Anarquistas - Textos Diversos XXVII - A Negação do Comunismo (Stein)

 

Jeff Stein - Marxismo, A Negação do Comunismo:

499 - Texto de 1994. A introdução afirma que um pensamento hegemônico, mesmo na esquerda, não é necessariamente o mais justo ou inteligente. A psicologia das massas mostraria que essas, quaisquer que sejam, não necessariamente fazem tal julgamento em um terreno fértil e infalível. Enfim, é meio que “as ideias precisam do terreno propício e esse pode ainda não ter chegado”. Isso me lembra a ideia da máquina a vapor (ou foi de tear) que Marx citou ter sido inventada antes da Revolução Industrial, mas não adotada. (O Capital, salvo engano. Fichei).

500 - A introdução ao texto de Stein faz uma crítica à teoria do valor de Marx que, a meu ver, é puramente fruto de má interpretação. Marx não diz que o valor vem do trabalho. Diz que o valor vem do trabalho socialmente necessário. Os liberais esquecem do “necessário” e o “pré-texto-aqui” esqueceu do “socialmente”. Logo, um diamante achado no chão tem valor medido pelo trabalho social (tipo uma média) que geralmente leva a esse “achado”, não o valor de contextos individuais extremamente excepcionais (embora estes esteja incluídos, com seu devido peso, no “socialmente” referido).

501 - Critica o centralismo econômico: “Durante a revolução russa os camponeses ucranianos revolucionários trocaram produtos agrícolas por tecidos com operários, sempre tendo que se desviar dos olhos do poder centralizador bolchevique.” Stein considerava que somente quando a confiança fosse estabelecida entre as pessoas é que trocas como estas poderiam ser censuradas, ou melhor, seriam desnecessárias por serem ilógicas num sistema comunista - “...a cada qual segundo suas necessidades”.

502 - Realmente, aquele artigo de Marx em 49 e outros escritos dele (53 a um jornal) sobre a conquista imperialista - neste caso aqui me limito à famosa polêmica da tomada da Califórnia pelos EUA - anulam boa parte das críticas que a esquerda faz hoje a certos avanços da direita. Afinal, quais destes servem a lógica da marcha da história sob o signo do capital e quais não fazem? O que é inevitável, ainda que injusto (como Marx colocava que a tomada da Califórnia o era) e o que é evitável? Gostaria de ver os marxistas respondendo isso. Minha tese principal é de que de Marx não é infalível :)

503 - Stein começa seu texto afirmando que a culpa de Marx na planificação econômica centralizada do socialismo real é inegável. O Manifesto Comunista propôs aquelas medidas…

504 - Engels contra os anarquistas: “nenhuma ação conjunta de qualquer tipo é possível sem impor a alguns uma vontade exterior, isto é, uma autoridade. Se será a vontade da maioria dos votantes, de um líder de comitê, ou de um homem, ela continuará sendo uma vontade imposta aos dissidentes; mas sem esta simples vontade dirigente, nenhuma cooperação é possível. Vá e ponha para funcionar uma das grandes indústrias de Barcelona sem direção, quer dizer, sem autoridade!

505 - No Volume III do Capital Marx também deixa claro, segundo Stein, que é necessária uma vontade que comande o trabalho cooperativo. Um “diretor de orquestra”, diz.

506 - Dialética hegeliana. A é igual a A não nos diz muita coisa. A é oposto a B (já que A não é B) já nos diz alguma coisa. A superação/síntese disso gera novas oposições, gera movimento. “Hegel e seus sucessores, porém, reivindicavam que a dialética não era simplesmente um método de raciocínio, mas se manifestava ela própria na natureza. Todo movimento e mudança seria um resultado de oposição à realidade corrente”.

507 - … Assim, a realidade é feita de conflitos entre forças antagônicas. São essas contradições/conflitos internos que levarão a “novas sociedades”. Para aumentar a produtividade do capitalismo (e melhorar a vida das pessoas), viria o comunismo, superando as contradições anteriores.

508 - Crises e circulação. Explicação bem didática: “Para se comprar as mercadorias de outros é necessário vender suas próprias mercadorias para obter dinheiro. E vice-versa, para se vender é necessário comprar, e assim manter o dinheiro em circulação. Quando, por alguma razão externa ao controle individual do capitalista, a circulação diminui e pára (normalmente pelos capitalistas terem criado coletivamente uma superprodução de bens que eles não podem vender com uma taxa de lucro), o sistema é atirado na crise.”

509 - Mais-valia e ‘maldade’: “A única maneira para o capitalista sobreviver a uma crise é ter dinheiro suficiente em mão e esperá-la passar. Isto é o que leva o capitalista a acumular dinheiro e continuamente reinvesti-lo como capital para conseguir mais dinheiro. Não é uma simples questão de ganância, mas de sobrevivência.”

510 - O “valor-trabalho” vem da própria ideia de que ninguém é besta pra se deixar ser enganado na circulação de mercadorias. Alguns até são, mais isso só gera valor individual na medida em que há “perdas individuais”. Não gera mais valor na média geral, digamos assim. “Uma vez que as mercadorias devem ser trocadas por outras mercadorias de igual valor, o único lugar onde o excedente poderia ser adquirido é no processo de produção. O trabalho deve produzir mais valor em mercadorias do que lhe é pago em salários. (...) O preço da força de trabalho não é o valor criado pela força de trabalho, pois de outra forma não haveria excedente”. Não sem motivo que a luta pela jornada de trabalho é tão intensa. É uma forma de gerar mais-valia (ainda que absoluta).

511 - (Tou impressionado como este texto, antimarxista, consegue sistematizar e resumir tão bem várias ideias do “O Capital”, poderia inclusive servir como algo introdutório! Com alguns outros trechos, porém, eu não concordo ou não lembro de tê-los “visualizado” no Livro I do “Capital”, a exemplo da ideia de que a divisão do trabalho se torna cada vez mais desnecessária o que removeria a razão histórica para a existência de uma economia de troca…)

(continua...)

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