Marxistas - Textos Diversos VIII - Capitalismo e Escravidão (Eric Williams)
Capitalismo e Escravidão:
113 - Livro de 1944 de Eric Williams. Aqui é o capítulo I dele - As Origens da Escravidão Negra.
114 - A arbitragem papal não agradou a Portugal, que, no ano seguinte, conseguiu da Espanha o “Tratado de Tordesilhas”. Obviamente, todos os outros países europeus com pretensões de ocupação se opuseram a qualquer direito papal em dividir o mundo e reclamaram seu lugar ao sol.
115 - As possessões coloniais britânicas até 1776 podem ser, de um modo geral, divididas em dois tipos. O primeiro é a economia auto-suficiente e diversificada dos pequenos agricultores, "meros esgaravatadores da terra", como Gibbon Wakefield os chamou zombeteiramente; vivendo num solo em que, como o Canadá foi descrito em 1840, "não era uma loteria, com alguns prêmios exorbitantes e um grande número de bilhetes brancos, mas um investimento seguro e certo". O segundo tipo é a colônia que tem facilidades para a produção de artigos primários em grande escala para um mercado de exportação. Na primeira categoria, enquadravam-se as colônias setentrionais do continente americano; na segunda, as colônias produtoras de fumo do continente e as ilhas produtoras de cana-de-açúcar do mar das Antilhas. Enfim, não havia espaço para o trabalho livre, pois este - de pequena escala - seria destinado ao fracasso. Nas colônias deste último tipo, como Merivale frisou, a terra e o capital eram inúteis a não ser que o trabalho pudesse ser controlado.
116 - A historinha do Sr. Peel diz mais sobre o capitalismo que quase tudo que conheço: “Conta-se freqüentemente a história do grande capitalista inglês, Sir Peel, que levou 50.000 libras esterlinas e trezentos trabalhadores consigo para a colônia Swan River (Rio Swan) na Austrália. (...) Chegando à Austrália, porém, onde a terra era abundante demasiadamente abundante, os trabalhadores preferiram labutar para si mesmos como pequenos proprietários, em vez de para o capitalista, por salário. A Austrália não era a Inglaterra e o capitalista ficou sem um serviçal para fazer-lhe a cama eu trazer-lhe água.”
117 - O trabalho do homem livre é mais produtivo que o do escravo, o qual tem na vida o único interesse de se poupar ao máximo. Isso não precisava nem Adam Smith dizer, pois os proprietários já sabiam. Porém, essa regra vale para comparações em condições iguais - tempo, lugar, trabalho e solo.
118 - … No cultivo de produtos como cana-de-açúcar, algodão e tabaco, onde o custo da produção é apreciavelmente reduzido, em unidades maiores, o dono de escravos, com sua produção em grande escala e sua turma de escravos organizada, pode fazer uso mais proveitoso da terra do que o pequeno agricultor ou proprietário lavrador. Para tais produtos agrícolas, os lucros enormes podem bem suportar a despesa maior proporcionada pelo trabalho escravo ineficiente.
119 - ...O ideal mesmo seria uma grande empresa capitalista, mas (e aqui cabe lembrar do sr. Peel) como convencer milhares de trabalhadores livres a se associarem a tal empreitada em terras desconhecida onde poderiam simplesmente ocupar outras terras e produzirem, inclusive de forma associada se quisessem e houvesse esse “espírito/ideia”? .
120 - Quando não se pode conseguir trabalho livre a baixo custo, vai a escravidão mesmo. E enquanto há terra abundante (para o nível populacional), a ser adquirida inclusive a custo zero, um trabalhador livre cobrará caro para trabalhar para um capitalista.
121 - Escravidão também tende a esgotar o solo. Como Jefferson escreveu a respeito da Virgínia, "podemos comprar um acre de terra nova mais barato do que nos custaria adubar um acre velho". Em condições tais, não há incentivo para que se busque meios de preservação do solo, como a rotação de culturas.
122 - … Assim, conquistas de solos novos era essencial. Meio que uma corrida por eles. Afinal, eram os mais lucrativos. Deixa (ou vende) os “solos de segunda mão” para os menos gananciosos.
123 - Os índios sucumbiram rapidamente ao trabalho excessivo deles exigido, à alimentação insuficiente, às doenças do homem branco, à sua incapacidade de ajustar-se ao novo modo de vida. Acostumados a uma vida de liberdade, sua constituição e seu temperamento não se adaptavam aos rigores da escravidão das plantações. Como escreveu Fernando Ortíz: "Submeter o índio às minas, a seu trabalho monótono, insano e severo, sem sentido tribal, sem ritual religioso, era como tirar-lhe o significado de sua vida. Era escravizar não somente seus músculos, mas também seu espírito coletivo."
124 - O racismo foi, assim, necessidade gerada pela necessidade de escravidão.
125 - Nas colônias da Nova Inglaterra, a escravidão dos índios não era lucrativa, pois nenhuma espécie de escravidão era lucrativa ali porque era imprópria para a agricultura diversificada dessas colônias.
126 - Onde se precisou de escravo, foi notado que os negros eram mais fortes e robustos.
127 - Outra política habitual foi a emigração do banco pobre, quase que num contrato de servidão. Num documento oficial entregue a Jaime I, em 1606. Bacon salientou que pela emigração a Inglaterra ganharia "uma dupla . conveniência na remoção de pessoas daqui e em fazer uso delas lá".
128 - Em 1683, serviçais brancos representavam um sexto da população da Virgínia. Dois terços dos imigrantes da Pensilvânia durante o século XVIII eram serviçais brancos; em quatro anos, 25.000 chegaram à Filadélfia. Estima-se que mais de um quarto de um milhão de pessoas eram dessa classe durante o período colonial e que elas provavelmente constituíam metade dos imigrantes ingleses, a maioria indo para as colônias centrais.
129 - Muita gente era, porém, enganada com promessas para emigrar. Espécies de raptos mediante fraude. A deportação também era uma pena muito usada para vários delitos, alguns até pequenos. Também a intolerância religiosa fornecia os trabalhadores do novo mundo. Porém, o motivo real para a febre de emigração residia nas condições políticas e econômicas adversas. O trabalho deles acabava sendo útil aos primeiros momentos das colônias.
130 - Mas as condições mesmo para os passageiros livres não eram muito melhores naqueles tempos, e o comentário de uma senhora da nobreza, descrevendo uma viagem da Escócia para as Índias Ocidentais num navio cheio de servos sob contrato, deve, eliminar qualquer idéia de que os horrores do navio de escravos devem ser atribuídos ao fato de que as vítimas eram negros. "É quase impossível acreditar", escreve eia. "que a natureza humana pudesse ser tão depravada, a ponto de tratar criaturas semelhantes a nós de tal maneira por um ganho tão pequeno."
(continua...)
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