João Bernardo - Textos diversos - Parte X

 Marxismo e Nacionalismo (III) - O Partido Comunista Alemão e a Extrema-Direita Nacionalista:


247 - Em 1923, o soviético Karl Radek (que chegou a ser o número 2 na URSS) censurava os comunistas alemães por não disputarem com a extrema direita as camadas fora do proletariado mas atingidas pela crise. O discurso era pra ser: "só a classe operária, depois de ter alcançado a vitória, conseguirá defender o território alemão, os tesouros da cultura alemã e o futuro da nação". Discurso germanista na veia…

248 - Com essa nova orientação, um jornal nazi chegou a guardar certa simpatia ao movimento comunista, pelo que entendi de um trecho entre aspas de Radek. Tratava-se de “colocar a nação em primeiro lugar”.

249 - Comentando apreciativamente este discurso, Zinoviev, que era então a figura cimeira da III Internacional, elogiou o Partido Comunista alemão pelo facto de não interpretar «o seu carácter de classe num sentido corporativista»

250 - Radek confundia comunismo e nação em muitos momentos a fim de ignorar a parcela nacional da burguesia. Com isso, visava atrair os quadros dos partidos fascistas. Chegou a discursar em homenagem a um militante de extrema-direita que podia simbolizar essa “passagem para a esquerda”, digamos, desde que eles parassem de se opor às revoltas dos operários e suas greves.

251 - Burla ao tratado de Versalhes: “as forças armadas alemãs usaram a União Soviética para fabricar armamento e proceder a exercícios”.

252 - «[…] a casta dos oficiais da Reichswehr [as forças armadas alemãs], apesar da sua hostilidade política ao comunismo, considerava necessária uma colaboração diplomática e militar com a República Soviética», explicou Trotsky mais tarde.

253 - "Os generais alemães, enquanto reprimiam o operariado e o chacinavam por ocasião das suas tentativas insurreccionias, recebiam o apoio material e logístico das autoridades soviéticas. Nada podia revelar melhor que era a geopolítica nacionalista e não a luta de classe a interessar Moscovo"

254 - Eram acordos de cooperação. A URSS ganhava em treinamento e parte do armamento.

255 - JB explica a conjuntura no partido comunista alemão após a ocupação de Ruhr em razão de garantir o cumprimento do humilhante Tratado de Versailles: E apercebemo-nos de toda a dimensão desta catastrófica degenerescência do comunismo ao sabermos que a facção que procurava o apoio da extrema-direita numa plataforma nacionalista se apresentava como alternativa «de esquerda» à orientação supostamente «de direita» que consistia em restaurar a unidade de acção do operariado através de um acordo com a social-democracia.

256 - Tanto esse partido comunista como o nazismo queriam se colocar como herdeiros do orgulho alemão ferido com a ocupação de Ruhr (1924). Paul Levi, dirigente que substituiu Rosa, colocou que era tudo farinha do mesmo saco.

257 - Em abril de 1924, a facção de Ruth Fischer, que pedia o enforcamento dos capitalistas judeus, tomou o partido num Congresso e declarou o Partido Social Democrata como o principal inimigo a ser eliminado. Enquanto isso, o nazismo se reorganizava, se bem lembro. A III Internacional corroborou para essa tese de que a socialdemocracia era agora A inimiga. Disseram que era tudo um “social-fascismo”. Em alguns países chegou a haver combates de rua entre comunistas e “socialistas”.

258 - Estratégias… "Como declarou no final de 1931 o representante da Internacional junto ao Partido Comunista alemão, «só se pode lutar contra o fascismo conduzindo uma luta mortal contra a social-democracia». Nesta perspectiva, em Agosto e Setembro de 1932, precisamente quando o Partido Nacional-Socialista obtivera um número de votos superior à soma dos votos comunistas e sociais-democratas, a 12ª reunião plenária do comité executivo da Internacional Comunista persistiu na denúncia do Partido Social-Democrata como inimigo principal." Isso seis meses antes de Hitler ascender.

259 - ... Ou seja, interpreta JB, antes o radicalismo nazi que o reformismo socialdemocrata, pois o primeiro ao menos faz avançar o capitalismo (e o avanço do capitalismo cria as condições para sua dissolução) enquanto que o segundo é engodo puro. Se opunham a ambos, mas acreditavam que o fascismo de Hitler era menos perigoso.

260 -Nem tudo era ridículo, pois muitos grupos comunistas de base inclusive desprezaram as orientações da III Internacional e se comprometeram com os sociais democratas em ações comuns contra os nazistas. A direção do partido repreendia severamente isso, porém. Mesmo em 1932.

261 - Milícias comunistas chegavam a se juntar (sem prejuízo da briga entre eles) às milícias nazis para boicotar e agredir os comícios social democratas.

262 - Compreende-se que nestas circunstâncias a organização operária do Partido Nacional-Socialista tivesse apoiado a greve dos metalúrgicos de Berlim, desencadeada pelos comunistas em Outubro de 1930, e que ao longo dos dois anos seguintes os comunistas se tivessem esforçado por atrair um movimento camponês conotado com a extrema-direita.

263 - Os deputados nazis e comunistas juntaram votos para tentar derrubar o governo conservador de Papen (que a partir de dezembro de 1932 passaria a encher o saco do presidente para colocar Hitler como chanceler e ele de vice, o que pensava ser capaz de fazer estabilizar a política...) na sessão parlamentar de 12 de setembro de 1932. “A greve dos transportes públicos de Berlim, que os comunistas iniciaram a 3 de Novembro de 1932 em oposição aos sindicatos sociais-democratas, contou com a colaboração activa dos nazis e os dois partidos organizaram piquetes comuns.

264 - Tudo isso só levou ao fortalecimento do fascismo, observou JB, e em 1934, com os nazis no poder há mais de um ano e com as prisões alemãs cheias tanto de comunistas como de sociais-democratas, a 13ª reunião plenária do comité executivo da Internacional Comunista decretou, numa das suas resoluções, que «a social-democracia continua a desempenhar a função de principal apoio social da burguesia mesmo nos países em que vigora declaradamente uma ditadura fascista».

265 - Só em 1935 mudaram essa orientação e passaram a incentivar frentes com a social democracia. Era tarde demais.

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