João Bernardo - Lucien Laurat no País dos Espelhos (Sobre Derrocada da URSS) - Parte I

 

Lucien Laurat no País dos Espelhos (Sobre Derrocada da URSS):

297 - Crê que Rosa previu algumas das consequências negativas do leninismo. Não se alonga nisso.

298 - Como observou Edward Hallett Carr, o melhor dos historiadores da revolução russa, os bolchevistas serviram-se dos comités de fábrica para destruir a resistência económica e política da burguesia, mas atacaram-nos quando se tratou de edificar uma economia estatal.

299 - O “Conselho Supremo de Economia Nacional” em dezembro de 1917 esvaziou o poder dos comitês. Em março de 2018, esse conselho nacional já não tinha mais nada de conselho. Era mero departamento de Estado, tendo inclusive atraído gestores e ex-proprietários. E os comitês eram agora subordinados aos sindicatos.

300 - Lênin dizia expressamente que a transição era impossivel sem os especialistas.

301 - Desde abril de 1919 já existiam os campos de trabalho forçado - podia-se descontar até um quarto da remuneração nestes - e mesmo os de concentração para todo tipo de inimigo do regime.

302 - Trotsky sonhava com uma militarização do trabalho produtiva. Assim dizia: «[…] durante a fase de transição a coacção desempenha um imenso papel na organização do trabalho e, se o trabalho forçado for improdutivo, então a nossa economia está condenada. […] se a coacção for incompatível com a produtividade do trabalho, então, por mais espertos que sejamos e o quer que façamos, estaremos fatalmente votados ao declínio económico»

303 - A oposição de esquerda do partido criticava tudo isso. O trabalho escravo e o poder aos gestores.

304 - Um comentador do texto problematiza a possibilidade de dispensar esse controle/planejamento central já que, segundo o próprio Carr, alguns trabalhadores ocuparam, venderam e fecharam as fábricas após a revolução para aliviar a fome na guerra.

305 - Em fevereiro de 1922, Lênin autorizou a polícia política a atuar no interior do próprio PC, calando a oposição de esquerda.

306 - Parte do partido queria um planejamento central comandado porém por comitês de fábrica e não pelos especialistas (tecnocracia), como vinha sendo no governo Lênin.

307 - Durante a guerra civil, houve êxodos urbanos na casa dos dois dígitos nas grandes cidades (mais de 50% em algumas). Eram os operários, ex-camponeses, que voltavam para o meio rural para não passar fome. O operariado caiu de 3 milhões em 1917 para 1,2 milhões em 1921. Era a desproletarização da ditadura do proletariado, digamos.

308 - O Partido Comunista − não só Lenin e Trotsky, mas também todas as facções de oposição − esmagou em Março de 1921 a insurreição dos marinheiros de Kronstadt e da numerosa população operária dos estaleiros e oficinas dessa base naval. E logo em seguida adoptou a parte económica do programa dos insurrectos e inaugurou nesse mesmo mês a Nova Política Económica.

309 - Foi quando Trotsky proclamou que os diretores de fábricas estavam sujeitos ao controle de cima - órgãos políticos - e de baixo - nesse caso… O mercado! O “regulador da economia estatal”, disse ele.


(continua...)

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