Marxistas - Textos Diversos XIII - Gramsci Versus Reformismo (Chris Harman)
(continuação...)
187 - A esquerda italiana durante a primeira guerra via a consciência de classe como algo a ser dado pelo partido ao povo. Para o grupo de Bordiga, por exemplo, os sovietes só seriam formados após a tomada do poder em nome da classe pelo partido. Gramsci pensava diferente. Para ele, como para Lenin e Trotski, o soviete não era uma abstração a ser criada pelo partido no momento certo, mas algo nascido como um órgão da luta dos trabalhadores na fábrica, iniciando-se, eventualmente, em torno de alguma questão aparentemente insignificante - por exemplo, a ocupação semiinsurrecional de setembro de 1920 foi deflagrada pelo colapso das negociações entre o sindicato e os patrões sobre o acordo salarial nacional dos metalúrgicos.
188 - … O soviete seria, ainda, uma organização que unisse suas lutas com as dos outros trabalhadores vinculados a eles no processo produtivo, uma organização que expressasse sua crescente consciência de unidade, força e capacidade de controlar a produção.
189 - O jornal de Gramsci em 1920: seus artigos não eram estruturas frias e intelectuais, mas brotavam de nossas discussões com os melhores operários; elaboravam os verdadeiros sentimentos, metas e paixões da classe operária de Turim, os quais nós mesmos tínhamos provocado e posto a prova. Porque seus artigos eram, praticamente, um "tomar nota" dos eventos reais, vistos como momentos de um processo de libertação interior e de auto-expressão por parte da classe operária. Daí o porquê dos trabalhadores terem adorado L'Ordine Nuovo (...)."
190 - Interessante: os indivíduos revolucionários e o jornal revolucionário devem agir, para se valerem dos elementos embrionários de organização e consciência comunistas, na medida em que esses elementos surjam espontaneamente, para generalizá-los e articulá-los, para fazer os trabalhadores conscientes deles.
191 - Assim, construir o partido, em Gramsci não é inculcar ideias nos trabalhadores nem esperar estes agirem na crise econômica para poder dirigi-los. Trata-se de “relacionar-se com toda e qualquer luta espontânea, parcial, e tentar generalizá-la”.
192 - Educação em Gramsci é comparação de práticas que podem potencializar a ação/estratégia do proletariado. Não é um processo de décadas para formar maiorias parlamentares.
193 - Em Gramsci, o sindicato tem um caráter essencialmente competitivo, não comunista. Ele não pode ser o instrumento para uma renovação radical da sociedade. A direção sindical virou uma casta contrarrevolucionária. Para Gramsci, a derrota de 1920, que preparou o caminho para o golpe de Mussolini em 1922, tinha a ver com a omissão de Serrati, Bordiga e Tasca, ao deixarem de oferecer tal direção aos movimentos espontâneos de operários e camponeses. Em 1930, tornou a alertar para o perigo de não darem valor a esses movimentos espontâneos.
194 - Em Gramsci, o aparelho repressivo do Estado é apenas uma entre as muitas defesas da sociedade capitalista. Logo, a luta por hegemonia exige longos anos e paciência. Só pode tomar o poder estatal após se tornar a classe hegemônica.
195 - É interessante lembrar a definição de “guerra de posição”: A guerra de posição, uma luta prolongada em que os dois exércitos em batalha chegam a um impasse, cada um deles quase incapaz de avançar, como nas guerras de trincheira de 1914-18.
196 - Os tempos não eram mais os mesmos de Marx. A fórmula da revolução permanente "pertence a um período histórico no qual os grandes partidos políticos de massa e os grandes sindicatos econômicos ainda não existiam, e a sociedade estava ainda, por assim dizer, num estado de fluidez em muitos aspectos... No período após 1870... as relações organizacionais internas e internacionais do Estado tornaram-se mais complexas e imponentes”.
(continua...)
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