Marcos Dantas – O Valor da Informação Trabalho e Apropriação no Capitalismo Contemporâneo

 

Marcos Dantas – O Valor da Informação Trabalho e Apropriação no Capitalismo Contemporâneo:

480 - É mais um texto sobre economia que propriamente um texto libertário (ou marxista), mas vamos aqui mesmo...

481 - Ao contrário da economia neoclássica, a economia política clássica não considera a informação entre as suas premissas.

482 - Conforme as leis da termodinâmica, todo conjunto de matéria, se isolado e fechado relativamente ao seu ambiente externo, tende irreversivelmente para a entropia, estado no qual um dado sistema, pela ausência de desequilíbrios térmicos internos, não mais logra realizar trabalho físico, não produz ou sofre transformações, está morto. O contrário disso, o negativo da entropia, seria a neguentropia (Brillouin, 1988). Estado neguentrópico implica desequilíbrio (térmico).

483 - Um organismo vivo se caracteriza e se define pela sua possibilidade de ampliar e sustentar uma dada capacidade de realizar trabalho (neguentropia), resistindo à desorganização e morte entrópicas, pelo menos durante algum tempo.

484 - Atlan (1992), Laborit (1988) e outros biólogos sugeriram que os sistemas vivos (e os ecológicos ou sociais a eles relacionados) são constituídos por níveis de organização (ou subsistemas) que se relacionam através de permanentes trocas energéticas e informacionais. Cada subsistema (ou nível de organização) precisa absorver energia livre encontrável em algum outro subsistema, para sustentar a sua neguentropia. Para tanto, ele entra em ação, acionado por uma informação, no ambiente do subsistema maior com o qual se relaciona. O predador comendo carne é um exemplo.

485 - Ruído é informação adicional na comunicação. É tipo a relativização da comunicação normal/mais simples/anterior. No semáforo, o vermelho pode significar “passe com cuidado se já for de noite e haver risco de assalto”. È o ruído, portanto, algo fundamental à entropia. Manter o equilíbrio e tal, adaptando-se às diversas situações.

486 - (O texto até aqui tem me apresentado uma série de conceitos e interações entre eles. Tenho entendido parcialmente, creio. Porém, talvez fosse mais útil começar pela importância prática de todos eles, pois ainda não percebi o que ele quer demonstrar)

487 - O rendimento neguentrópico da ação será tanto maior, quanto menor for o tempo consumido no processamento de incertezas, exigido pela ação.

488 - Isto aqui me lembra meu eterno dilema. Estou lendo pouco ou muito? “para cada agente, ou para o conjunto sistêmico, em função deles, deverá haver um “ponto ótimo” entre o grau ou quantidade de incerteza removida e o tempo consumido nesse processo”.

489 - Compara os diferentes trabalhos numa fábrica. Do operário que aperta botões e verifica se a máquina está realizando seu trabalho como o esperado até o químico que observa reações em tubos esperando determinados resultados. Ambos providenciam ajustes se o produto sai diferente do desejável/esperado. A diferença seria meramente que um trabalha mais perto da máquina que faz o “produto final”? Explica que não. O fundamental é: O trabalho junto à máquina é certamente mais redundante que o trabalho de pesquisa, projeto, desenho e outros relacionados ao desenvolvimento mesmo de produtos e processos, que exigem tratar maiores quantidades de incertezas. Por isso que falam tanto em “capitalismo informacional”.

490 - Então temos a divisão entre “trabalho com incertezas” e o “trabalho redundante”. Aquele incluirá a pesquisa, investigação, estudo, análise e tomada de decisões científicas, tecnológicas, mercadológicas, financeiras, gerenciais e outras relacionadas ao desenvolvimento e evolução de produtos e processos; este envolverá a supervisão, o controle, a observação, a direção ou correções do trabalho morto que objetivará e materializará o trabalho de remoção de incertezas, realizado antes. O trabalho vivo redundante é o que consuma a fixação da informação redundante nos seus suportes materiais adequados.

