Marxistas - Textos Diversos LXXIII - Conceitos Básicos do Materialismo Histórico (Nahuel Moreno)
Nahuel Moreno - Conceitos Básicos do Materialismo Histórico:
1168 - Diz que são Marx e Engels os fundadores do materialismo histórico. Teriam sido os primeiros a perceber a luta de classes como motor da história. (Não foram não...)
1169 - Desenvolvimento das forças produtivas como motor da história (ele acrescenta mais tarde que isso não deixa de ser verdade, já que as classes sociais, e a luta entre elas, só surgiram há quatro mil anos): Os capitalistas manufatureiros fizeram uma mudança na técnica: com as mesmas matérias primas e ferramentas que os artesãos usavam individualmente, agruparam operários em grandes oficinas, onde cada grupo fazia uma parte da produção total (...), conseguiram um grande aumento da produção e abriram caminho para o surgimento da máquina-ferramenta e da grande indústria, entre fins do século XVIII e começo do XIX.
1170 - Engels dizia que proletário é quem tem que vender sua força de trabalho por estar privado dos meios de produção.
1171 - Diz que muitas lutas de classes na Idade Média pareciam meras disputas religiosas. Ambos os lados invocavam a Bíblia (acho que dá pra fazer um paralelo com a defesa do nacionalismo que parte da esquerda faz. Como isso teria poder de mobilização, aponta-se que seria importante incentivar, mesmo sendo algo meio falso. Curioso que esses defensores não utilizem também o discurso religioso que, afinal, é ainda mais poderoso).
1172 - Sociedades asiáticas (egípcia… chinesa… mesopotâmica...): são as primeiras a produzirem excedentes, graças à utilização das águas dos rios para irrigação. Com a agricultura de irrigação surge a civilização, quer dizer, as cidades, o comércio, a escrita e todas as instituições básicas que hoje conhecemos (estado, exército, igreja, escola, etc).
1173 - … Surgem as castas superiores exploradoras. Mesmo sem propriedade privada ou direito de herança. Usufruem da situação como burocratas ao, por exemplo, cuidar da distribuição da água (Moreno coloca talvez como motivo maior para surgimento do Estado), entre outros negócios. É consequência da abundância alimentar: Pela primeira vez se dá a diferenciação social entre os que trabalham e produzem e os que administram o trabalho e a produção alheia.
1174 - Os três principais segmentos da burocracia asiática são os militares, os burocratas e os sacerdotes.
1175 - A ciência era muito empírica e se prestava a solucionar problemas práticos, sem alto nível de abstração e generalidade. Ainda assim, a ciência asiática foi formidável, desde a pólvora até a imprensa, passando pela escrita e a solução de casos concretos do teorema de Pitágoras.
1176 - Coloca o arado de metal como grande inovação técnica na passagem para o escravismo. O instrumento permitiu extender a agricultura a terras secas.
1177 - Idade Antiga: O desenvolvimento do comércio internacional e de grandes cidades que o monopolizavam originaram os grandes impérios, como o de Alexandre na Grécia, os de Cartago, Roma e Alexandria, que oprimiam inúmeros povos.
1178 - … Havia uma democracia oligárquica, pois os plebeus não eram cidadãos. O estado no mundo antigo era um órgão dos donos de escravos e dos grandes impérios.
1179 - Ócio criativo e pensamento abstrato se tornaram possíveis, como ocorreu na Grécia.
1180 - A decadência do mundo antigo teve a ver com a produção estática. Os donos de escravos não tinham interesse em desenvolver a produção, porque viviam luxuosamente da exploração destes.
1181 - Idade Média. Com a fechada do Mediterrâneo pelos árabes, o Comércio ficou dificultado. Toda a Europa se transformou numa economia agrícola, baseada no auto-abastecimento, e desapareceram as cidades.
