João Bernardo - Textos diversos - Parte VII

  

Ecologia da Terra e Sangue:

205 - A física ariana (Stark etc.) tinha uma visão romântica da natureza, que tendia ao equilíbrio. Cabia ao cientista se colocar em comunhão com a mãe natureza.

206 - Afirma que não existe nem existiu equilíbrio. Os nômades e suas tecnologias toscas já causavam danos ao meio ambiente. (Não cita fontes porém). Desequilíbrios são resolvidos gerando novas contradições a serem resolvidas… E assim vai o ciclo. O tempo de harmonia com a natureza seria, assim, um mito.

207 - “Os camponeses europeus foram considerados pelos racistas como estando imemorialmente apegados a técnicas que, por comparação com as velocíssimas mutações difundidas na indústria, eram apresentadas como neutras, efectivamente não-técnicas. Criou-se assim o mito da harmonia do camponês com a natureza ou, em termos mais drásticos e exactos, da própria integração do camponês na natureza, enquanto elemento natural.”

208 - O capitalismo é o primeiro sistema que se nutre da instabilidade. Cresce e se refundamenta nas crises. Joga massas e setores no desemprego enquanto assimila outres. Por aí vai.

209 - Os fascistas, especialmente na Alemanha, ao mesmo tempo em que promoviam a industrialização a altas taxas de crescimento, criavam toda uma estética e idealização/romantização sobre a vida no meio rural, seja nas pinturas ou em outros aspectos. Tratava-se de incutir a ideologia da ordem e harmonia imutável que deveria inspirar a humanidade. A tradição.

210 - Nas décadas de 1920 e de 1930 ninguém ignorava o contexto em que era invocado o mito das raízes. Tratava-se de afirmar, contra o internacionalismo e o cosmopolitismo, a necessidade de inscrever imutavelmente as pessoas num território e num Estado, ou numa raça. O internacionalismo político dos trabalhadores era visto, não sem razão, como uma consequência perigosa decorrente da internacionalização do capital. E o capital cosmopolita era considerado, com razão também, como uma ameaça aos grupos económicos de âmbito estritamente nacional. Ambos estes processos eram denegridos pelo fascismo, e foram conceptualizados pelo racismo nacional-socialista como expressões do Judaísmo.

 

Nazismo e Natureza - BPI:

211 - Mais um texto com o mesmo tema.

212 - Metade dos médicos do Terceiro Reich eram membros do partido nazista. Parece que a eugenia gozava de muito prestígio. Essa disciplina acadêmica foi criada nos regimes democráticos mesmo, vale lembrar.

213 - Fluxo de imigrantes controlado; esterilização; incentivos aos casamentos da “raça superior”, todas medidas sugeridas e de certa forma aplicadas antes mesmo de Hitler.

214 - Em 1899, “ao ser aprovada em Haia uma convenção sobre métodos de guerra, que pretendeu abolir as formas de combate mais cruéis e mais bárbaras, o Reino Unido, embora sem assinar o acordo, reconheceu que ele tinha uma certa autoridade moral nas lutas entre brancos, mas não nas expedições coloniais contra os povos nativos”.

215 - Os eugenistas dos EUA tinham apoio de grandes fortunas e de departamentos estatais. Após as pesquisas de Mendel, perceberam que tinha que exterminar não só o “degenerado”, mas também os seus familiares, portadores de genes considerados “ruins”, mas que não se manifestavam no fenótipo. Talvez daí o porquê de o “ser negro” nos EUA seja por vezes mais abrangente. Um dos fatores. Certo é que os eugenistas estudavam como viabilizar a segregação em massa. As reservas indígenas pareciam um bom modelo.

216 - Um comitê de 1911 definiu dez grupos a serem eliminados: “os atrasados mentais, os miseráveis, os alcoólicos, os criminosos, incluindo pequenos criminosos, os epilépticos, os loucos, os fisicamente débeis, os predispostos a doenças específicas, os aleijados e, finalmente, os portadores de deficiências nos órgãos dos sentidos.” Assim, para muitos, ainda, o pauperismo tinha razão genética...

217 - E o mais notável dos oftalmologistas norte-americanos, Lucien Howe, com a ajuda de muitos dos seus colegas, prosseguiu uma incansável campanha visando a eliminação de todos aqueles que tivessem problemas de visão e dos seus familiares.

218 - Já se discutia seriamente a câmara de gás entre os eugenistas dos EUA no começo do século XX. Cuida daquelas pessoas era um desperdício de tempo alheio. Pelo menos “só” foram adotadas contra “criminosos”, porém, muitas instituições públicas da época destinadas a acolher deficientes mentais, epilépticos e tuberculosos deixavam-nos morrer na mais pura omissão (quase ação mesmo - comida infectada…).

219 - O principal método deles foi mesmo a esterelização. Mais sutil que os assustadores métodos anteriores. A suprema corte inclusive não viu nada demais na lei permitindo isso.

220 - O principal nome da eugenia dos EUA, Davenport, não queria judeus nem europeus do sudeste.

221 - "E assim como a Rockefeller Foundation contribuiu financeiramente para o movimento eugenista nos Estados Unidos, subsidiou também as pesquisas biológicas e raciais na Alemanha, continuando a fazê-lo entre 1933 e 1939."

222 - Nos primeiros anos da década de 1930 Hitler enviou uma carta elogiosa ao presidente da American Eugenics Society, Leon Whitney, e ao mesmo tempo enviou outra carta a Madison Grant, classificando como «a minha Bíblia» uma obra sua, traduzida e publicada na Alemanha em 1925, onde a primeira guerra mundial era interpretada como um conflito entre raças, em termos que influenciaram directamente a tipologia do racismo nazi.

223 - Observa André Pichot que se definirmos o nacional-socialismo como a aplicação à política de critérios procedentes da biologia, então as leis eugenistas promulgadas pelos governos democráticos não foram menos hitlerianas.

224 - Os congressos eugenistas internacionais de 34 a 36 elogiaram as políticas de Hitler de esterilização compulsória, entre outras. Os norte americanos eram os mais entusiasmados. Só com a entrada dos EUA na guerra em 1941 é que começaram a fazer críticas.

225 - As primeiras reservas naturais da Europa foram criados pelos nazistas segundo JB.

226 - JB denuncia a ecologia como modo de escamotear as relações sociais: “Atribuir à natureza um estado originário de equilíbrio e remeter para ela os postulados genéricos de todos os demais equilíbrios é procurar aí a justificação de ilusórias harmonias sociais e, portanto, é alienar da sociedade os seus modos de funcionamento. A naturalização constitui a forma suprema de reificação. A partir do momento em que um dado padrão de ordem é apresentado como natural ele torna-se eterno e indiscutível. A aceitação do mito da natureza corresponde ao triunfo absoluto da tradição.”

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