Libertários - Textos Diversos XXIX
Maxwell - Esboço Para a Crítica da Vanguarda:
595 - Já li e fichei em “Os Anarquistas”.
Michael Albert - Autogestão:
596 - Atribui esta frase a Gandhi: A verdadeira democracia não pode ser conduzida por vinte homens sentados ao centro. Ela deve ser conduzida desde baixo, pelas pessoas de todas as vilas.
597 - Rosa Luxemburgo sobre a disciplina: O que a docilidade bem ordenada do criador pode ter em comum com as aspirações de uma classe lutando por sua emancipação?
598 - O texto tem o lado interessante de refletir sobre algumas “microquestões” práticas da autogestão. Um trabalhador, evidentemente, deve ter participação total nas decisões sobre a foto de sua filha que fica em sua mesa. Ele decide, eu não tenho participação, já que meu espaço de trabalho fica ao lado do dele. Mas eu devo ter poder de veto sobre a opção dos meus vizinhos de tocar punk rock em seu espaço o dia todo, mesmo estando nesse local de trabalho que fica ao lado. Semelhantemente, um grupo de trabalho deve ter mais participação nas suas escolhas operacionais, mas os grupos que consomem seus produtos devem ter alguma participação também, na mesma proporção que são afetados.
599 - Afirma que os métodos de tomadas de decisão devem ser diferentes para cada situação (acima ficou claro como são diversas) ou grupo. Poder absoluto total do indivíduo; maioria; três quintos; consenso. “nós automaticamente tentamos dar a cada agente uma participação proporcional ao grau que ele é afetado”.
600 - Costumamos fazer essas coisas intuitivamente em várias coisas do dia-a-dia: Nós não temos um amigo que decide qual é o filme que todos vão ver, e nós também não fazemos simplesmente uma votação. Todos amigos têm o poder de dar sua opinião, e se alguém já tiver visto o filme ou tiver alguma outra necessidade urgente, essa pessoa pode ter maior poder de decisão sobre isso.
601 - E ditadura? Só se for democraticamente escolhida: “Suponha que haja um repentino anúncio que uma grande onda esteja vindo em nosso rumo. Um de nós é um especialista em sobrevivência nessa situação e o resto das pessoas da cidade nada sabe sobre a questão. Uma rápida mudança para uma “ditadura” é prudente nesse caso”.
602 - E como impedir que o conhecimento de fulanx se imponha quase sempre, num contexto “x” qualquer? Propõe a seguinte regra: “sempre que as decisões de conhecimento especializado, relativas a algumas questões, puderem ser difundidas o suficiente para que cada agente tenha condições de avaliar a situação e ter sua própria visão, de como ele é afetado em um longo tempo, para expressar isso na decisão, cada agente deve ter participação proporcional aos efeitos que ele irá sofrer”. O problema da “onda” lá é que não haveria tempo hábil para isso. Em situações em que o compartilhamento de conhecimentos é possível, este deve ser sempre feito. É prioridade na autogestão.
603 - … Ou seja, o “especialista” será mais ouvido que os outros. De fato, é o normal já que tem mais a dizer. Porém, se a decisão afeta a todos igualmente, seu peso decisório será igual ao de qualquer um. Se afeta bem mais João da Silva que os outros, este poderá ter peso maior.
604 - … cada agente deve ter fácil acesso às avaliações relevantes dos resultados esperados, e deve ter conhecimento geral e segurança intelectual suficientes para entender as avaliações e desenvolver suas preferências sob sua luz.
605 - Os veículos de tomada de decisão para os coletivos de trabalhadores e consumidores serão os conselhos.
606 - (Enfim, ótimo texto).
Notas Sobre a Autonomia Operária na Itália:
607 - O primeiro texto é do coletivo autonomista “Rete Operaia”.
608 - Descreve o período 60-70 das lutas italianas: Ações massivas e radicalizadas – que articulavam desde a resistência cotidiana nas fábricas com a sabotagem dos produtos do trabalho e das máquinas, ocupações de casas, coletivos de autonomia cultural até as “greves selvagens” (greves sem e contra as direções sindicais) e confrontos de rua.
609 - Segundo o texto, (...) avalia-se que cerca de 13 milhões de trabalhadores – numa população então de 50 milhões de italianos – participaram diretamente das diversas formas que assumiu o movimento de autonomia operária, contrastando, a esse respeito, com os três milhões de eleitores do PC Italiano.
