João Bernardo - Textos diversos - Parte XII

 

Comida é o Que Não Falta:

295 - Subsídios governamentais e grandes estoques mostram que a produção de alimentos seja maior inclusive que a necessária para ninguém passar fome. Como são, porém, mercadorias, muitos pobres ficam sem. Em alguns países sequer há a estrutura necessária para levar o alimento (transporte).

296 - Alguns países sem fome (Ìndia) enfrentam, porém, um quadro grava de subnutrição.

 

Socialismo da Abundância e Socialismo da Miséria (e Debate)

325 - Como eu já notei, as lutas sociais não derrubaram o capitalismo, mas levaram os patrões a aumentar a produtividade em resposta às mesmas.

326 - Obviedades que nem todo mundo percebe: "A história do capitalismo tem correspondido ao progressivo crescimento das qualificações dos trabalhadores. É isto, e não qualquer mentalidade esclarecida, que explica as medidas que tornaram obrigatório o ensino e que têm aumentado as faixas etárias cobertas por essa obrigatoriedade."

327 - Na URSS não havia nem a pressão da concorrência (JB tem ressalvas quanto a isso) nem a dos trabalhadores a fazer com que a burocracia “investisse” em vez de “consumisse”.

328 - Critica a agroecologia, pois, segundo ele, propõe produzir menos. Métodos que reduzem a produtividade.

329 - Outra coisa que pra mim é óbvia e pra 99% da esquerda não. “Numa economia lubrificada exclusivamente pelo crédito e em que, estando as relações económicas transnacionalizadas, o crédito é também transnacional, o não reconhecimento das dívidas externas existentes e a recusa a contrair dívidas novas teria como consequência imediata a paragem de uma parte da produção e a estagnação da parte restante.”

330 - Devido a sua fase “tecnocrata”, Trotsky (1917 - 1925) foi chamado por Stálin de “patriarca dos burocratas”. Defendia hierarquia nas empresas e a possível boa produtividade do trabalho forçado.

331 - Um texto meio óbvio pra quem leu o livro um do “Capital”. Há quem interprete errado tal livro, porém.

332 - Um comentador cita a importância das cooperativas de consumo no comunismo. Seriam responsáveis por “desfetichizar” as “mercadorias” (os bens). Seria a política e seu cidadão e não o mercado o que determinaria a produção. Isso também poderia proporcionar um controle ecológico maior se este for mesmo necessário.

333 - Outra frase certeira de JB: “uma sociedade que permita às pessoas terem tempo para reflectir, imaginar e construir livremente tem de ser baseada na abundância”.

334 - O “porquê” de JB (um dos, aliás) não endossar as teses ecológicas: “A história do regime senhorial é a história do avanço sobre os bosques e, tanto quanto conheço, nenhuma outra época dependeu a tal ponto de uma única matéria-prima. Tenho insistido muitas vezes numa regra que me parece fundamental: quanto menos produtiva é uma tecnologia, tanto mais destruidores são os seus efeitos colaterais relativamente à dimensão do produto obtido. Era colossal a capacidade destruidora dos pequenos povos arcaicos, embora usassem tecnologias rudimentares e mal conseguissem ultrapassar o limiar da sobrevivência. Pelo contrário, se a tecnologia capitalista pode provocar muitos efeitos colaterais nocivos, ela é igualmente capaz de tomar medidas para conter ou impedir esses efeitos colaterais.”

335 - JB crê que necessidades são criadas sempre por capitalistas, ecológicos, etc. A criação de necessidades artificiais faria parte da cultura, não sendo algo a ser criticado em si. Minha opinião é de que nem 8, nem 80, mas tou com preguiça de explicar detalhadamente. Basicamente vem do “ideias dominantes = ideias da classe dominante”, sendo assim, as necessidades artificiais (JB tem razão, não são criticáveis em si, digamos) não são exatamente neutras. Creio que seriam bem diferentes numa sociedade sem o domínio do capital. Isso não quer dizer que sei tudo que é “legítimo” ou não. Teria Ferrari? Sei lá. Se cooperativas de consumo e produtores decidirem deslocar parte da produção pra isso e sortear… Beleza. Acho mais educativo o exercício de processos decisórios com suas consequencias do que ficar proibindo produção disso ou daquilo outro.

336 - JB critica o argumento multiculturalista do “preservar as culturas” (no caso, culturas da “não-abundância”) questionando se isso implica não querer que a emancipação feminina - em certo sentido -, por exemplo, chegue a países e culturas extremamente opressoras (de gênero). Também os homossexuais ocidentais que exigem que alguns países orientais cessem suas atrocidades seriam etnocêntricos? Afirma, ainda, que culturas estão sendo sempre atualizadas, assimiladas e renovadas.

337 - Um militante do PSTU comentou que é óbvio qe o PT não vai romper com o pagamento da dívida, mas deve-se exigir mesmo assim para mostrar à classe trabalhadora, passo a passo, que seus sonhos são incompatíveis com o capitalismo. Sempre achei isso muito estranho. Segundo ele, isso é o “bê-a-bá” das táticas de esquerda.

338 - Romper com o sistema financeiro mundial significaria, para JB, teria consequências piores ainda que a mera distribuição de bens escassos organizado pela burocracia soviética. “Aliás, é pior ainda, porque a economia soviética nunca procurou isolar-se do crédito externo, bem pelo contrário, e o bureau político conseguiu sempre instalar e manter centros bancários no estrangeiro, que asseguraram aos soviéticos uma ligação ininterrupta com os circuitos financeiros.”

339 - Eduardo Tomazine trouxe comentário interessante: “Ora, uma das bandeiras mais revolucionárias da atualidade, na minha opinião, é a luta pelo controle do sistema internacional de crédito, o qual deveria estar a serviço do planejamento de uma economia controlada pelos trabalhadores através de cooperativas, conselhos e federações de conselhos de trabalhadores. Mas isto faz parte de um PROGRAMA revolucionário, e não de uma manifestação furibunda de uma esquerda incapaz de formular um projeto de sociedade, a qual se limita em reivindicar a estatização dos setores estratégicos da economia nacional.”

Comentários