Libertários - Textos Diversos XXVII - Max Weber e a Revolução Russa (Tragtenberg)
Maurício Tragtenberg - Max Weber e a Revolução Russa:
552 - Weber, profundamente nacionalista, ainda que humanitário liberal (o que é quase nada), acompanhava com muita atenção a Rússia de 1905. Tinha certo medo desta e das suas influências.
553 - Weber temia, ainda, que o progressivo processo de racionalização social que observava transformasse o homem em mero parafuso, sufocando sua liberdade.
554 - Para Weber, todas formações políticas originam-se da violência.
555 - Afirmava que toda autêntica dominação ensejava um tipo de fé, um mínimo e determinado desejo de obediência. A “carismática” é instável e seu “quadro administrativo” são os “homens de confiança”. A “tradicional” vem dos costumes e traz “servidores do soberano”, ainda não organizados burocraticamente. Já a “racional-burocrática” é a moderna. Eleições e tal, que institucionalizam o consentimento dos cidadãos. Possui quadro funcional mais baseado no mérito e especialização.
556 - A burocratização era, assim, irresistível, seja ao socialismo estatal (mais ainda a este, pelas crescentes responsabilidades sociais e econômicas) ou capitalismo. A transformação do Estado em “empresa”. Pois bem, Weber tinha grande preocupação com essa racionalização burocrática, pois, embora a considerasse um fenômeno racional e, por isso, quase inevitável, não deixou de observar que o crescimento da burocracia se dava às custas de um declínio da liberdade. Assim, era algo a ser limitado por uma classe social com vontade de poder e em processo de expansão econômica. (O texto não detalhou muito isso. A seguir fica mais claro)
557 - Max Weber critica aqueles "marxistas" que são incapazes de responder a esta indagação: quem dirigirá as indústrias estatizadas? Isso porque considerava que a burocracia, única resposta possível, não possuía qualquer sentimento de solidariedade com o proletariado.
558 - Voltava-se para a Rússia e para os EUA na esperança de ver surgir um sistema que passasse a limitar o crescimento da burocracia.
559 - Para Weber, quaisquer valores de um movimento político que mira o poder só prosperarão se corresponderem a interesses econômicos de uma classe ascendente. Assim, investigou se o liberalismo russo (especialmente os da “Liga da Libertação”) se encaixava aí. Conluiu que não. A burguesia russa não apoiava o partido constitucional-democrata ou o liberalismo - os idealistas dos “zemstvos” (liberais) eram inclusive atacados pelos burgueses, isso por mais que os primeiros pudessem servir, aos segundos, como “quadro administrativo” após possível vitória numa luta contra a autocracia (se desejassem isso…). Enfim, vê nos “zemstvos” um admirável liberalismo puro, mas sem apoio real.
560 - Lamenta, Weber, que os camponeses estejam “nem aí” para os parlamentos. Ao contrário, acham até mais fácil tratar diretamente com o czar. Não chegarão a se aliar com os nobres para fazer uma frente anti-liberal (como ocorreu na Alemanha), mas também não vão colaborar, afirmou Weber.
561 - Weber afirmou que somente uma guerra européia perdida minaria definitivamente a autocracia. (acertou)
562 - Noutro Estudo, após as concessões de outubro de 1905 por parte do czar, Weber atribui estas, também, a ser a Rússia um estado devedor. Seriam os judeus, controladores dessa dívida, os interessados nessas mudanças, já que houve pânico entre esses credores estrangeiros com as agitações de 1905. (Mais tarde, no texto, Tragtenberg dirá que isso é falso. A pressão que levou às reformas foi popular - sequer maquinação bolchevique, muito pelo contrário - e não do "capital ocidental".)
563 - … Assim, para dar mais estabilidade ao regime, ficou certo que o czar tinha que, agora, pelo menos ouvir mais a burguesia. Trazê-la pra perto. Na prática, não mudou muuuita coisa.
564 - ...A Constituição veio com uma série de disposições “escapistas” para impedir uma forte oposição parlamentar. Era um “pseudo-constitucionalismo”, concluiu Weber, sem usar o termo, ao analisar a carta. Esta significou, na verdade, uma maior centralização da administração nas mãos de de burocratas, não-controlados pela Duma, que serviam de intermediação entre o monarca e o povo.
