Libertários - Textos Diversos XXVIII (Tragtenberg)
Maurício Tragtenberg - O Voto e as Ilusões:
581 - Afirma que as comunas urbanas surgiram no século XII e só foram perder sua autonomia - e certa prática de democracia direta - devido às guerras que passaram a demandar a organização de um exército permanente.
582 - Afirma que a “burguesia para defender-se da desobediência do povo e da recusa a pagar impostos, na Revolução Francesa, cria a Assembléia Parlamentar, fazendo-se defensora do governo representativo, onde o povo elege seus “defensores”: é o governo por procuração”.
583 - Os operários no século XIX conquistaram seu direto à greve através da ocupação das manufaturas. Derrubando as grades do Hyde Park londrino onde era proibida sua entrada, conquistaram seu direito à palavra na rua. Atribuir aos parlamentos o que é devido à ação popular é pensar que basta existir uma Constituição para que haja liberdade e direitos respeitados.
584 - (Pergunto-me até que ponto há ilsuões democráticas mesmo no povo. Quem vota o faz porque não fazê-lo também pouco resolve. “Quem sabe tirar alguns minutos para votar possa dar algum retorno?” Seja pro bairro ou profissão. Acho que é o que muitos pensam. Não morrem de amores pelo sistema “democrático”)
Maurício Tragtenberg e a Pedagogia Libertária:
585 - A escola torna dispensável o recurso à violência, pois desenvolve meios para manter o aluno sob vigilância permanente (diário de classe, boletins individuais de avaliação, uso de uniformes modelos, disposição das carteiras na sala de aula, culto à obediência, à superioridade do professor etc.). Sem falar da estigmatização dos maus e rebeldes alunos...
586 - O professor: Seu poder disciplinador também se manifesta através da aplicação dos exames, das ameaças diretas ou veladas da nota baixa.
587 - Critica o seguinte fato: O objeto do aprender passa a ser determinado pelo grau de importância que os outros conferem, ou seja, alguém, que não é o educando, decide o que é "importante" para ensinar".
588 - A pressão atual por “projetos rentáveis” e outras formas de inserção do capital privado na educação apenas pioram o quadro.
589 - Essa realidade mudou? Hoje, como ontem, nos seminários, colóquios etc., financiados com o dinheiro público ou não, paga-se para apresentar trabalhos a si mesmos ou aos amigos, que se revezam entre falantes e ouvintes. Da mesma forma, o imperativo da quantidade: não interessa o conteúdo e a qualidade do que se publica, mas sim quantos pontos vale; também não importa se alguém lerá o artigo; de preferência que seja publicado em algum país vizinho, pois as revistas internacionais garantem uma pontuação maior. Transformemos aulas em palestras! Nos insinuemos aos nossos amigos para que nos convidem a proferir palestras! Façamos acordos de corredores! É preciso fazer currículo a qualquer custo! Eis a "delinqüência acadêmica" revitalizada!
590 - Em 1867, Bakunin falou da necessidade de estabelecer aulas públicas seguindo um programa de ensino científico, profissional e produtivo. Isso com a redução das horas de trabalho, claro.
591 - Libertários brasileiros: Críticos à educação burguesa estatal e religiosa, assumiram os preceitos pedagógicos de Ferrer e fundaram suas próprias escolas, mantidas pelos trabalhadores, criaram Centros de Cultura e inclusive a Universidade Popular.
592 - Porém, Bakunin e mesmo os brasileiros sabiam que, sem a revolução, a educação não poderia cumprir papel redentor anterior.
593 - As soluções “tragtenbérguicas” para uma pedagogia libertária são, no mínimo, interessantes. Autogestão: gestão da educação pelos diretamente envolvidos no processo educacional e a "devolução do processo de aprendizagem às comunidades onde o indivíduo se desenvolve (bairro, local de trabalho)". Outra: nada de prêmios, punições ou competições. Aliás, deve-se inclusive fazer a crítica das pedagogias autoritárias. Por fim, a educação obviamente seria gratuita.
594 - Cita como modelo o Sindicato de Ensino da Espanha, ligado à CNT. Este sindicato incorpora todos os envolvidos no processo educativo (docentes, discentes, moradores, pais). Funciona através da democracia direta (abolição da hierarquia, delegação revogável); com responsabilização coletiva pelas tarefas e uma estrutura federativa (com os grupo autônomos ligados entre si pela solidariedade, sendo as assembléias gerais fóruns de decisões unitárias).
594 - (Concluo que este texto deveria estar principalmente na pasta “Educação Popular”.)
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