1182 - … No entanto, foi uma época sim de avanços produtivos. O arado de ferro ficou mais pesado e viabilizou a produção em zonas centrais (longe do mar) e de bosques; a rotação de terrenos possibilitou o “pousio” para recuperação da fertilidade do solo. Por fim, surge a servidão feudal, que prende o servo à terra (inclusive trocando de senhor quando o original deixa ou perde as terras) e descende do “colonato” romano, como solução para a falta de produtividade que o escravismo presenciou. A escravidão vira relação marginal, mais doméstica mesmo.
1183 - No feudalismo, se delimita claramente a magnitude da exploração: a décima parte é para a Igreja (o dízimo) e, dos sete dias da semana, um descansa, três trabalha para o senhor, e três para ele mesmo. Em “troca”, o senhor feudal defendia o servo (as terras e tal) militarmente.
1184 - A exploração foi aumentando com o passar dos anos e se destinando a atender muitos caprichos da Igreja e dos senhores. A França foi o país mais feudal e lá chegou a haver quase duzentas obrigações, às vésperas da grande Revolução Francesa.
1185 - Primeiro há o cavaleiro ou barão, que domina uma pequena extensão de terra, chamado feudo, onde ele mandava. Um conde ou duque manda em vários senhores. Um príncipe manda em vários condes ou duques. Acima dos príncipes há o rei. Embora alguns tenham sido muito fortes, em geral os reis eram débeis, porque era uma manobra dos príncipes para que não os dominassem.
1186 - Igreja e superestrutura. Monopolizava o ensino, o registro civil, quase todas as expressões culturais, a arte e a ciência. Até Carlos Magno era analfabeto.
1187 - O restabelecimento das vias de comunicação com o Oriente foi dando lugar ao ressurgimento do comércio e, em conseqüência, das cidades. (...) Os reis volta e meia acudiam às cidades em busca de ajuda, para tomar dinheiro emprestado e então lhes faziam firmar um compromisso de que respeitariam a autonomia da cidade. Junto aos comerciantes e agiotas se fortaleceram os artesãos.
1188 - Os preços dos artesãos (para par de sapatos, por exemplo) eram altos e seus segredos de produção protegidos. Assim, viviam bem. A burguesia não curtia isso. Queria mão-de-obra barata. Também não curtia essa história de “feudos”, por dificultar o comércio interno.
1189 - Entre 1770 e 1830 se produziu a revolução industrial, com a introdução da energia a vapor e das máquinas-ferramenta; com isso, teve início o período da grande indústria e a burguesia adquiriu pleno domínio.
(abaixo, outra versão de fichamento desse mesmo texto aí):
Nahuel Moreno - Conceitos
Básicos do Materialismo Histórico:
313 - Antes das
explicações materialista para a História: As
principais interpretações giram em torno de que tudo era obra e vontade de
Deus, ou produto de alguma raça ou nacionalidade privilegiada, ou da ação
genial dos grandes homens, ou ainda da evolução das idéias.
314 - Desenvolvimento de
ferramentas e técnicas: A esta relação
entre os homens e a natureza denominamos infraestrutura, ou meios de produção,
ou forças produtivas. … Principal motor do avanço histórico.
315 - Já as relações
entre homem-homem são, no capitalismo, relações de produção envolvendo classes
sociais.
316 - Trotsky via uma
mudança no quadro de sua época: A moderna
classe média se compõe, não de pequenos proprietárias independentes (tal como
era na época de Marx), mas de assalariados: os bancários; os comerciários; os
professores; os médicos, advogados, arquitetos e engenheiros que trabalham como
empregados de grandes clínicas ou empresas construtoras; os técnicos e
empregados da publicidade, diversões e meios de comunicação (rádios, TV,
cinema, teatro, etc) e assim por diante.
317 - Superestrutura: Em primeiro lugar, as Instituições, como o
estado, a polícia, o exército, a igreja, a escola, o parlamento, e poderíamos
agregar os partidos políticos, os sindicatos, etc. (...) Em segundo lugar, as
crenças, as Ideologias ou falsas consciências, como acreditar em Deus ou na
pátria.
