João Bernardo - As Raízes Ideológicas do Brasil Potência e a Viagem do Brasil - Parte I

 

As Raízes Ideológicas do Brasil Potência e a Viagem do Brasil

340 - Gunnar Myrdal veio com um “nações proletárias (isso me lembra os fascistas italianos) de todo o mundo, uni-vos. Mário Pedrosa fez o mesmo apelo às “subdesenvolvidas”, embora admitisse a necessidade de luta contra os antagonismos internos.

341 - O que JB traz é que Enrico Corradini, entre 1908 e 1910, antes mesmo de impulsionar o fascismo, já tratava nesses termos. E, para ele, o imperialismo seria a redenção da “nação proletária”. Queria apelar inclusive aos sindicalistas revolucionários, que saíram do PS italiano por não conseguir vencer a burocracia e passaram a organizar lutas e greves, formando sua base social própria.

342 - Corradini e o fascismo neste contexto: “O dirigente nacionalista apercebera-se da fraqueza dos grupos sociais conservadores, com os quais seria impossível inaugurar um nacionalismo agressivo, e o seu génio consistiu em, a partir da direita, ter entendido a necessidade de renová-la politicamente, usando para isto o proletariado. Residiu aqui a substância mesma do fascismo.”

343 - As expedições na Líbia (1911) dividiram os revolucionários. Alguns sindicalistas revolucionários dialogaram com Corradini e apoiaram; outros organizaram, junto ao PS italiano, a greve geral contrária.

344 - Ainda voltaram a se unir na central sindical USI, de orientação anarquista e contando com cem mil colaboradores contra os trezentos mil da central socialista (outros autores invertem esses números), porém, em 1914 a cisão foi inevitável. Os sindicalistas revolucionários queriam a entrada na guerra. Abandonaram a central e criaram o “Fascio Revolucionário de Ação Internacionalista”. O primeiro de muitos.

345 - Para Mussolini, ex-membro da extrema-esquerda do PS italiano, já ativo nessa época, a revolução nacional, visando consolidação das fronteiras, era uma fase necessária à revolução internacional. O fascismo nasceu, portanto, invocando argumentos de emancipação nacional. JB observa que Engels deu brechas para isso ao, por exemplo, dizer a Kautsky, em 1882, “que o movimento socialista só se desenvolve depois de a nação se ter unificado e adquirido a independência”.

346 - Vale lembrar que o fascismo juntou também as tropas de elite e os futuristas. O Partido Nacional Fascista, porém, só surgiu em março de 1923. Mussolini realizou Corradini, segundo muitos autores.

347 - Em vários discursos o “Duce” invocava o slogan da “nação proletária”. Seria a luta dos pobres contra os ricos. Kita Ikki fazia a mesma coisa no Japão. Dizia: «Os socialistas ocidentais entram em contradição ao admitirem que o proletariado tem o direito de recorrer à luta de classes dentro do país e ao condenarem simultaneamente como militarismo e agressão a guerra travada pelas nações proletárias»

348 - Um comentador traz um fato interessante sobre o “imperialismo brasileiro”. Trata-se de um “protesto” local contra operações da Petrobrás na Nova Zelândia: “Isto não é um protesto. É um ato de defesa de nossas terras e águas ancestrais que nos sustentaram durante gerações”, disse o porta-voz maori, Rikirangi Gage.”

349 - Outro comentador lembra que essas teorias no Japão e na Itália se deveram mais às condições objetivas em que esses países se encontravam, ditando, portanto, suas necessidades, que às “ideias” de Corradini. Tudo para não cair num idealismo. Até concordo, mas, pra mim - e creio que pra JB também -, é pressuposto básico de que ideias precisam antes de terreno fértil. Certamente houve “Corradinis e ideias corradinistas”, digamos, fracassados em países diferentes - Inglaterra, talvez, por exemplo.

350 - O comentador Matheus invoca o exemplo cubano para argumentar que o apelo “antiimperialista” pode ser útil à esquerda em determinadas conjunturas.

351 - “Quanto ao anticolonialismo dos fascistas e dos nacionais-socialistas, ele não se exerceu, evidentemente, nas terras eslavas ocupadas, onde foi implantado um escravismo de Estado. O Terceiro Reich teve uma acção anticolonialista nos países árabes e no apoio à independência da Índia, onde foi central a figura de Subhas Chandra Bose. Mas a acção anticolonialista mais importante deveu-se ao fascismo nipónico. Como observou Ba Maw, sem a Esfera da Co-Prosperidade não teria havido Bandung.”

352 - Nem todo nacionalismo é fascista para JB. Fascismo é o nacionalismo que adquiriu a dinâmica do movimento operário.

353 - A segunda parte do artigo trata de como as ideias do político e economista fascista romeno Manoilescu foram influentes na CEPAL.

354 - Já em 1934, Manoilescu denunciava que o trabalho de um “ocidental” era remunerado pelo trabalho de “dez escravos” não-ocidentais. Para o romeno, não se travava, assim, de mera desigualdade de produtividade e sim de exploração. Mais. O socialismo das nações deveria substituir o ultrapassado socialismo de classes, dizia.

355 - Como, para Manoilescu, também internamente, o campo era explorado pela cidade, tornava-se imperiosa a industrialização, a fim de trazer dinâmicas com maior produtividade. Isso também implicava protecionismo à indústria nascente. O Estado, o “espaço corporativo”, ordenaria a produção, mas sem suprimir o lucro e propriedade privada. Tudo voltado para a modernização nacional. Crédito estatal. Padronização da produção. Acordos entre exportadores para que os preços não baixem muito no comércio mundial… Citava Portugal salazarista como um dos três onde essas teses já eram aplicadas.

(continua...)

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