565 - … O czar perdeu poder para os burocratas, concluiu Weber. Que perdesse para o parlamento, oras (lamentou). Tragtenberg observou que, logo após 1906, o czar Nicolau II, imbecil, começou a se meter em tudo e não deixou os burocratas qualificados, como Stolypin, administrarem o país. Enfim, a bagunça continuou, ao contrário do que previu Weber. Ou seja, a burocracia, na verdade, acabou perdendo força. E a monarquia continuou intacta, delegando poderes a incompetentes.
566 - Só a parte mais afortunada da burguesia teria gostada da Constituição, segundo Weber.
567 - Assim, após 1906 (Constituição), Weber deixou de se interessar pela Rússia. Considerou que esta estava tomanda claramente o mal caminho da inserção na cultura europédia (domínio burocrático).
568 - Em 1916, critica a política externa de Guilherme II. O inimigo deveria ser a Rússia, com seu expansionismo “demográfico” (digamos) e territorial, e não França e Inglaterra.
569 - Afirma que a revolução russa de março de 1917 deu certo porque a burguesia e conservadores se voltaram contra ao czar, ao contrário de 1905, obrigando-o a aceitar o regime parlamentar, tudo devido à inconsequência política e arbítrio policial do autocrata. Weber acreditava que a aliança entre burguesia conservadora, militares e burocratas, de um lado, com “inteligência” revolucionária, do outro, não iria durar… Afinal, a burguesia queria tão somente se livrar de um monarca incompetente e nem sonhava em mudar a estrutura do sistema. Sequer aumentar a democracia.
570 - Afirma que os esquerdistas eram necessários no governo por estarem em contato com as massas, ou seja, podiam intermediar e controlar as coisas.
571 - Weber apontou um perigo. Os camponeses - disparada a classe mais numerosa - queriam confisco das grandes propriedades e o término imediato da guerra com a consequente democratização. Os burgueses, nada disso.
572 - Parecendo um Tyrion, dá a receita para governar. Decretar a paz e avançar, sem selvageria, contra o caráter “sacrossanto” da propriedade privada, afinal, na Rússia isso era novidade. Enfim, ceder aos camponeses. Observa que isso provavelmente demandaria uma ditadura social-revolucionária prolongada de algum homem político corajoso. (entendia dos paranauê esse Weber)
573 - Porém, achava inviável uma aliança proletariado-campesinato, pois o primeiro era profundamente desconfiado do segundo (acabou ocorrendo). Não haveria, portanto, qualquer revolução.
574 - Quando o bolchevismo (os ditadores revolucionários) chegou ao poder, para a surpresa de Weber mais devido ao proletariado industrial e parte do exército do que por qualquer colaboração do campesinato, o pensador alemão qualificou o novo governo como “pura ditadura de sargentos”. Rejeitava a ideia de que o regime se apoiava num operariado com consciência de classe, como o que existia no ocidente (mero preconceito/racismo/elitismo de Weber?)
575 - ...Diz que os interesses dos guardas vermelhos era levar os tributos do Estado à Finlândia, Ucrânia etc.
576 - Em julho de 1918, Weber observa que o salário por tarefa foi restabelecido na Rússia e que os antigos chefes de empresa, burocratas e oficiais voltaram aos seus cargos. Ainda assim, achou que o sistema bolchevique não iria conseguir governar.
577 - Tragtenberg afirma que Weber possui uma visão extremamente limitada das instituições parlamentares e também não via eficiência na vontade popular. Acreditava, sobretudo, no papel das elites.
578 - Quanto boa parte das conclusões de Tragtenberg, creio que ele exagera na interpretação extensiva das coisas que disse Weber (ao menos nos trechos do pensador alemão que o brasileiro me trouxe). Vi, por exemplo, Weber considerando sim um “passado e tradições russo” nas suas análises. Porém, ele admite que Weber acertou muita coisa, como na análise sobre o liberalismo russo.
579 - O seu mal (de Weber) principal seria, na verdade, querer sempre sobrestimar a burocracia (porque no Ocidente ela é forte) e subestimar a “inteligência” (“políticos” e afins).
580 - Um rodapé - trecho de escrito de Lênin - dá uma porrada na tese de Weber de que “Outubro” foi mera maquinação sem massas. As greves puramente políticas de 1905 tiveram 123 mil operários. Nas de “Outubro” e “dezembro”, muito mais ainda, 330 mil e 370 mil respectivamente.
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