318 - Na Idade Média houve terríveis guerras civis
entre os senhores feudais e correntes camponesas comunistas. Embora ambos os
setores citassem a Bíblia e dissessem lutar por questões religiosas, na
realidade lutavam por interesses sociais antagônicos. (Motivos declarados,
em lutas, muitas vezes divergem dos motivos reais. Os gregos atribuíam boa
parte de suas lutas aos deuses)
319 - Ideologias podem
ter até um papel positivo, em que pese a falsidade, afirma. Porém… A partir do século passado, quando o
proletariado começa a se organizar e surge o marxismo, todas as ideologias
passam a ser, em geral, negativas, porque pela primeira vez uma corrente
política e social passa a se apoiar, a se guiar pela ciência e pelo que ocorre
na realidade.
320 - As diferentes classes se refletem na
superestrutura. Há instituições e ideologias próprias da burguesia, dos
exploradores, e há as da classe operária. As da burguesia a dominam também.
321 - Alguns historiadores da revolução francesa
haviam começado a esboçar uma interpretação parecida com a de Marx, mas foi ele
o primeiro a afirmar categoricamente que a “história de todas a sociedades que
existiram até nossos dias é a história da luta de classes” (1848- Manifesto
Comunista). Este é um enfoque novo, revolucionário, e pedra angular do
marxismo. Quando não tinha classes, era só o desenvolvimento das forças
produtivas mesmo.
322 - O melhor caçador ou guerreiro era o chefe ou
cacique. Mas trabalhava igual aos outros e era trocado sempre que sua tribo
considerava necessário. Mesmo em alguns milênios pós-revolução neolítica,
defende-se que isso continuou a acontecer. Quando raspavam o solo e plantavam
algo.
323 - Tudo muda com a
agricultura de irrigação, que, usando os rios, aumenta por três ou quatro vezes
a produção e podem gerar excedentes. Surge a exploração do homem pelo homem.
Surge a civilização e as instituições que conhecemos. A mais familiar é a
egípcia, porém, a maior foi a chinesa. Surge o sistema de castas.
324 - … Há exploração sem
classes, afirma. Os privilegiados não são
donos das águas, nem das terras e canais, nem das ferramentas (por isso não são
classes), mas usufruem de sua situação de burocratas, como administradores da
distribuição da água, e por esse meio, da produção dos outros e da
distribuição.
325 - O excedente permite
ter gente que consome e não produz. A
irrigação requer juizes que administrem as águas. Quem cultiva trata de fazer
com que a água vá para o seu lado. E então tem que haver um administrador, para
evitar que alguns (os mais fortes) fiquem com toda a água e os demais sem nada.
A repartição da água gera antagonismo, e tem que aparecer alguém que a regule,
para evitar que esse antagonismo destrua a vida social. Surge então, pela
primeira vez na história da humanidade, o estado, para administrar as águas e a
construção de canais e diques. (...) À medida que aumenta a extensão das terras
irrigadas e em conseqüência a população e a produção, a exploração se
intensifica e o estado se torna cada vez mais gigantesco, um aparato imenso,
com milhares de burocratas ou funcionários que controlam milhões de pessoas,
administrando os maiores rios do mundo, e encabeçados por imperadores
onipotentes.
326 - Há um desenvolvimento importante da ciência,
mas empírico (invenção da pólvora): dá soluções parciais e não se eleva a
formular leis gerais. Isto se deve ao escasso desenvolvimento do comércio, que
será o grande motor para o desenvolvimento da aritmética, da geometria e das
ciências mais abstratas.
327 - A sociedade
escravista, uns três mil anos antes de Cristo, viria a surgir com duas
revoluções tecnológicas: o arado de metal, levando a agricultura às terras
secas, e a navegação marítima, gerando intercâmbio de produção. O trigo da Sicília e do Egito começou a ser
trocado pela uva e pelo vinho da Grécia e da Itália, e por produtos da
metalurgia. (...) Começa a aparecer o dono de um negócio, o dono de algumas
terras, ou das mercadorias que se trocam. Surge, também, uma propriedade
rendosa: Até então, quando nas guerras se
faziam prisioneiros, ou os matavam ou os assimilavam como iguais na sociedade.
