João Bernardo - As Raízes Ideológicas do Brasil Potência e a Viagem do Brasil - Parte III
(continuação...)
365 - O outro texto desse arquivo é a “viagem do brasil da periferia para o centro”. JB inicia pretendendo lembrar que mesmo que se admita que um centro capitalista exija amplas áreas “periféricas”, continua possível o deslocamento. Não haveria assim, papéis fixos. País X é do centro e país Y é da periferia.
366 - Boa descrição dos planos de JK e Jango: “Formou-se um tripé em que cabiam ao governo as grandes obras de infra-estrutura e a indústria pesada de meios de produção, cuja rentabilidade ou só era aferida pela rentabilidade que provocava no resto da economia ou só se verificava a longo prazo e, por isso, requeria avultadas mobilizações de capital; os empresários nacionais ocupavam-se do fabrico de bens de consumo básicos, que pode ocorrer com economias de escala menores; e as companhias estrangeiras instalavam filiais para o fabrico de certos meios de produção e de bens de consumo duráveis, que exigia maiores economias de escala. Em suma, o nacionalismo de Kubitschek e de Goulart recorreu à implantação de filiais de companhias transnacionais para proceder à substituição de importações, preferindo importar investimentos directos [1] do que importar produtos”
367 - JB na época das privatizações brasileiras: “com a necessidade de recorrer às instituições financeiras o carácter nacional de uma empresa nacionalizada havia-se diluído, e o que Fernando Henrique Cardoso pretendia acima de tudo com as privatizações era assegurar o acesso mais fácil dessas empresas às redes mundiais de inovação e de transferência de tecnologia, sem as quais a produtividade estagna”.
368 - Assim, considerava que o protecionismo, que tanto ajudou na fase de substituição de importações, poderia agora ser um entrave.
369 - Porém, adverte que o raciocínio é incompleto… A integração nas redes tecnológicas mundiais é uma condição necessária, mas, se não existir do lado da força de trabalho uma pressão para que os empresários aumentem a produtividade, a mundialização tecnológica pode estrangular a produtividade de um país em vez de desenvolvê-la. Por isso é que o governo pressionava pelo aumento de salário (política de valorização do salário mínimo). Melhor fazer isso de uma forma segura, via Estado, digamos assim, do que correr o risco de encarar “greve selvagem” ou algum avanço grave dos trabalhadores.
370 - Lembra que Luigi Albertini, representando do grande capital italiano na Itália fascista, já havia identificado que a concorrência e a pressão por melhorias da classe trabalhadora são igualmente importantes para o crescimento da produtividade.
371 - Internacionalização das empresas brasileiras: “Dizendo o mesmo noutra perspectiva, em 2003-2005 os investimentos directos emanados do Brasil equivaliam a 29% dos recebidos pelo Brasil, enquanto que em 2006-2008 equivaliam a 57%.”
372 - (...) as companhias transnacionais de origem brasileira têm uma produtividade bastante superior à das empresas brasileiras similares que prosseguem toda a actividade no interior do país e se limitam a exportar. «As firmas brasileiras que investem no exterior», resumiram estes três autores, «são mais agressivas em inovação e fazem inovações de nível técnico mais alto e/ou mais próximas das fronteiras científicas»
373 - Em conclusão, como se lê no Boletim SOBEET nº 50, de Setembro de 2007, para as companhias transnacionais brasileiras «não se trata apenas de obter ganhos de escala, obter acesso a matérias-primas e reduzir custos. Trata-se também de gerar valor adicionado, upgrade tecnológico e aprendizado de novas habilidades gerenciais».
374 - No texto final desse arquivo - a geopolítica das companhias transnacionais - JB menciona o decoupling. Este oporia crescimento “anêmico” dos desenvolvidos e “pujante” dos “em desenvolvimento”. Isso para a próxima década (10-20). A crise não teria afetado todo mundo, assim. Por essas e outras que eu critiquei Mészáros.
375 - Um indício forte dessa inversão de pólos seria o fluxo de investimento externo direto (IED) recebido pelas economias “em desenvolvimento”, que saltou de 17,5% em 1990 para quase 50% em 2010. Também o fluxo de IED emanado por essas economias, que era de 3% e foi pra 21%. E o destino, na maioria das vezes, são outros países “em desenvolvimento”, o que mostra ser esta a grande aposta da década.
376 - Pra mim a diferença entre o “recebido e emanado” mostra que ainda não houve inversão de pólos. Aliás, basta o abismo entre “pib per capita”, pra ver isso. Do jeito que JB escreve fica parecendo que é algo pra logo logo.
377 - (...) As fronteiras dos países definem cada vez menos os limites do pensamento e da acção das companhias». A crescente subcontratação das actividades permite às companhias ultrapassar quaisquer quadros nacionais e converterem-se em integradoras de actividades especializadas.
378 - Ora, como nos anos finais do século passado e nos primeiros anos deste século as companhias transnacionais foram responsáveis por perto de metade das despesas globais em pesquisa e desenvolvimento.
379 - Após a crise, a “participação das filiais estrangeiras no Produto Interno Bruto global atingiu o máximo histórico de 11%”. A meu ver, isso parece indicar que a internacionalização da economia ainda pode avançar bastante… Assim, uma “crise estrutural” a la Mészáros parece distante,
380 - Finalmente, segundo o World Investment Report 2009 [9], «calcula-se que as exportações efectuadas pelas filiais estrangeiras de companhias transnacionais sejam responsáveis por cerca de 1/3 das exportações mundiais totais de bens e serviços».
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