Libertários - Textos Diversos XVI


João Pinto - A Propósito do Marxismo de João Bernardo:

295 - Professor de História da UFG. Faz breve relato biográfico de JB, que não possui título universitário (e curiosamente é o teórico mais interessante que eu conheço. Nunca mais falo de Olavo quanto a isso…)

296 - Diz que “Economia dos Conflitos Sociais” é sua obra síntese.

297 - Afirma que JB propõe a reorientação da tecnologia de gestão capitalista para criar um mercado controlado e disciplinado. Seria o marxismo das forças produtivas.

298 - É central, portanto, a recusa radical a qualquer hierarquização do controle da produção.

 

John Holloway - A Crise do Trabalho Abstrato:

299 - Texto de 2007. O trabalho útil, que é o que produz valores de uso, vira trabalho abstrato no capitalismo. O trabalho alienado aparece então como oposto da atividade vital consciente. Esse duplo caráter do trabalho cria o duplo valor (tipo de) da mercadoria. È ele também quem cria a tensão é entre fazer o que é útil e o que se gosta e fazer o que é preciso pra ganhar dinheiro.

300 - Diz que o movimento operário costuma fazer, quando faz, a luta do trabalho abstrato contra o capital. Há, porém, outro tipo de conflito: a luta contra o trabalho é a luta contra a constituição do trabalho como atividade separada do fluxo geral do fazer.

301 - Mesmo o sindicalismo revolucionário acaba fazendo o primeiro tipo de luta, já que a organização do trabalho abstrato é tipicamente hierárquica, e isto tende a reproduzir-se dentro das organizações do movimento operário.

302 - Coloca, então, toda essa crise atual da esquerda como uma oportunidade: “A luta do trabalho está sendo substituída pela luta contra-e-mais-além do trabalho.”

 

John Holloway - A Reinvenção da Democracia:

303 - Texto de 2004. Uma meia-verdade: “O capital se vê tão estável, se vê como algo eterno. Mas não o é. Ele existe somente porque nós o criamos, não porque o criamos há duzentos anos, mas porque o criamos hoje, o estamos criando hoje.”.

304 - Para Holloway, a revolução se dá através de fissuras. A democracia representativa de nada serve. Não dá pra mudar o mundo através de eleições. Votar só em casos bem específicos e sem muita esperança nisso.

305 - Delegação só quando for o jeito e com rotação e revogabilidade. No mais, consensos e assembleias. Normalmente não mandamos em quem amamos: discutimos, buscamos um consenso, desenvolvemos formas coletivas de tomar decisões, formas horizontais: este é o significado da amizade ou do companheirismo.

306 - E os mais lentos e que têm maior resistência à participação e autodeterminação? Propõe que o coletivo caminhe no ritmo deles, com paciência. Não é a favor de “fazer a revolução e voltar pra resgatar…”. Isso nunca acontece, diz.


John Holloway - A Revolta da Dignidade:

307 - Texto de 1997 sobre a revolta zapatista. Segundo ele, a dignidade, a recusa a aceitar a humilhação e a desumanização, a recusa a conformar-se: a dignidade é o núcleo da revolução zapatista da revolução.

308 - O EZLN foi fundado em 83. Preparou seu levante por dez anos. Os integrantes originais seriam remanescentes do FLN (marxista-leninista) das décadas passadas e alguns outros grupos.

309 - O grupo guerrilheiro usou a década de 80 para se converter numa “comunidade em armas”, digamos. “Cada vez mais comunidades buscavam a ajuda dos zapatistas para defender-se da polícia ou das “guardas brancas”, cada vez mais comunidades se tornaram comunidades zapatistas””.

310 - As comunidades da selva lutavam para resistir à ameaça a sua existência que implicavam duas medidas governamentais em particular: o Decreto da Selva Lacandona que ameaçava expropriar grande parte da selva e a reforma de 1992 ao artigo 27 da Constituição, que, ao abrir o campo ao investimento privado, minava o sistema de posse coletiva da terra.

311 - Fala das mortes comuns e evitáveis (saúde precária) nas primeiras comunidades zapatistas.

312 - Parecia já existir certa cultura de luta coletiva: Marcos fala dos contos ao redor da fogueira na noite das montanhas: “histórias de aparecidos, de mortos, de lutas anteriores, de coisas que aconteceram, que se mesclam muito. Parece que estão falando da revolução (da Revolução Mexicana, a passada, não a que está acontecendo agora mesmo), e às vezes parece que se confunde com a etapa da colônia, e às vezes parece que é a época pré-hispânica”.

313 - Defende que a teoria deve ser produto da prática cotidiana.

314 - O cargo de quem não manda obedecendo é revogável.

