João Bernardo - Autonomia dos Trabalhadores, Estado e Mercado Mundial
Autonomia dos Trabalhadores, Estado e Mercado Mundial:
167 - Texto de 1994. Coloca que o 25 de abril português se deveu a insistência de Salazar numa guerra colonial (três, na verdade) para a qual faltava até exército. A democratização se daria de qualquer jeito, gradualmente, como na Espanha, via gestores.
168 - Os quadros da esquerda passaram a auxiliar os “generais” a governar em razão de esses não saberem como lidar com as pautas que o povo esperançoso trazia. No interior, os médicos e advogados das câmaras municípais deram lugar a esses mesmos profissionais, só que de esquerda.
169 - Na indústria a ordem dos acontecimentos era com frequência a seguinte: o patrão fugia com o dinheiro ou abandonava uma empresa que se encontrava em situação económica precária; perante o risco de ficarem desempregados, os operários tomavam conta da empresa e recomeçavam a produzir. No Alentejo e no Ribatejo os trabalhadores agrícolas procederam à ocupação colectiva de latifúndios, muitas vezes mal aproveitados, para acabar com o espectro do sub-emprego e do trabalho precário. Estes foram os casos extremos. Mas na generalidade das empresas criaram-se comissões de trabalhadores com poderes mais ou menos latos, que iam desde a condução das lutas até à influência directa na gestão.
170 - E JB coloca o que eu sempre pensei sobre experiências desse tipo (que não deixam de ser válidas porém): “Em 1974 e 1975, perante a situação de crise interna do capitalismo em Portugal, era o mercado mundial que impunha rigorosamente os critérios capitalistas de produtividade e de organização. Quanto mais directa fosse a dependência de uma empresa relativamente ao mercado mundial, tanto menos podia converter as suas relações de luta em formas novas de organização do trabalho. Neste tipo de empresas as comissões de trabalhadores eram absolutamente democráticas quanto à forma de eleição, mas os seus membros agiam como gestores capitalistas a partir do momento em que tinham necessidade de organizar o trabalho. Por isso surgiam sistematicamente conflitos entre a base e as comissões, que levavam à demissão de membros e a novas eleições. A repetição destes insucessos motivava o desânimo, o recuo da base e a crescente apatia da massa trabalhadora, o isolamento da comissão e, finalmente, a sua transformação definitiva em órgão inserido na gestão capitalista. Foi este mecanismo profundo que quebrou o ímpeto do processo revolucionário e permitiu a normalização capitalista da sociedade portuguesa.” Que significa isso? Só um ataque “internacional” pode levar a algum tipo de comunismo.
171 - Nas empresas de menor dinâmica, a coisa até funcionava.
172 - As comissões de moradores, mais longe das dinâmicas do capital, também puderam durar bem mais, porém, como sua ação destinava-se a reinvindicar ao Estado, acabava por reforçar este, ajudando a reconstitui-lo.
173 - Partidos, sindicatos e autarquias começam a crescer com a degenerescência das comissões de fábricas, impossibilitadas de competir no mercado mundial, e de moradores, vinculadas estavam a estratégia reivindicacionista.
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