João Bernardo - A Legitimidade Democrática do Fascismo - Parte II
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121 - Mussolini falava em “vontade de poder” para dar luz à vitalidade do fascismo. Ademais, afirmava que era necessário criar um mito não necessariamente real, para “nos” dar força e coragem.
122 - Mussolini vinha da burocratização do movimento operário e Hitler não, daí até se poder falar em três tipos de fascismo. “Tendo conseguido escapar à chacina que Hitler desencadeou na célebre noite de Junho de 1934 contra a ala radical do partido, Otto Strasser encontrou um temporário asilo em Itália, onde se queixou a Mussolini da falta de interesse do Führer pelas questões sociais. Mussolini teria comentado que Hitler, por nunca ter sido um revolucionário, não poderia agora ser um verdadeiro fascista”
123 - Hitler pensava que a questão social era nada, pois revoluções se davam era no campo da biologia, a grande luta era entre as raças superiores e inferiores.
124 - Assim Hitler era mais um racista que um nacionalista. Povos germânicos e nórdicos deveriam prevalecer. Ao leste, os eslavos seriam não exterminados, mas incluídos num “escravismo de Estado” para sustentar o capitalismo do nórdicos e germânicos. As SS objetivavam, entre outras coisas, formar “raças de chefes”.
125 - No Ocidente, portanto, a “irmandade rácica” deveria ser sentida acima das clivagens sociais. O nível de vida dos trabalhadores seriam de certa forma garantido pelo escravismo eslavo.
126 - Hitler em 1932: “Não se trata de suprimir a desigualdade entre os homens mas, pelo contário, de a amplificar e transformá-la numa lei protegida por barreiras intransponíveis, como nas grandes civilizações dos tempos antigos"
127 - Dois prêmios Nobel queriam uma “Física Ariana” contra o caráter dedutivo da física “judaica” - teoria da relatividade e mesmo a física quântica”. Infelizmente isso me lembra um pouco o exemplo do texto sobre feminismo, em proporção bem menor, é verdade. Ela foi bem mais cuidadosa.
128 - Não era tudo mero Anti-semitismo, como muitas das perseguições do passado. Tratava-se de construir uma raça superior contra as “forças da desordem”, que não aceitavam hierarquias naturais (raça e natureza eram questões caras aos nazistas), fosse judeu ou comunista - uma espécie de judeu na prática.
129 - "Todos os grandes impérios consideraram bárbaros os vizinhos, mas um bárbaro que se pusesse ao serviço da sociedade rival e demonstrasse talentos podia ascender aos mais altos postos, chegar até ao trono. Na segunda metade do século dezanove, porém, generalizou-se nos países europeus uma nova concepção e o racismo passou a ter implicações biológicas, supondo-se que a uma cultura alegadamente inferior corresponderia uma inferioridade nas capacidades cerebrais." Hoje estão voltando ao “racismo cultural”, eu diria.
130 - Darwin e os índios que agora eram chamados de preguiçosos. “É triste descobrir como os Índios cederam perante os invasores espanhois. Schirdel diz que em 1535, quando foi fundada Buenos Aires, havia aldeias com dois e três mil habitantes. Mesmo no tempo de Falconer (1750) os Índios organizavam expedições contra lugares tão distantes como Luxan, Areco e Arrecife, mas agora estão remetidos para além do Salado. Não só foram exterminadas tribos inteiras, mas os que restam tornaram-se mais selvagens; em vez de habitarem grandes aldeias e se dedicarem aos ofícios da pesca e da caça, vagueiam agora pelas planícies, sem casa ou ocupação fixa" . É uma análise especialmente interessante por mostrar que a situação das populações indígenas na época não correspondia a quaisquer características próprias, resultando de uma degradação exclusivamente provocada pelos invasores.
131 - Mais Darwin. Como surge o Estado para o mesmo? Obviamente assim: "A perfeita igualdade existente entre os indivíduos que compõem as tribos da Terra do Fogo há-de atrasar por muito tempo a sua civilização. [...] Quer se considere como uma causa, ou como uma consequência, são sempre os mais civilizados que têm as formas de governo mais artificiais. [...] Na Terra do Fogo, até que surja algum chefe com poder suficiente para se apoderar de qualquer vantagem adquirida, por exemplo os animais domesticados, não se afigura possível melhorar o estado político da região. Mesmo uma peça de tecido dada a alguém é rasgada em pedaços e distribuída; e nenhum indivíduo se torna mais rico do que outro. Por outro lado, é difícil entender como possa vir a surgir um chefe sem que haja antes algum tipo de propriedade que lhe permita manifestar a sua superioridade e aumentar o seu poder".
132 - Isso é o Darwin da primeira metade do século XIX. O da segunda metade opera com termos de raça mesmo. Tudo isso deixa de ser característica de sociedade tal para ser da raça tal. Permanece a ideia de “inferioridade”, mas essa agora passa do social para o racial.
133 - Junto com o racismo, cresceu em prestígio o sexismo.
(continua...)
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