João Bernardo - Textos diversos - Parte VIII
Marxismo e Nacionalismo (I) - O Antieslavismo de Engels e de Marx:
227 - Da alienação para a exploração: “Ao mesmo tempo, a filosofia, cujas especulações haviam sempre decorrido
no plano das elaborações intelectuais, virou-se para a acção material e passou
a ter como objecto a produção e reprodução das condições de existência,
convertendo-se em filosofia da praxis.”
228 - Cita aqueles escritos mais ocultos de Engels amaldiçoando e até
prometendo vingança contra povos (eslavos seria o pior, mas até os russos
entravam na conta) e nações contra-revolucionários. Isso porque em 1848 se
opuseram a uma revolução burguesa que imaginavasse que em nada beneficiaria um
camponês eslavo, por exemplo (é a interpretação que JB acha que Engels deveria
ter empregado). Chegava a vociferar sobre aniquilamento e terrorismo. Era uma
declaração de guerra nacional quase. Sequer usava os termos “operariado” ou
algo do tipo. Porém, não parecia ser uma análise rácica não. Era uma leitura
tragicamente nacionalista de conjuntura revolucionária.
229 - Por fim, defende a desaparição de povos reacionários inteiros…
230 - Traz ainda aquele famoso trecho de Engels em favor dos
“enérgicos ianques” contra os mexicanos. Colocando mais contexto se vê que há
realmente uma apologia - como quer a direita por sinal. Noutro trecho, louva o
expansionismo germânico na criação de uma nação compacta e unida.
231 - Já quando os eslavos pretenderam se autonomizar, Engels os
chamou de ladrões. 1876 aqui. Em 1885, Engels afirmou que não passavam de cortadores
de cabeça.
232 - Marx e Engels tinham alguns escritos tão vergonhosos que eram
censurados ou editados por uma das filhas do alemão. Mesmo Stalin os proibia.
233 - Marx escreveu numa carta
para Engels: «Eles não são eslavos, em suma, não pertencem à raça
indo-germânica, são intrusos que é necessário repelir para além do Dniepre!». O
mestre da análise social descambara na mitologia racial, chegando a conclusões
inesperadas, por exemplo numa carta endereçada a Wilhelm Liebknecht em
Fevereiro de 1878, onde não viu por detrás dos sérvios senão a sinistra mão da
Rússia e enalteceu o opressor otomano afirmando que «o camponês turco, e
portanto a massa do povo turco», era, «sem dúvida, o representante mais activo
e mais moral do campesinato da Europa».
234 - Na AIT, Marx e Engels defendiam (1870) uma guerra prévia contra
a Rússia para garantir a independência da Polônia. Isso mesmo, uma estratégia
estritamente nacionalista em tese a favor da revolução proletária.
235 - Engels e a guerra franco-prussiana: “Num texto redigido no último mês de 1887 e nos primeiros meses de 1888,
e conhecido só após a sua morte, ele mostrou-se satisfeito porque, do lado
alemão, «naquele ímpeto nacional assistimos ao desaparecimento de todas as
diferenças de classe». Nesse manuscrito Engels não dedicou uma palavra sequer
ao facto de Wilhelm Liebknecht e August Bebel, os dirigentes mais importantes
do partido marxista alemão, se terem abstido no parlamento aquando da votação
dos primeiros créditos de guerra e terem votado contra os novos créditos, nem
fez uma simples referência às moções contra a guerra adoptadas em comícios de
trabalhadores alemães, nem uma única menção ao encarceramento de numerosos
socialistas que se haviam manifestado a favor da paz.”
236 - JB conclui disso tudo que a preocupação de Marx e Engels era que
só fossem criados Estados fortes. Ou seja, só tinham direito a fazê-lo povos
com tradição estatal, a fim de viabilizá-lo política e economicamente. Enfim, o
estatismo explicaria esse nacionalismo seletivo (já que a libertação nacional
de outros povos não contava…).
237 - Em 1882. Só aí Marx acertou uma. Indagado um ano antes por uma
marxista russa se era necessário passar pelo “caminho burguês” antes, começou a
pensar no assunto. Só no ano seguinte, no
prefácio que redigiram para a nova edição russa do Manifesto Comunista, Marx e
Engels reconheceram pela primeira vez que os eslavos podiam ser
revolucionários. «A questão vital», escreveram eles, «consiste em saber se a
comunidade rural russa, apesar de estar já seriamente minada enquanto forma
arcaica de propriedade colectiva do solo, pode ser directamente transformada na
forma superior de propriedade comunista da terra ou se terá de percorrer o
mesmo processo de decomposição que mostra os seus resultados na evolução
histórica do Ocidente. Para esta questão existe hoje uma única resposta. Se a
revolução russa der o sinal para uma revolução proletária no Ocidente, de
maneira que ambas se completem uma à outra, a forma predominante de propriedade
colectiva da terra na Rússia poderá converter-se no ponto de partida de um
processo de desenvolvimento comunista».
238 - Nos comentários do texto (Passa Palavra) há um trecho em que
Bakunin criticava o claro “pangermanismo” de Marx.
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