João Bernardo - Textos diversos - Parte III


Considerações Inoportunas e Politicamente Incorrectas Acerca de Uma Questão dos Nossos Dias:

93 – Pretende associar certo tipo de feminismo a práticas nazistas. Com a direita adorando essas coisas, eu vejo a necessidade de cuidado com rotulações desnecessárias. Mas vou ler e vejo se é o caso.

94 – Começa assinalando, em verdade, profunda oposição entre as duas coisas, já que a mulher, no fascismo, era a doméstica com função procriadora.

95 - O pecado seria confundir “manifestações culturais” com “determinações biológicas”. Machismo com ter pênis, por exemplo. Afirma que esse feminismo é dominante na academia.

96 - Menciona o feminismo revolucionário avançado do período pré-Hitler, mas sem evidenciar muito bem, a meu ver, a diferença.

97 - Uma dessas desmascarou o argumento masculino de que as mulheres devem escrever literatura “sensível/emotivo” e os homens as de cunho “racional/lógico”. Não era barreira de sexo e sim demarcação transitória. Gina Kaus escreveu: «Só desde há pouco tempo foi permitida às mulheres a abordagem dos problemas da realidade. Até uma data recente, ou elas próprias faziam parte da realidade ou eram uma ficção concebida pelos homens. Tal como crianças que tenham subitamente de aprender muito de uma só vez, elas não ousam dedicar-se ao jogo. Talvez daqui a vinte anos a situação seja muito diferente, e quem sabe se na próxima geração daremos graças pelo aparecimento do que tanto necessitamos  um Edgar Wallace feminino». Agatha Christie não a deixou mentir.

98 - Ele é pirado com o dicionário politicamente correto porque parece crer que diversos grupos gastam muito de sua energia nesse tipo de coisa. Não sei se esse diagnóstico é exatamente correto, mas se for… “Trata-se de uma espécie de newspeak (Orwell, 1984) dos derrotados, que com a linguagem se envolvem numa teia de ilusões, e aí permanecem, para alívio dos vencedores e não sem a perplexidade de muita gente”.

99 - Cita o exemplo lá de Luce Irigaray que quer, talvez, atribuir caráter sexual ao E = Mc ao quadrado (velocidade seria uma categoria masculina). Também pretende fazer crer que a dinâmica dos sólidos já está mais “revelada” que a dos fluídos porque o pênis é rígido. A autora acreditaria que essas denúncias seriam formas de ajudar na emancipação feminina. JB afirma que “Se estes termos pudessem ser considerados com seriedade, seria curioso averiguar se o predomínio numérico das mulheres na biologia ou na química, contrariamente ao que sucede na física, teria levado aqueles ramos da ciência a evoluir por caminhos opostos aos da física”. Realmente a mc ao quadrado da mesma poderia ser usada de forma mais emancipatória. A não ser que ele tenha deturpado e as intenções e dizeres da mesma.

100 - “Com efeito o racismo, mais profundamente do que uma mera hierarquização étnica, consiste na atribuição de raízes biológicas a comportamentos e modos de pensar que são de origem social. A biologização da cultura é a característica distintiva do racismo.”

101 - Se o que JB quer colocar é que é muito mais a maneira que a pessoa foi “educada” (suas experiências e interações ao decorrer da vida) que vai determinar o nível de machismo da mesma e não o fato de ser homem ou mulher, eu concordo. Porém, pra mim também é claro que o biológico tem seu papel até por uma questão cultural. Se nasço homem, sou tratado como tal e, assim sendo, tendo a me beneficiar disso e ter mais dificuldade de identificar coisas que não são “naturais” e que, pra mim, aparecem como tais. É que não sei muito bem se a crítica dele vai por aí ou “nada a ver”.

102 - Chamberlain, idólogo racista de 1913, desprezava os resultados caóticos da mensuração craniana.

103 - O nazismo tornou ameaçadoras, e mais tarde trágicas, as elucubrações alucinadas e metodologicamente incriteriosas de Houston Stewart Chamberlain, já que a circularidade de argumentação entre a biologia e a ideologia foi também empregue, com as consequências conhecidas, por Hitler e pelos seus adeptos. Quando o Führer, ao discursar no congresso do partido nacional-socialista em 1933, se referiu, a propósito dos nórdicos, «àqueles que pertencem em espírito a uma certa raça» , ele deixou implícito que tanto se podia deduzir uma cultura de uma biologia como deduzir uma biologia das manifestações de uma cultura. E foi com este critério  ou falta dele  que Hitler orientou a sua política.

104 - Ministério da Propaganda Nazista sobre os judeus: "No caso dos judeus não se trata apenas da existência de um pequeno número de criminosos (como sucede em qualquer outro povo), mas todo o judaísmo se desenvolveu a partir de raízes criminais e a sua própria natureza é criminosa. Os judeus não são um povo como os outros, mas um pseudopovo cuja coesão se deve à criminalidade hereditária» . Os judeus unir-se-iam contra os seus inimigos, mas sem que eles mesmos fossem coesos."

105 - Os judeus para Hitler não eram uma raça, assim, mas uma “raça mental”. Um comportamento. Porém a biologia está presente, pois seria a “união” das escórias de outras raças. E os inimigos principais para Hitler eram dois, como discursou a seus apoiadores em 1925: “Assim, contra quem deve combater o nosso movimento? Contra o judeu enquanto pessoa e contra o marxismo enquanto causa”.

106 - Mesmo pessoas com progenitores cem por cento arianos poderiam ser tratados como judeus se se mostrassem integrados à comunidade judaica.

107 - Nos vastíssimos territórios de Leste ocupados pelas tropas do Reich e pelas dos seus aliados, os Einsatzgruppen, Comandos de Extermínio, matavam indiferenciadamente judeus e comunistas, porque consideravam qualquer comunista como judeu. (...) nem sequer a contabilização dos mortos separou as vítimas ideológicas das vítimas raciais. Na maioria dos relatórios as execuções de judeus e de membros do Partido Comunista soviético foram enumeradas em conjunto, sem que possamos discriminar as duas categorias de vítimas.

108 - Por isso Himmler, em 1942, opôs-se a qualquer tentativa de definir por decreto o que se entendia por «judeu», já que, para empregar as suas palavras, «com todos esses estúpidos compromissos estaremos unicamente a embaraçar a nossa acção».

109 - As ligações entre mesmo apenas um certo tipo de feminismo e o operações lógicas nazistas ainda me parecem discutíveis - a depender do que ele  queria mesmo dizer -, porém, na pior das hipóteses, é um bom texto pra entender melhor o nazismo.

110 - No fim do texto ele realmente dá um exemplo bom, mas seria mesmo esse feminismo o dominante na academia? Ou ele está pegando um “espantalho” pra bater?


Lá e Cá:

111 – Textinho de maio de 1992. Emigrantes e imigrantes em Portugal. “Enquanto aqueles que forem vítimas do racismo lá se revelarem racistas cá haverá quem se ria cá e lá - os patrões que nos exploram a todos.”

 

Texto de 1992:

112 – Lembra quão escroto é esse orgulho português nacionalista do “os descobridores” (até por oposição de parte dos portugueses da época a essas campanhas), mas adverte: “Mas que a crítica ao patriotismo lusíada não sirva para dar brilho aos nacionalismos terceiro-mundistas. Foram os antagonismos de classe dessas outras sociedades, ou as habituais chacinas entre os vários povos, que permitiram ao colonialismo penetrar e firmar-se. Os horrores de um dado nacionalismo são o espelho em que todos os demais nacionalismos devem olhar-se.”

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