610 - "O saldo dessa onda repressiva eqüivale em números a um final de guerra civil: cinco mil presos políticos. É interessante notar que os primeiros dos grandes atentados terroristas, em 12 de dezembro de 69, na Piazza Fontana, em Milão, e na cidade de Brescia, no Norte da Itália, foram inicialmente atribuídos pelo Estado a militantes anarquistas e depois descoberto que, na verdade, tiveram origem nos próprios órgãos de segurança do Estado – e com o objetivo, exatamente, de fazer recuar as lutas operárias" Tática que deu certo momentaneamente, pois os operários, na época, recuaram e aceitaram alguns acordos desejados pelos sindicatos.
611 - Costuma-se dizer que o maio de 68 italiano durou dez anos. Em verdade, foi parte de um grande movimento de lutas autonomistas que se iniciou em 56 com os conselhos operários húngaros e foi até "até a derrota das lutas autogestionárias dos operários poloneses em 1980".
612 - Atuando ao lado dos grandes setores autonomistas do período (e tinha até grupo leninista no bolo!) havia o "setor armado", formado por várias organizações.
613 - Os trabalhadores eram mais protagonistas das greves e afins que propriamente os "grupos autonomistas".
614 - Há numerosas demonstrações de defesa e ampliação do salário indireto (transporte, moradia), o que provoca em determinadas faixas do proletariado – de modo especial entre os proletários imigrantes de fora da comunidade européia – ocupações de casas, luta por reduções drásticas do preço dos ônibus. Nas empresas, têm havido algumas lutas completamente desatreladas do plano sindical (seja o sindicalismo oficial, seja o sindicalismo de base). (...) Permanece (...) como dado empírico a persistência de uma luta subterrânea da classe trabalhadora no uso do absenteísmo e da sabotagem (em uma empresa da Fiat, em Turim, há alguns meses, a direção chamou a polícia política especial para descobrir entre os trabalhadores os autores das numerosas sabotagens que aconteceram).
615 - O segundo texto vai na mesma linha. O descenso foi causado não somente pela cessão de algumas reformas estatais: contribuíram também para a crise desses movimentos as modificações sociais e produtivas, o fato de que desde a metade dos anos 70 começam uma série de processos de restruturação produtiva, de demissão de trabalhadores das grande fábricas, de descentralização em pequenas fábricas com o objetivo de dividir, fragmentar o corpo central da classe operária, que havia sido um dos motores dos movimentos dos anos 60 e 70.
616 - Mais: aproveitando as chamadas “leis antiterroristas”, sobretudo depois do seqüestro de Aldo Moro (1978), há um grande ataque repressivo que golpeia todas as organizações do movimento. Deve-se dizer, então, que as razões que levaram a essa crise foram muitas.
617 - Depois dos anos 70, os “centros sociais” se tornam meio de aglutinação do que restou. Apoiam lutas e ocupações locais.
618 - Hoje, em Milão, a cidade onde moro, aproximadamente três quartas partes dos novos cargos, isto é, das novas pessoas que entram no mercado de trabalho, o fazem com trabalhos atípicos, como trabalhadores precários ou autônomos. Nos anos 90, ocorre uma nova fragmentação dos movimentos de luta. Ainda pior do que nos anos 80, os movimentos muitas vezes se limitam a reagir aos acontecimentos. Por exemplo, o movimento contra a Guerra do Golfo, ou a campanha contra o massacre de Chiapas.
619 - Alguns passam a defender, nos anos 90, que os centros sociais passem a produzir bens e serviços. Ou seja, além da função política, teriam que assumir uma função econômica. Por outro lado, há companheiros que criticam a proposta de empresa social, porque dizem que em vez de libertar o trabalho e criar zonas de no-market, serão criadas apenas formas de auto-exploração que se verão integradas no mercado. Estes propõem o modelo clássico: auto-organização das lutas no território e no interior dos locais de trabalho.
620 - Também há uma discussão entre esses dois grupos acerca da participação ou não em eleições. O grupo da “empresa social” já elegeu até prefeito. Ademais, discute-se como sair às ruas. Armados para enfrentar a polícia (capacetes e tal)? Ou através da desobediência civil, usando resistência ativa, a fim de atrair mais gente? Para esses companheiros que criticam a desobediência civil, esta não só é um enfrentamento permitido pela polícia, mas que inclusive serve para pacificar a rua, já que evita que se suceda algo pior.
621 - Há uma parte entusiasta do “direito à renda”, já que empregos são definitivamente perdidos com a automatização e, portanto, nem adianta lutar por eles.
622 - O terceiro texto é notadamente mais abstrato. Muitas vezes tenho vaga ideia do que ele está querendo dizer. Parece ser entusiasta de focar a luta dos trabalhadores nas (contra as) empresas de ponta, ao que entendi.
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