Anarquistas - Textos Diversos XXX (John Zerzan)
John Zerzan - Anarco-Primitivismo:
547 - Propõe abolir a civilização… Não desenvolve os motivos.
John Zerzan - Dilema do Estado:
548 - Texto tá assinado como “Flávio Calazans”. Não sei porque nomeei “John Zerzan”.
549 - Sobre suposta necessidade do Estado pelo homem ser “mau”: “se todos os homens são maus e fazem o mau, quem seria eleito para governar e castigá-los de cima, um destes homens maus? Então ele fará o mau com seu poder sobre os outros!” Leis seriam escritas por “homens maus”. Esse é o dilema.
John Zerzan - Futuro Primitivo:
550 - Coloca a invenção da agricultura - e seus reis, sacerdotes e patrões - como a responsável pelos males. Homem, antes, tinha boa saúde corporal e sua vida era principalmente ócio. Cita trabalho de alguns antropólogos, sem detalhar.
551 - A cooperação e compartilhamento de alimentos eram dominantes.
552 - Cita estudo interessante sobre interação entre gêneros na pré-história para derrubar o que parece considerar ser um mito (o do macho egoísta): “O dimorfismo sexual era inicialmente muito pronunciado, incluindo tais características como caninos proeminentes ou "dentes de combate" entre os machos e caninos muito menores entre as fêmeas. O desaparecimento dos grandes caninos entre os machos aponta a tese segundo a qual a fêmea da espécie operou uma seleção a favor dos machos sociáveis, que compartilhavam mais. A maior parte dos símios atuais, na ausência da capacidade da fêmea de escolha, têm os caninos significantemente mais longos e grossos entre os machos que entre as fêmeas. (Zihiman 1981, Tanner 1981).”
553 - Os vegetais, colhidos pelas mulheres, eram a principal fonte de alimentos, logo, os homens, caçadores, não eram tão imprescindíveis assim.
554 - Muitos dizem que não havia divisão sexual do trabalho. Meio esquisita/confusa essa hipótese já que o próprio texto fala em homens caçadores e mulheres colhedoras de vegetais.
555 - Acho que o texto quer dizer que os “caçadores” só se tornaram importantes depois, lá pro fim do paleolítico. “O pouco de carne na dieta no início do Paleolítico era mais provavelmente encontrada do que particularmente caçada (Ehrenberg 1989b).” Vegetais ricos em fibra eram a base.
556 - Adrienne Zihiman (1981), chegou à conclusão de que "a caçada apareceu relativamente tarde na evolução”, e "não existia antes dos últimos 100.000 anos". E há muitos (e.i Strauss 1986, Trinkhaus 1986) pesquisadores que não vêem evidências de caçadas consideráveis de grandes mamíferos antes de uma data ainda mais próxima, ao final do Paleolítico superior, justo antes da aparição da agricultura.
557 - Quase dois milhões de anos atrás (1,75 na verdade): “Apesar de que o volume do cérebro não corresponde com a capacidade intelectual, o volume craniano do Homo erectus é neste ponto similar ao dos homens modernos do mesmo gênero, e "deve ter sido capaz de muitos dos mesmos comportamentos". Muitos apontam que o cerébro dele - e dos Neandertais - era até maior! Outros estudos dizem ainda que não havia diferenças anatômicas significativas entre “erectus” e “sapiens”. É como se fossem da mesma espécie. O “sapiens” tem meio que 300 mil anos.
558 - Ainda há milhão de anos: “segundo sinais de corte sobre ossadas, os homens se serviam dos tendões e peles arrancadas dos cadáveres de animais para confeccionar cordas, sacos e tapetes (Gowlett 1984). Outros elementos fazem pensar que as peles serviam para cobrir as paredes das cavernas e de assentos na gruta, e camas de alga marinha”. O fogo também já era dominado (tem dois milhões de anos). “Thomas Wynn (1985) estima que a fabricação do machado acheliano exige "um grau de inteligência, característico de adultos completamente modernos". Gowlett, assim como Wynn, examina o "pensamento operacional" necessário no uso do martelo, da partilha de força ao escolher o ângulo de batimento apropriado, segundo uma seqüência ordenada e com a flexibilidade necessária para modificar o processo.” Concentração, planejamento e manipulação...
