João Bernardo - Textos diversos - Parte II
Um Acto Estético:
69 –Outro texto interessante, com uma carta sensacional ao reitor de
Franca protestando contra a expulsão de sete estudantes que fizeram um ato
estético considerado pela “sindicância” como “escatológico”. Alerta, na mesma,
para o perigo do autodidatismo, de pensarem fora dos limites docilizantes da
universidade. Ou seja, seria algo par ao bem da ordem dominante…
70 - Tem uma versão ampliada deste texto na mesma pasta. É a mesma
coisa, porém, com adição de trechos criticando o moralismo da esquerda que
condenou o ato.
A Actualidade das
Reflexões de Maurício Tragtenberg em Administração, Poder e Ideologia:
71 – "Os
marxistas, especialmente Lenin, interpretaram como uma antecipação do
socialismo a organização capitalista da economia promovida pelo estado-maior
alemão durante a primeira guerra mundial" Bom, isso mostra que a
centralização econômica em guerra não é um "socialismo do nazismo".
72 – A escola de relações humanas torna as empresas um aparelho
ideológico também.
73 - Obs: o livro parece interessante de ser lido. Diz JB que ele
trata em mais de vinte páginas das greves de 1960 a 1970, as “selvagens”.
74 - Nesta perspectiva, depois
de mencionar o predomínio dos livros de auto-ajuda no interior das bibliotecas
de empresa e a proliferação dos psicológos de empresa, Maurício escreveu:
«Trata-se de uma nova casta que aparece: psicocratas e tecnofrenos. Manipulado,
angustiado, inculpado, o indivíduo hoje se caracteriza por uma grande apatia
política. [...] toda preocupação do poder é fragmentar as classes sociais em
indivíduos. É o triunfo do psicológico sobre o político deliberadamente
ocultado.
75 - Afirma que esse “participar”, “colaborar”, das empresas modernas
é uma forma de fazer o trabalhador intensificar sua própria exploração. Pra mim
isso é óbvio desde os tempos do ICI ou antes. Em vez de “como posso explorar o
trabalhado?” vai-se logo pro “como você pode fazer minha empresa gerar ainda
mais lucro pra mim, ou seja, como você pode ajudar a ser mais explorado?”
76 - Coloca que para haver democracia, seja no Estado ou na empresa,
os pressupostos básicos seriam democracia direta com rotatividade nos cargos
(funções e tarefas, prefiro) e revocabilidade permanente.
77 - Elogia a obra de Sweezy para o entendimento do capitalismo na segunda
metade do século XX. Vou lembrar da dica.
A Autogestão da
Sociedade Prepara-se Na Autogestão das Lutas:
78 – “No capitalismo o Estado,
muito mais do que um conjunto de instituições, é o conjunto de princípios
organizacionais que deve presidir à estrutura interna de todas as instituições,
mesmo as que não lhe estejam directamente ligadas”. Diretores que mandam e
empregados que obedecem.
79 – “A aprendizagem ideológica
só é criativa quando ajuda a conceptualizar experiências já adquiridas ou em
vias de aquisição; e quanto mais profundamente vividas forem essas experiências
tanto mais longe se pode levar a aprendizagem ideológica. É a luta o fundamento
e o principal motor desta pedagogia, e a autonomia ou se aprende a partir de
uma base prática ou não se aprende”.
80 - Também é difícil conciliar lutas autonomistas e amplo leque de
remunerações. Deve ser reduzido ao máximo. Se ao menos fosse baseado em
diferentes necessidades...
81 - “...Gerir as empresas e a
sociedade é algo que se aprende de uma única maneira: gerindo as próprias lutas”.
Um Duplo Desafio:
82 – Vê o professor como um trabalhador produtivo, eis que é um
“trabalhador produtor de trabalhadores”.
83 - Consoante o modo como os
professores orientarem a instrução que dão aos alunos, assim contribuirão para
produzir ou um espírito de obediência ou uma capacidade de resistência. Não me
refiro aqui predominantemente ao conteúdo do que se ensina, que para esta
questão é secundário. Refiro-me sobretudo à forma como se ensina, ao
relacionamento vigente entre os professores e os alunos, ao tipo de organização
adoptado.
84 - Outra coisa que já percebi e nossa greve de 2012 foi um exemplo
disso nas suas “conquistas”: “uma das
principais preocupações da administração de uma empresa é introduzir diferenças
de níveis, de competências, de funções e de remunerações que ponham uns
trabalhadores acima dos outros e os dividam a todos, impedindo que existam como
classe”.
85 - Coloca que os professores acabam por preferir reforçar a
hierarquia e disciplina sobre os alunos, a fim de se sentirem mais confortáveis
em sua posição. De fato, JB tem razão ao dizer que um conteúdo “progressista”
de pouco ou nada adiantará. (Dá até vontade de ser professor, lendo essas
coisas)
86 - Em vez de greves, aulas especiais? Sem a disciplina… Sem a
hierarquia… Fora do sistema formal.
87 - Outra coisa pra mim óbvia, mas que JB explicou melhor ainda do
que eu tinha em minha mente, é a relação entre analfabetismo funcional (ou
qualquer “mácula” do tipo) e sistema como um todo. Não se trata de “insucesso
escolar”, afinal… : “Adestrados para
serem futuros trabalhadores numa sociedade que, tendo em conta as suas
habilitações e a sua origem social, não lhes proporcionará mais do que empregos
precários, aqueles jovens recusam-se liminarmente a desempenhar o papel que
lhes é atribuído na encenação”.
88 - Os professores, em vez de se aliarem a esse tipo de revolta e
apoiarem esses estudantes, parecem estar mais preocupados com a “indisciplina”
de tais atos.
89 - Sindicalismo e gestão capitalista. Boa parte das verbas para
investimentos de interesse econômico em vez de apoios a greves ou resistências
quaisquer. “Foi assim que, ainda no
século XIX, as burocracias social-democratas da Alemanha e da Bélgica se
alçaram aos lugares de gestão de grandes cooperativas de consumo. Este tipo de
investimentos continuou ao longo do século XX, e em alguns casos extremos, como
em Israel, por exemplo, os sindicatos passaram a deter uma porção muitíssimo
considerável da economia nacional”.
90 - Dá outros exemplos disso que já fichei em texto(s) anterior(es),
91 - Retomando o exemplo russo, dá pra ver que essa “queda do
comunismo” não mudou muita coisa não (claro, que comunismo afinal?): “Em resultado, o mesmo conjunto de
administradores de empresa e de gestores sindicais que já na época soviética
dirigia in loco cada estabelecimento económico continua agora a dirigi-los, mas
através da detenção de acções”.
92 - Coloca como um dos fatores da “peleguização” da CUT a sua
crescente necessidade de lidar com gestão de investimentos capitalistas,
primeiro com as verbas do FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador.
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