João Bernardo - Textos diversos - Parte VI


Se a Sociedade é Tão Entusiasmante, Porquê Tanta Apatia:

190 - Coloca que não vivemos uma época de nacionalismos e sim de regionalismos. Os movimentos por independência atuais (escreve em 1994) visam apenas integrar uma região mais depressa às dinâmicas do capital. É anti-protecionista portanto.

191 - JB fala de algo que sempre pensei. A imprensa trata detalhadamente da obsoleta política tradicional e nada ou pouco fala sobre os mecanismos economicos e mesmo políticos que realmente guiam o mundo.

 

Sete Reflexões Sobre a Actual Crise:

192 - Tou com ele sobre a inutilidade de uma teoria da crise, que parece ser a tônica para parte da esquerda. Concordo com a crítica inicial do texto.

193 - Guerra do Iraque: “Compare-se com a actuação dos capitalistas chineses, tanto privados como de Estado, que nos últimos anos têm conseguido uma tão grande quanto discreta penetração em África apenas pelo uso das armas económicas. O facto de os Estados Unidos não terem conseguido fazê-lo no Iraque é sintoma de uma decadência muito profunda”.

194 - Crê que a crise não é só financeira, mas do setor produtivo mesmo. “os investimentos norte-americanos em infra-estruturas materiais de comunicação e transporte atingem hoje menos de metade (2,4%) dos verificados na União Europeia (5%)”. O texto é de 2008.

195 - O que caracteriza os fluxos transnacionais de capital é a capacidade de ultrapassarem todas e quaisquer barreiras alfandegárias, privando os governos das suas armas. Quem queira compreender o b-a-bá desta questão deve lembrar-se de que, quando a administração Reagan, preocupada com o carácter altamente concorrencial dos automóveis exportados pelo Japão, impôs um forte acréscimo das tarifas aduaneiras, as empresas japonesas pura e simplesmente investiram nos Estados Unidos e começaram a fabricar lá os seus automóveis, apressando mais ainda o declínio das companhias automobilísticas norte-americanas. Creio que o que mudou de 70 pra cá é a possibilidade de fazer isso a baixos custos. Centralização das informações pela eletrônica do toyotismo e blablablá.

196 - Fala-se agora muito de "capital especulativo", aparentemente ignorando, ou esquecendo, que esse era um dos conceitos típicos da extrema-direita fascista ou fascizante durante a década de 1930. A esquerda, com toda a candura, reproduz essa terminologia e, o que é pior, essas ideias. Não há contraposição entre produção e crédito. A função do crédito é agilizar a produção, e quando ela atinge a complexidade actual os mecanismos financeiros não podem igualmente deixar de ser muito complexos e diversificados.

197 - A taxa de sindicalização que variava entre 35 e 50% antes do toyotismo, agora caiu para um dígito em alguns países avançados. É 12% nos EUA. 20% na Alemanha. Etc. Não são mais os representantes dos trabalhadores, digamos.

 

A Guerra dos Mil Anos:

198 - Desenvolvimento da Revolução Russa a partir de 1918 segundo JB: “Esta passagem do internacionalismo para o nacionalismo foi responsável pela ruptura dos bolchevistas com o outro partido governamental, os Socialistas-Revolucionários de Esquerda, e pela instauração do regime de partido único, com a consequente extinção da democracia proletária. E como a nação não é mais do que a expressão geográfica e demográfica do Estado, não custa entender que ao mesmo tempo que se desenvolvia o nacionalismo na política se desenvolvesse também o centralismo estatal na economia. As experiências de participação dos trabalhadores na gestão das empresas foram rapidamente abolidas, e em 1918 a tecnocracia recebeu de volta o controlo das indústrias e dos bancos. Foi aliás por isso que ocorreu a primeira cisão no Partido Bolchevista após a tomada do poder.”

199 - Ficaram duas lições. Não confundir mudança nas relações sociais de produção com a  ocorrida no regime jurídico de propriedade. E não reduzir o processo revolucionário ao interesse de um país ou Estado.

200 - Revolução Cultural contra a burocracia: “A ala extrema da Revolução Cultural exigia a reorganização da China segundo o modelo da Comuna de Paris e a constituição de uma federação de comunas. Para retomar o controlo, Mao teve de recorrer ao exército, que liquidou esta ultra-esquerda, e foi a partir de então que prosseguiu uma nova fase da Revolução Cultural, aquela que a memória curta dos jornalistas se limita a evocar, com as conhecidas imagens de batalhões de jovens alinhados militarmente e agitando o livrinho vermelho.”

201 - O Maio de 68 foi ao mesmo tempo a maior greve geral da história da França e uma grande rejeição dos estudantes - os futuros trabalhadores - ao sistema.

202 - Thatcher e  Reagan apenas consagraram o declínio dos sindicatos, que vinha desde a burocratização dos mesmos percebida ainda na época das “greves selvagens” (60-70).

203 - O governo norte-americano legalizou igualmente a prisão de cidadãos estrangeiros em território estrangeiro, a sua detenção sem culpa formada por prazos indefinidos e a utilização de polícias estrangeiras para procederem aos maus tratos que os agentes norte-americanos não estejam dispostos a praticar. Estabeleceu-se, em suma, a extraterritorialidade da justiça dos Estados Unidos.

204 - Indicações: A subordinação da revolução europeia aos interesses do Estado soviético é flagrante na obra de Trotsky Terrorisme et communisme. L’Anti-Kautsky (Union Générale d’Éditions, 1963). (...) O livro de Luc Boltanski e Ève Chiapello Le Nouvel esprit du capitalisme (Gallimard, 1999) contém (págs. 243-286) um estudo fascinante da implementação do toyotismo em França como forma de recuperação patronal das reivindicações e da prática de luta prosseguidas pelo movimento operário após Maio de 1968.

Comentários