559 - O problema do paleolítico é que a evolução dos instrumentos foi muito lenta. Dois milhões de anos. Que inteligência é essa? Por isso que pensavam não serem seres comparáveis aos “sapiens”. Zerzan acha que a “não-evolução” era proposital. Recusa da divisão do trabalho. Mais lá na frente do texto, ele explica que “O fim do modo de vida dos caçadores-coletores implicou um declínio do tamanho, da estatura e da robustez do esqueleto (Cohen e Armelagos 1981, Harris e Ross 1981), e a introdução da cárie dental, as carências alimentarias e as doenças infecciosas (Larsen 1982, Bujkstra 1976ª, Cohen 1981). "Em conjunto... uma diminuição da qualidade -e seguramente da duração - da vida humana", concluem Cohen e Aremelagos (1981)”.
560 - A tese é de que existia a inteligência para gerar, por exemplo, evolução tecnológica e mesmo linguagem falada, mas não era usada pra isso.
561 - Existem numerosos casos (Lecours e Joanette 1980, Levine et al. 1982), de enfermos que tendo perdido, depois de um acidente ou de outra degradação do cérebro, a fala, incluindo a capacidade de falar silenciosamente com si próprio, são de fato capazes de pensamentos coerentes de todas as maneiras. Estes dados nos sugerem de que a "aptidão intelectual humana é de um empuxo extraordinário, inclusive em ausência de linguagem" (Donald 1991).
562 - No final do paleolítico superior, “faz 15.000 anos, começa a se observar no Oriente Médio uma coleta especializada de plantas, e uma caça também mais especializada”, observou Gowlett (1984).
563 - As porcelanas rituais de “Vênus” datam 25.000 anos, e parecem ser um exemplo das primeiras aproximações simbólicas da mulher com finalidades de representação e de dominação (Hodder 1990). Mais concretamente ainda, a submissão da natureza selvagem se manifesta nesta época nas primeiras caças sistemáticas dos grandes mamíferos; atividade da que o ritual é parte integrante (Hammond 1974, Frison 1986). (...) A auto-domesticação pela linguagem, pelo ritual e pela arte inspirou a dominação de animais e plantas que lhe seguem. A agricultura tem dez mil anos.
564 - Como prova de que tudo pode ser uma escolha, cita a existência, ainda hoje, de coletores-caçadores, como os pigmeus Mbuti: “um modo de vida onde a terra, o alojamento e a alimentação são gratuitos, e onde não há dirigentes, nem patronos, nem políticos, nem crime organizado, nem impostos, nem leis. Acrescente a isto os benefícios de pertencer a uma sociedade onde tudo se reparte, onde não há ricos nem pobres e onde o bem-estar não significa a acumulação de bens materiais". Os Mbuti nunca domesticaram animais nem cultivaram vegetais.” Cita ainda que os “bosquimanos”, caçadores-coletores, vivem melhor que seus vizinhos agricultores no Kalahari.
565 - Considera que essas poucas populações do tipo nos dia de hoje são a parcela da humanidade com mais tempo livre na Terra.
566 - (Fico me perguntando se há bosques e vegetações suficientes para que fôssemos todos, 7 bilhões, caçadores-coletores… Sem agricultura… A resposta me parece um claro não. Que Zerzan quer?)
567 - Os Mbuti acreditam (Turnbull 1976) que "por um cumprimento correto do presente, o passado e o futuro se cuidarão por si sós". Os povos primitivos não têm necessidade de recordações e não dão, geralmente, nenhuma importância aos aniversários nem à contagem da idade (Cipriani 1966). Quanto ao futuro, eles têm tão pouco desejo de dominar o que ainda não existe como de dominar a natureza.
568 - A dieta geral dos caçadores coletores é melhor do que dos agricultores, a desnutrição é muito rara e seu estado geral de saúde é geralmente superior, com menos doenças crônicas (Lee and Devore, Ackerman 1990).
569 - Cita literaturas sobre diversas habilidade sensoriais inimagináveis e difíceis de entender de bosquimanos e o povo San. Visão; audição; percepção de espaço; resistência a temperaturas extremas; elasticidade da pele etc.
570 - A generosidade parece ser algo extremamente apreciado entre eles: Rohrlich-Leavitt (1976) notou que "os dados dos que dispomos mostram que geralmente os caçadores-coletores não procuram delimitar um território próprio e bilocal [8]; rejeitam agressão coletiva e recusam a competição; repartem livremente os recursos; apreciam o igualitarismo e a autonomia pessoal no quadro da cooperação de grupo e são indulgentes e carinhosos com as crianças". Sobre a autonomia, até os país evitam podar os filhos.