Ao aparecer o escravismo, pela primeira vez os povos derrotados foram
transformados em escravos.
328 - É nesta época que o estado adquire as
características comuns a todas as sociedade de classes: seu surgimento é
produto do caráter irreconciliável dos interesses de classe, seu traço
fundamental são os destacamentos especiais de homens armados e sua função é
defender os interesses da classe mais poderosa, da classe dominante. O estado
no mundo antigo era um órgão dos donos de escravos e dos grandes impérios.
(...) O regime político é uma democracia oligárquica, na qual tinham direitos
de cidadão exclusivamente os donos de escravos e os comerciantes. Plebeus
não.
329 - O escravismo gerou
luxo e acomodação para os senhores, que estagnaram a economia. Veio o
feudalismo. Os árabes tomaram o Mediterrâneo, o que impossibilitou a Europa de
comerciar. Toda a Europa se transformou
numa economia agrícola, baseada no auto-abastecimento, e desapareceram as
cidades. Porém, as forças produtivas continuaram se desenvolvendo: A utilização do arado de ferro, muito mais
pesado, permitiu o cultivo de zonas de bosques e das terras duras do centro e
norte da Europa. Também houve um grande avanço técnico: a rotação, ou rodízio
dos terrenos cultivados.
330 - O colonato romano
virou servidão: Devido à decadência do
Império e à falta de produtividade das terras cultivadas pelos escravos, os
grandes donos de terras começaram a ”libertá-los”, amarrando-os a um pedaço de
terra que lhes entregavam para que a explorassem e lhes exigiam, em troca dessa
“liberdade”, uma porcentagem da produção.
331 - A Igreja
monopolizava inclusive o saber e dava unidade ao sistema feudal. Até mesmo o nobres eram, em sua maioria,
analfabetos, como por exemplo o grande imperador Carlos Magno.
332 - A ciência é muito mais atrasada que a do
mundo árabe. Há um estancamento ou retrocesso, em conseqüência do quase
desaparecimento do comércio. A partir do Renascimento (século XV), se começa a
traduzir do árabe suas conquistas científicas, que servem de base para o
colossal desenvolvimento das ciências e técnicas modernas.
333 - Corporações de
ofício: Esse sistema não convinha à
burguesia que necessitava de mão-de-obra barata para produzir e ganhar mais.
Estabeleceu-se uma luta implacável, e a burguesia fazia de tudo para roubar os
segredos dos artesãos. O capitalismo nasceu atacando a estrutura dos grêmios e
levando matéria-prima às casas dos camponeses, para que lhes fizessem parte do
trabalho, muito mais barato.
334 - Entre 1770 e 1830 se produziu a revolução
industrial, com a introdução da energia a vapor e das máquinas-ferramenta; com
isso, teve início o período da grande indústria e a burguesia adquiriu pleno
domínio. (...) Depois continuou a haver avanços colossais, como as novas fontes
de energia (a eletricidade, o petróleo, etc.), a invenção do automóvel, os
tratores, a maquinaria agrícola, os aviões, etc. A produção capitalista foi se
estendo ao mundo todo e se transformou num sistema mundial. No século XX, com a
cibernética, os foguetes, a petroquímica, a eletrônica e outros avanços, se
produziu a chamada “terceira revolução industrial”.
335 - As monarquias
absolutistas: São regimes muito fortes,
que arbitram entre a nobreza e a burguesia, fazendo a esta grandes concessões,
sobretudo à burguesia financeira, à qual os reis deviam muito dinheiro.
Depois veio o Estado Burguês propriamente dito.
336 - A parte do texto
sobre imperialismo é errada.
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