Marxistas - Textos Diversos LXXVI - Ideologia e Luta de Classes (Pierre Guillaume)
Pierre Guillaume - Ideologia e Luta de Classes:
1311 - A ideia segundo a qual as teses fundamentais do comunismo teriam nascido no cérebro dos pensadores utopistas e levadas depois aos trabalhadores não é senão uma ilusão de óptica. (...) E são as greves, as revoltas e os motins o que atraiu a atenção dos pensadores sobre a irracionalidade do sistema; não são os pensadores os que atraíram a atenção dos proletários sobre a inumanidade da sua condição. Por essas e outras que a socialização dos meios de produção só começou a ser esboçado pelos utópicos e pôde ser melhor sistematizada apenas em Marx, já vivendo um período posterior, do surgimento da grande indústria.
1312 - … Porém, não há mera reflexo da materialidade (nas ideias). Isso é mecanicismo de Feuerbach (ao que entendi). As ideias, as teorias, são o produto da actividade humana, do trabalho humano, não um reflexo passivo, e que transforma pois, uma matéria-prima num produto humanizado, experiências e sensações em conceitos, organiza os conceitos, transforma-os, etc.
1313 - O próprio Marx sempre escreveu - traz trechos - que o proletariado não precisa de alguém para lhe explicar o que é exploração. Quer destruir a propriedade privada por sua própria natureza social, digamos assim.
1314 - (Este texto é contra o leninismo. Critica bastante) … O que Lenine desenvolve em "Que fazer?"; falando das greves de 1886-90: "Os operários não podiam ter ainda a consciência social-democrata que apenas podia ser-lhes levada do exterior... A história de todos os países testemunha que, entregue às suas próprias forças, a classe operária pode apenas atingir uma consciência sindicalista (...), etc.
1315 - … O revolucionário socialista torna-se assim, para Lênin, aquele capaz de atingir a consciência necessária para a verdadeira luta. O comunismo deixa de ser o movimento natural da classe trabalhadora.
1316 - Afirma que, para Marx, seria absurdo pensar que a consciência possa ser introduzida desde o exterior pela propaganda. É a prática revolucionária quem pode trazer isso.
1317 - Resume aqui sua crítica ao leninismo: O critério determinante deixará de ser a luta de classes em si mesma, à qual cada trabalhador está vinculado pela sua situação, mas a "construção da organização e da direcção". A luta de classes é concebida apenas como uma revolta elementar, à qual só o partido dará sentido. Esta concepção priva, pois, tanto o comunismo como a teoria revolucionária do seu fundamento, para colocá-lo nas capacidades dos seus dirigentes. O comunismo já não é o "movimento real que abole o estado de coisas existente".
1318 - … Trotsky inclusive criticava isso nos bolcheviques em obscuros textos de 1901 e 1906. É que os trotskistas escondem.
1319 - Utilizar conceitos da burguesia (Hegel, Ricardo, Smith) não significa uma continuação das teorias dos autores burgueses. Há, inclusive, muita destruição nesse processo. Filtrar o idealismo, por exemplo.
1320 - Marx queria aproximar a relação consciência e matéria. Uma não se muda sem a outra. A burguesia crê que a separação é possível porque é ela mesma quem separa os homens de seus “fazeres” em proveito do trabalho alienado. Ou seja, rejeita tanto o idealismo quanto o materialismo vulgar (o texto afirma que Lênin é quase “vulgar”). A actividade produtiva humana é a solução em acto desta antinomia. Pensamento e acção, teoria e prática são momentos indissociáveis desta actividade. Sem teoria, nenhuma prática, mas sem prática, nenhuma teoria. O trabalho é o que muda o mundo. Há coincidência da modificação do pensamento e da matéria. O pensamento puro não é uma relação humana com a matéria. É a relação do homem castrado de sua actividade propriamente humana, do homem espectador de um mundo que não consegue transformar.
1321 - O defeito dos “vulgares”: não capta a actividade humana como actividade objectiva. Atividade ativa.
1322 - (Há momentos no texto, extremamente complicados, em que o emprego claramente errado de vírgula torna o entendimento bem nebuloso. Ê tradução…)
1323 - Em vez da atividade prática e crítica do proletariado, a força material que vai transformar o mundo, para Lênin, é a Ciência, com C maiúsculo, a Ciência que conhece as leis do mundo objectivo, a que Lenine conhece. Critica o texto.
1324 - Para Lenine, como para Kautsky, a união do movimento operário e do socialismo é a da cabeça e das pernas, do cego e do paralítico.
1325 - Meio que genial este trecho aqui: Observo um jogador de ténis e vejo que seus golpes não são suficientemente seguros, que não constrói suficientemente o seu jogo, que não percebe ou não sabe responder à estratégia do seu adversário com outra estratégia e que se contenta em devolver a bola como pode. A minha "Consciência" não é justa nem falsa, é abstracta, despojada de eficácia, e determinada pela minha situação de espectador. A "Consciência" que tem o jogador é de um tipo diferente; inclui, entre outras coisas, a percepção imediata da fadiga, das capacidades fisiológicas, sensoriais, de percepção e de reflexo, etc. A sua consciência é um momento do seu jogo, indissociável do seu jogo. A minha é inútil para o seu jogo. Se depois da partida, lhe comunico as minhas conclusões, estas serão totalmente inúteis para ele, excepto se se incluir na minha análise uma compreensão interna das determinações concretas do jogo do jogador, por exemplo, pela minha experiência, mas então a minha consciência já não estará simplesmente elaborada desde o exterior, e está parcialmente "do interior" e apenas é útil a este título, não é admissível senão nesta qualidade, e provavelmente não contribuirá com nada de novo que o jogador não saiba já, embora de outra maneira. No máximo, a nossa discussão desembocará, não em levar-lhe a consciência, mas na elaboração de uma linguagem pela qual as nossas experiências se tornam comunicáveis. É mais simpático, mas já não tenho nenhum privilégio.
Política Parlamentar ou Luta de Classes (Sobre Meszaros):
1326 - Texto de Maria Orlanda Pinassi. Mais propagandístico mesmo.
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