Libertários - Textos Diversos XXVI (Tragtenberg sobre Makhaiski)

Maurício Tragtenberg - Makhaiski:

541 – Diversos partidos que pretendiam representar a classe operária surgiram na virada do século ou pouco antes. (...) a social-democracia alemã constitui o modelo e Kautsky, seu teórico, é o mestre seguido. Em 1898, Makhaiski após prisões por sua luta contra o czarismo, publica livro criticando essa socialdemocracia. Ainda seria preso novamente.

542 - “A transferência dos meios de produção ao Estado é o ideal desses intelectuais, acentua Makhaïski”. Por mais que sejam anticapitalistas, buscarão seus próprios interesses. Vivem um nível de vida burguês. Diz que a divisão do trabalho entre quem pensa e quem faz impede qualquer socialismo.

543 – A “inteligência” somente estudou pelo motivo de que outros lhe forneceram casa, comida e etc. para que o fizessem. "... o intelectual vende aos capitalistas sua habilidade para extrair o melhor possível o suor e sangue dos operários. Ele vende o diploma que adquiriu graças a essa exploração"

544 - Para Makhaiski, os patrões cessaram de organizar o trabalho dos operários, passaram essa tarefa à intelligentsia assalariada, enquanto eles contentam-se em receber os dividendos de suas ações.

545 – Kronstadt mostraria que os bolcheviques, antes entusiastas da revolta, agora a reprimiam com tanto ou mais ferocidade. (...) marinheiros de Kronstad, definidos no passado por Trotsky como "a glória da Revolução". Os intelectuais sabotam a tentativa dos operários de gerir a produção.

546 - Assim, no Congresso de Genebra da I Internacional em 1866 a delegação francesa, composta de Malon, Varlin e Fribourg, propõe a exclusão da intelligentsia limitando aos trabalhadores manuais a qualificação de proletários, para evitar o perigo da invasão da Associação por ambiciosos, homens de partido, carreiristas que poderiam transformá-la em instrumento para seus fins egoístas. Vencida essa proposta, propuseram que só operários pudessem eleger e serem eleitos na formação da delegação ao Congresso da AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores), por medo que capitalistas e profissionais liberais tivessem hegemonia no mesmo.

547 – Bakunin sobre Marx: “Não haverá classes, mas um governo e, note-se bem, excessivamente complexo, que não se contentará em administrar as massas politicamente, como o fazem todos os governos de hoje em dia, mas que ainda as administrará economicamente concentrando em suas mãos a produção e a justa divisão de riquezas, a cultura da terra, organização das fábricas, da troca, enfim, a aplicação do capital à produção por um só banqueiro, o Estado. Tudo isso exigirá muita ciência, será o reino da inteligência científica, o mais aristocrático, o mais despótico, o mais arrogante e o mais desprezível de todos os regimes”.

548 – “Essa "inteligência científica" na URSS em 1917 tinha 1 milhão de membros, passou para 2.725.000 em 1926; 14 milhões entre 1939/41; 25,3 milhões em 1965 e 37 milhões em 1977. O número de "trabalhadores intelectuais" como são chamados os membros da "intelligentsia" cresceu 37 vezes em 60 anos”. Os operários estavam cada vez mais distantes dessa “casta”.

549 - … Recebiam mais medalhas que os operários também. É simbólico que, nos primeiros anos da década de 70, 448 membros da "intelligentsia" receberam a medalha de Heróis do Trabalho Socialista. Em idêntico período, só 23 operários receberam tal distinção, mas por colaborarem com os sábios em trabalhos científicos.

550 – Na “Europa do Leste”: “Os intelectuais têm maior chance em obter apartamentos subvencionados pelo Estado, ocupam as casas de campo dos sindicatos, têm acesso aos "hospitais do Partido" bem equipados, podem consumir utilizando dólares nas lojas especiais.”

551 - Ainda uma ideia que ele manifestava: Somente uma escola única, superando o dualismo escolar – destinado à formação de amos e escravos –, permitirá que todos possam ser inteligentes, onde ninguém será explorado. Ademais, os pais teriam que ter tempo livre para se educar, ou seja, teriam que ganhar o mesmo que os trabalhadores intelectuais, o que cria tempo livre/oportunidades educacionais.

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