491 - O objeto imediato do trabalho com informação é, portanto, o registro, na forma de dados, da informação processada. E o trabalho com informação, ele mesmo, é a atividade de processar e comunicar cumulativamente esses dados, inclusive à máquina que realizará a transformação material final.

492 - O processo de trabalho mobilizado pelo capital visará, pois, remover a maior quantidade de incerteza, no menor tempo (Fig. 5). E todo trabalho humano que não contribua para isto tende a não ter mais valor para o capital. Do contrário, a empresa irá perder a competição capitalista. (Será uma das explicações modernas para a inviabilidade do socialismo utópico?)

493 - … Por isto, o capital tudo faz para reduzir o trabalho redundante ao mínimo possível, através da sua máxima mecanização e automação, acompanhada de relações de trabalho que permitam que cada indivíduo e cada grupo de indivíduos concentrem-se na redução das suas incertezas diretas.

494 - … em termos de valor-trabalho, o valor da informação encontra-se justamente no trabalho que poupa, no tempo que algum subsistema social não precisou consumir porque pôde beneficiar-se do resultado da busca feita por algum outro subsistema.

495 - O próximo subsistema tenderá - se a empresa for eficiente - a fazer o mesmo com suas “missões”, para facilitar a vida do próximo subsistema.

496 - Para impedir a pirataria desse valor-informação antes que ele sequer “remunere” o tempo empregado nas pesquisas, o ordenamento jurídico tem sido modificado. “Disso não há melhor exemplo do que as novas leis sobre direitos intelectuais, cada vez mais abrangentes e draconianas, leis estas impostas unilateral e universalmente pelo poder imperial dos Estados Unidos, centro e matriz das principais corporações privadas capitalistas transnacionais”. Outro dado que tem a ver: “Também nos termos da Economia neoclássica, a informação não poderia ser objeto de mercantilização, pois o seu custo marginal seria zero, desestimulando, pois, o investimento de capital na sua geração e comercialização. Sobre esta discussão, ver Arrow (1977), Bates (1988) e Michalet, citado em Chesnais (1996, p. 85)

497 - Conclui que a “mais-valia” não pode mais explicar o pólo mais dinâmico do capitalismo (o que eu discordo e considero não-demonstrado apesar de concordar com vários dos argumentos. É uma questão de “x existe não implica y”)

498 - … Seu argumento é essencialmente este: “O trabalhador mantém, agora, uma relação simbolicamente mediatizada com o seu objeto de trabalho. O valor desse trabalho será assim o valor da informação que processe e comunique (tempo poupado, rendimento neguentrópico), e não mais o do tempo que agregue, seja em termos “absolutos”, seja em termos “relativos”.” (Ora, não deixar de ser uma forma de trabalho complexo, a meu ver. Ainda que mais sofisticada)

499 - Ainda sobre a dificuldade de mercantilizar a informação: Ora, a informação é neguentrópica, portanto, qualquer Economia que se pretenda baseada na informação precisará reconsiderar e relativizar o postulado da escassez. Não que, no limite, as leis da termodinâmica deixem de fazer valer os seus efeitos, mas, aquém desse limite, a informação ainda poderá abrir um enorme campo para a produção de riquezas, progresso e melhoria geral do padrão de vida da humanidade, que apenas a apropriação capitalista teimaria em obstaculizar. O capital quer forçá-la - a informação - a ser bem escasso.

500 - Segundo um jornal de 1995, há quinze anos (80) o lucro de uma concessionária era fruto geralmente de venda de veículos. 70% pra ser mais exato. Hoje representa 1%. O pós-venda – contratos de manutenção, assistência e venda de peças e equipamentos – que era responsável por apenas 2% do lucro, responde agora por quase 70%. Porém, este artigo foi longe nas suas previsões sobre substituição da “economia de troca” pela “economia da licença” (de uso). Tentou prever, por exemplo, que no ano 2000, carros já não mais seriam vendidos...

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