315 - … “Assim, a decisão de começar a guerra não foi tomada por um comitê central e logo levada repassada às bases, foi discutida por todas as comunidades em suas próprias assembléias”. (...) o CCRI (Comitê Clandestino Revolucionário Indígena) está composto por delegados revogáveis eleitos pelos diferentes grupos étnicos (tzotziles, tzeltales, tojolabales, choles), e cada grupo étnico e cada região tem seu próprio comitê escolhido em assembléias segundo o mesmo princípio.

316 - O centro do projeto revolucionário dos zapatistas é a dignidade. Luta por democracia, justiça e liberdade que vai se construindo na prática, sem um caminho pré-traçado. Alguns criticaram isso como imaturidade. Holloway discorda. A revolução deve ser autocriativa, criado no transcurso da luta.

317 - Nos 500 anos do “descobrimento”: 12 de outubro de 1992 (...) os zapatistas já haviam desfilado por San Cristóbal, quando cerca de dez mil indígenas, a maior parte zapatistas , mas sobre outro aspecto, haviam tomado as ruas da cidade.

318 - A luta vai para além da dos povos indígenas.

319 - O “Nacional” no EZLN é mais no sentido de não se restringir a Chiapas que no sentido de negar qualquer internacionalismo. Pelo contrário até. A “nação” e “pátria” são “meramente” lugares em que se viveu sua história, não uma identificação - longe disso - com o aparato jurídico do Estado ou algo do tipo.

320 - Ana María (...) encabeçou a ação militar mais importante empreendida pelos zapatistas: a tomada do palácio municipal de San Cristóbal no primeiro de janeiro de 1994. O cessar-fogo foi 12 dias depois.

321 - A definição dos direitos indígenas se vê não como ponto de chegada, mas como ponto de partida, como base para mover-se a outras mudanças, mas também como base para avançar o movimento, uma base para romper o cerco.

322 - - Pelas descrições das reuniões com o governo, devem ter sido uma tragicomédia. Os executivos lá sem entender - e/ou achando absurdo que os indígenas decidissem tudo lentamente, após discutir com as bases - o tempo zapatista e mesmo o que era dignidade...

323 - Governos? Só com revogabilidade imediata. E seu objetivo é articular as dignidades, e não implementar um programa - de cima pra baixo e tal… . É a unificação autocriativa e cumulativa das dignidades. “Não há nenhuma construção do partido revolucionário, nenhuma estratégia para a revolução mundial, nenhum programa de transição. A revolução é simplesmente a constante luta intransigente por aquilo que não se pode conseguir sob o capitalismo: a dignidade, o controle sobre nossas próprias vidas.”

324 - Todas as iniciativas dos zapatistas (O primeiro evento importante foi a Convenção Nacional Democrática, organizada imediatamente depois que o EZLN rechaçou as propostas feitas pelo governo no diálogo de San Cristóbal e algumas semanas antes das eleições presidenciais de agosto de 1994: um evento que reuniu mais de 6.000 ativistas na selva a poucos meses de haver terminado a guerra aberta. No ano seguinte, o EZLN se baseou na reação popular à intervenção militar de fevereiro de 1995 para organizar uma consulta em todo o país sobre o futuro do EZLN, evento no qual participaram mais de um milhão de pessoas. O novo diálogo com o governo, iniciado em abril de 1995, foi usado também como ocasião para convidar centenas de ativistas e especialistas para participar como assessores e para organizar os fóruns correspondentes aos temas de discussão, em janeiro e julho de 1996. Este último ano viu também, em finais de julho, a organização dentro do território zapatista do Encontro Intercontinental pela Humanidade e contra o Neoliberalismo.) foram dirigidas a promover outra forma de conceber a ação política.

325 - Como romper o isolamento na Selva Lacandona? Ligando o rádio. O levante teve sem dúvida uma ressonância extraordinária em todo o mundo, evidenciada, por exemplo, pela participação de mais de três mil pessoas de 43 países diferentes no Encontro Intercontinental de julho de 1996. Não que seja um sucesso prático, mas é alguma coisa.

326 - Houve, porém, fracasso relativo dos intentos institucionais de estender a luta zapatista. Trata-se de tentar novos ecos, segundo Holloway.

327 - Organização é importante, mas não deve vir num esquema predeterminado rígido. Tem que seguir o “perguntando caminhamos”.

328 - Diz que não tem como definir as classes sociais, pois estas dependem dos movimentos dos antagonismos que se criam. (Ficou pouco explicado isso.)

329 - Os zapatistas acendem uma chama, mas a luta é “nossa”, coloca por fim. Como se cada explorado e indignado do planeta estivesse por trás daquelas máscaras.

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