571 - Já os agricultores Bantu, não tão longes, valorizam aristocracia, hierarquia e trabalho. Para Zerzan, isso é fruto da domesticação. Domínio da natureza leva a isso.
572 - Em muitas regiões de povos caçadores-coletores, se notou que os animais não se assustavam com a presença humana. Turnbull (1965) observou os Mbuti que caçam sem qualquer espírito agressivo, e até é executado com uma espécie de desgosto. Hewitt (1986) notou laços de simpatia que unem caçador e caça entre os Bosquímanos Xan que contatou no século XIX.
573 - Enfim, povos, em geral, de natureza bem tranquila e que repudiavam a violência.
574 - Muitos parecem ser da “tese” de que os xamãs foram essenciais para convencer os homens a adotarem práticas agrícolas e divisão, inclusive sexual, do trabalho. Diziam ter contato com o divino, o que antes era um “poder compartilhado” por toda a comunidade, digamos.
575 - Alias, numerosos antropólogos constataram que nos grupos de caçadores-coletores o status das mulheres é superior que qualquer outro tipo de sociedade (e.g. Fluer- Lobban 1979, Rohrlich-Leavitt, Sykes and Weatherford 1975, Leacock 1978). Para todas as grande decisões, observa Turnbull (1970) entre os Mbuti, “os homens e as mulheres tem igual voz, a caça e a coleta são igualmente importantes”. Ele deixa claro (1981) que existe uma diferenciação sexual – provavelmente mais forte que nos seus antepassados – “mas sem nenhuma idéia de superioridade ou de subordinação”. Os homens realmente trabalham mais horas que as mulheres entre os Kung!, segundo Post e Taylor (1984).
576 - Mulheres que caçam como homens também aparecem em relatos de historiadores antigos (Roma e Finlândia).
577 - Duffy (1984) descobriu que cada criança de um acampamento Mbuti chama todos os homens de pai e todas mulheres de mãe. O sexo entre os jovens de maneira alguma é mal visto, relata(m).
578 - Brasil amazônico: “Os homens da tribo dos Munduruku, agricultores da América do Sul, referem-se às plantas e sexo na mesma frase sobre a submissão das mulheres: “Nós domesticamo-los com a banana” (Murphy e Murphy 1985).
579 - Cita os jivaros (são da América Latina) como mais um exemplo de forte dominação masculina. Vivem da agricultura, caça e pesca. Apesar de igualitários, são bastante violentos/guerreiros, às vezes mesmo entre si. “Este caráter selvagem e do medo que sentem pelos seus inimigos, fizeram dos jívaros uma das poucas tribos que sobreviveram à invasão da América do Sul pelos europeus”. Mulheres são propriedade privada lá e trabalham bastante.
580 - Os conflitos tribais, afirma Godelier (1977), são “explicáveis principalmente pela dominação colonial” e não pode ser considerado que sua origem reside “no funcionamento das estruturas pré-coloniais”. É certo que o contato com a civilização pode tido um efeito degenerativo, mas pode supor-se que o marxismo de Godelier (a saber, de sua má vontade na questão da relação entre domesticação e produção) é, sob suspeita, relevante para tal juízo.
581 - Canibalismo? Invenção dos povos agrícolas. Como Norbeck (1961) apontou, as sociedades não-domesticadas, “culturalmente empobrecidas”, são desprovidas de canibalismo e sacrifício humano.
582 - Fronteiras territoriais? Caçadores-coletores nunca acharam/acham necessário protegê-las.
583 - Diz que os “caçadores-coletores da Costa Oeste da América do Norte”, que não se encaixam em quase nada do que foi visto até aqui, não valem. Isso pelo motivo de que cultivam tabaco e criam cachorros.
584 - O pós-modernismo nos diz que uma sociedade sem relações de poder não pode ser mais que uma abstração (Foucault, 1982). Isso é uma mentira, a menos que aceitemos a morte da natureza e de tudo aquilo que foi e poderia ser de novo.
John Zerzan - O Moderno Anti-Mundo:
585 - Texto meio viajandão, ao contrário do anterior.
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