Marxistas - Textos Diversos IX - Capitalismo e Escravidão (Eric Williams)

 (continuação...)

131 - O velho judiciário… “Na deportação dos criminosos, uma hierarquia inteira, desde secretários da Corte e juizes solenes até os diretores de prisão e carcereiros, insistia em ter uma parcela nos lucros.” O povo é quem repudiava essa quase escravização dos “irmãos ingleses”, mas as autoridades não o faziam.

132 - … Os negociantes e juízes tinham o hábito de forçar a lei para aumentar o número de criminosos que poderiam ser deportados para as plantações de cana-de-açúcar que possuíam nas índias Ocidentais. Aterrorizavam os pequenos transgressores com a perspectiva de enforcamento e depois os induziam a solicitar deportação.

133 - Ao que entendi, em 1630 as coisas começaram a mudar. Para a população excedente necessária para povoar as colônias do Novo Mundo, os ingleses haviam recorrido à África e, em 1630, eles já tinham provas categóricas, em Barbados, do que o africano satisfazia melhor as necessidades de produção do que o europeu. (...) A situação desses trabalhadores tornou-se gradativamente pior nas colônias de plantação. A servidão, inicialmente uma relação pessoal livre baseada no contrato voluntário por um período definido de serviço, em vez da deportação e sustento, tendia a tornar-se uma relação de propriedade que declarava o controle de extensão variada sobre os corpos e liberdade da pessoa durante o serviço como se ela fosse uma coisa." Eddis, escrevendo na véspera da Revolução, encontrou os servos gemendo "sob uma escravidão pior do que a egípcia". Pensilvânia e Maryland viram bem isso aí.

134 - Desde que tinham obrigação de servir por um período limitado, o plantador tinha menos interesse em seu bem-estar do que nos dos negros que eram trabalhadores vitalícios e, portanto, "os pertences mais úteis" de uma plantação. Eddis encontrou os negros "quase em todos os casos, em circunstâncias mais confortáveis do que o miserável europeu, sobre quem o plantador rígido exerce uma severidade inflexível".

135 - As vantagens do servo é que, após o contrato, era livre, bem como seus filhos e bens. Ademais, a co-habitação entre raças era punida com severidade. (...) Os trabalhadores livres tornavam-se pequenos proprietários rurais, estabelecidos no interior do país, uma força democrática numa sociedade de donos de grandes plantações aristocráticas, e eram os pioneiros da expansão para o oeste. Assim, o servo branco tinha expectativa de adquirir terra ao fim do seu “calvário”, já o negro, mesmo se fosse por acaso liberto, ignorando a linguagem e modos do branco não poderia se tornar proprietário, nem deixar o local em que vivia sob pena de ser preso, pelo seu fenótipo, como vagabundo ou escravo fugido.

136 - Alguns mercantilistas temiam que trabalhadores brancos livres passassem a ter aspirações de independência.

137 - Diferenças raciais tornavam mais fácil justificar e racionalizar a escravidão negra. Impor a obediência, mecânica de um 'boi de arado' ou de um 'cavalo de carroça', exigir aquela resignação e aquela completa submissão moral e intelectual que tornavam possível o trabalho escravo. Finalmente, e esse era o fator decisivo, o escravo negro era mais barato. O dinheiro que custeava os serviços de um "homem branco por dez anos poderia comprar um negro para a vida toda". (...) O rapto na África não encontrava tantas dificuldades como acontecia na Inglaterra. O acúmulo financeiro anterior, com a “servidão branca” serviu para financiar a escravidão negra.

138 - Tanto a escravidão dos índios quanto a servidão dos brancos tinham que declinar ante à resistência superior, a docilidade e a capacidade de trabalho do negro. Enfim, mais barata e melhor. Não é que os brancos não pudessem funcionar como servos ou escravos, até podiam, mas sua “captura” era mais cara, além desses outros fatores que narrei nos últimos pontos. A ideia de que o branco não consegue trabalhar sob o sol tropical é contestada com vários exemplos práticos da época. A Austrália do século XX, já um país de “mão-de-obra branca”, é a prova disso

139 - Razões econômicas. Em suma, onde quer que a agricultura tropical permaneceu organizada sob a forma de pequena exploração, os brancos não somente sobreviveram, mas também ' prosperaram. Onde os brancos desapareceram, a causa não foi o clima, mas a substituição da pequena pela grande plantação, com a conseqüente exigência de um grande e sistemático suprimento de mão-de-obra.

140 - Açúcar, fumo e algodão requeriam a grande plantação e hordas de trabalhadores baratos, e a pequena plantação do trabalhador branco ex-engajado possivelmente não conseguia sobreviver. O tabaco da pequena fazenda em Barbados foi substituído pela cana-de-açúcar da grande plantação. Com isso, a terra ficou escassa e nenhuma trabalhador branco queria ir pra lá. (lembrar do Sr. Peel)

(continua ...)

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