Marxistas - Textos Diversos LXIX - Revolução Burguesa e Revolução Permanente em Marx e Engels (Lowy)
Michael Löwy - Revolução Burguesa e Revolução Permanente em Marx e Engels:
1106 - Chama a atenção para o fato de que, segundo Popper, o esperado, na teoria marxista, era que a revolução fosse fruto do desenvolvimento industrial, e não o contrário, como querem os países atrasados. Por essas e outras que Kautsky não apoiou a revolução russa.
1107 - A Revolução Francesa era a ruptura burguesa clássica. Não sem motivo, Marx era puto com a alemã. “Enquanto a burguesia francesa jamais abandonara seus aliados, os camponeses, na luta comum contra o feudalismo, a burguesia alemã de 1848 traíra lamentavelmente o campesinato para entrar em acordo com a aristocracia feudal e a monarquia”.
1108 - Lowy observa que, entretanto, foi a plebe que empurrou a burguesia revolucionária inclusive ao Terror.
1109 - Marx acreditava que, a partir de fevereiro de 1848, o proletariado fosse conquistas cada vez mais posições, numa espécie de revolução permanente, termo que Marx utilizou sem muita pretensão em 1844, mas que começou a se tornar mais frequente e classista em 48-50.
1110 - Lowy observa o quanto o etapismo (e, de certa forma, todos aqueles “ismos” - determinismo, economicismo, evolucionismo…) estava presente nos raciocínios da dupla: Na Introdução de 1895 às Lutas de Classe na França, Engels afirma a propósito da Revolução de 1848: "a história... mostrou claramente que o estado do desenvolvimento econômico no continente ainda estava muito longe do amadurecimento necessário para a supressão da produção capitalista; demonstrou-o pela revolução econômica que, a partir de 1848, apoderou-se de todo o continente... tudo isso em bases capitalistas, o que significa que essas bases tinham ainda, em 1848, grande capacidade de expansão".
1111 - Outro exemplo: carta de Marx a S. Meyer e A. Vogt de 9 de abril de 1870: "sendo a Inglaterra a metrópole do capital, o poder que até agora dirigiu o mercado mundial, vem a ser também o pais mais importante para a revolução dos operários e, além disso, o único país no qual as condições materiais desta revolução desenvolveram-se até um certo grau de maturação".
1112 - Marx pensa, segundo Lowy de forma discutível, que uma tomada do poder prematura pelo proletariado tende a ser efêmera. “Discutível” porque o exemplo que Marx dá é o jacobinismo, que, para Lowy, nada tinha de “proletário”. Engels, em 1853, confirma, em carta, a tendência ao fracasso dessas experiências apressadas.
1113 - É interessante notar que esta concepção de um poder proletário, ou de uma coalizão entre operários e camponeses, limitado à execução de tarefas burguesas e revolucionárias, reapareceria na ala esquerda da Segunda Internacional antes de 1914 (notadamente com relação à Rússia): basta pensar na célebre fórmula de Lenin antes de Î917, a "ditadura democrática do proletariado e do campesinato".
1114 - Alemanha entre 1844 e 56: um país absolutista (reinado prussiano de Frederico Guilherme IV), semifeudal e que ainda não conhecera uma revolução burguesa.
1115 - Lowy lembra que Marx, na Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, conclui que só o proletariado pode praticar a emancipação universal por lá. (Ocorre que, no mesmo texto, Marx parece ver claramente etapas para isso, logo, não sei se o trecho destacado por Lowy, implica uma “revolução já” ou uma “revolução permanente”. Na verdade, como anotei no fichamento do texto, Marx pareceu meio confuso lá, até pelas coisas que diria anos depois sobre “maturidade para a revolução”)
1116 - No Manifesto, há um trecho pouco detalhado que fala da revolução alemã como prelúdio da proletária em razão do proletariado alemão já estar mais desenvolvido que o francês do século passado. Isso leva os “não-etapistas” a considerarem que podem se apoiar em Marx e Engels, dando-lhes a seguinte interpretação (extensiva?): 1) a idéia de que o desenvolvimento econômico e social (a "civilização"), seu grau de "maturação revolucionária", não podem ser medidos nos limites de um só Estado mas em escala internacional (europeia, no Século XIX); 2) a compreensão do fato de que uma revolução burguesa clássica (de tipo inglês ou francês) não se pode repetir na Alemanha em função do peso social e político que ganhou o proletariado no país; 3) a intuição de que a revolução burguesa e a revolução proletária não são duas etapas históricas distintas, mas dois momentos de um mesmo processo revolucionário ininterrupto.
1117 - Num primeiro período (essencialmente ao longo do ano de 1848), Marx e Engels vão tratar de pôr em prática o momento inicial, tático, de sua orientação: a luta em comum com a burguesia contra o absolutismo. Eles aderem à Associação Democrática de Colônia e o jornal que fundam intitula-se simplesmente "órgão da democracia": chegam até a associar alguns acionistas burgueses ao seu lançamento (aliás a maioria o abandonará ao fim de algumas semanas). Rosa analisaria como tática fadada ao fracasso e Stálin como “acertada”. Interessante.
1118 - Engels após a capitulação da burguesia perante a monarquia em setembro de 48: a luta que está na ordem do dia "em Viena como em Paris, em Berlim como em Frankfurt, em Londres como era Milão, é a derrubada do poder político da burguesia!'" em todas as barricadas do continente eleva-se "o emblema do combate do proletariado europeu fraternizado", a bandeira vermelha, com a qual combateu-se, em Frankfurt, "o Parlamento dos junkers e burgueses unificados".
1119 - Em fevereiro de 49, Marx fala de aliança entre o proletariado, campesinato e pequena burguesia para revolucionar a Alemanha. Em textos seguintes (1850), Marx chega a dizer que toda reforma social é impossível na Europa antes da revolução proletária. Está abandonada a tentativa de aliança com a burguesia, no entender de Lowy. Não há meio termo. Marx fala em “dominação integral do proletariado”. (Estranho, pois o Marx velho dará declarações escapista, como já visto. Às vezes, Marx me parece bem emocional (humano?) nas suas avaliações…)
1120 - O que é interessante é que Lowy observa o quanto a teoria de Marx flutuava de acordo com os acontecimentos históricos. Ah se todos os marxistas fossem assim(!), observa.
1121 - Anota a principal medida da mensagem ao comitê central da Liga (1850): o desenvolvimento ininterrupto da revolução num país semifeudal, até a tomada do poder pelo proletariado. (A mensagem, “como já li e fichei”, é um texto problemático para os etapistas. De certa forma, o que Marx prevê lá como tarefas aos alemães foi bem parecido com o que Lênin fez do início ao fim de 1917, por exemplo)
1122 - Muitos odeiam a “mensagem” e sua “revolução permanente”: Trata-se, para uns, de um "programa revolucionário incompatível com o materialismo histórico", para outros, de uma "breve aberração jacobino-blanquista" de Marx. O historiador menchevique Nicolaievsky pensa ser "difícil afirmar que este documento reflete realmente, em todos os detalhes, a opinião de Marx", sendo de fato, um "compromisso" de Marx com a ala extremista da Liga dos Comunistas.
1123 - Para Lowy, não é que o materialismo histórico não sirva ou que os textos da época 48-50 não se fundamentassem no mesmo (como querem alguns). O que ocorre é que um método de análise, mesmo correto, não se presta a prever e acertar todos os fatos. (Não serviu para prever a revolução proletária na Alemanha em 1850, mas a Rússia de 1917 mostrou que era sim possível revolução proletária em país “atrasado”)
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