cima para baixo, até o tempo livre das classes inferiores, tanto que chega a propor – ele, expoente de uma moral radicalmente laica – que aos domingos "se impeça" que "os pobres tenham acesso a qualquer tipo de divertimento fora da igreja, que poderia atraí-los a ponto de fazer-lhes abandonar o recinto sagrado".

354 - Casas de trabalho obrigatório também eram defendidas por antigos liberais ídolos de Hayek.

355 - Na Inglaterra, de meados do século XVII a meados do XVIII – ressalta o grande sociólogo Tawney, expoente do Partido Trabalhista inglês –, a atitude dominante para com o "novo proletariado industrial" é tão dura "que não tem paralelo em nossa época, a não ser no comportamento dos mais abjetos colonizadores brancos para com os trabalhadores de cor."

356 - Mill: O despotismo é uma forma legítima de governo quando se trata de bárbaros, desde que seja para o progresso deles e que os meios sejam justificados por alcançar realmente tal progresso. Vários documentos da época mostram também um Tocqueville empolgadíssimo com a guerra do ópio e repressão britânica sobre a Índia. Tratava-se de tutelar os bárbaros.

357 - Tocqueville alerta a França para que evite deixar surgir entre os árabes a ilusão ou pretensão de que possam ser tratados "como se fossem nossos cidadãos e nossos iguais".

358 - Churchill e outros tinham ideias de esterilização obrigatória da raça dos vagabundos, ociosos e afins…

359 - Malthus não se compadecia da fome e misérias das crianças. Fazia parte do governo moral deste mundo que os infortúnios (pecados) dos pais recaíssem sobre os filhos, os quais não têm direito de reivindicação perante à sociedade...

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