Marxistas - Textos Diversos LXVII - Marxismo e Imagem do Brasil em Florestan Fernandes (Coutinho)
Marxismo e Imagem do Brasil em Florestan Fernandes:
1077 - Texto de 2000 de Carlos Nelson Coutinho.
1078 - Em “Revolução Burguesa no Brasil”, Florestan troca o funcionalismo pelo marxismo, como metodologia.
1079 - Sobre Caio Prado: Florestan, em minha opinião, avança com relação ao autor de Formação do Brasil contemporâneo. Certo é que ambos divergem do esquema PCB de explicação das coisas, que praticamente pedia uma aliança com a burguesia supostamente antiimperialista. Ambos acreditavam que o país tinha sim passado por uma revolução burguesa, só não era a clássica.
1080 - Gramsci e Lênin já apontavam essa possibilidade. O primeiro ao tratar da “via prussiana” e o segundo da “revolução passiva”, com conciliação pelo alto. Coutinho afirma que Caio Prado chegou a conclusões semelhantes, mas desconhecia inteiramente Gramsci e talvez o texto de Lênin sobre o assunto (1907).
1081 - Critica Caio por este falar em “burguesia agrária” devido a mera presença de relações mercantis na era colonial. É como se houvesse um capitalismo incompleto (e não havia).
1082 - Critica Caio também por, em pleno 1977, não enxergar a clara industrialização brasileira. Vê mais a conservação do velho (colonial) que a emergência do novo.
1083 - Florestan diz que a virada ocorreu com os fazendeiros de café e trabalho imigrante. Surgia uma mentalidade capitalista a substituir a patrimonialista dos escravagistas que iria capacitar os novos atores a protagonizarem essa revolução burguesa (meio que passiva).
1084 - Vê ambiguidades em Florestan que só se resolverão na última parte do livro. (...) embora se valha de uma terminologia weberiana (“patrimonialismo”, “estamento”, etc.), ele nos apresenta nesse livro uma análise das motivações comportamentais dos senhores de escravos que se aproxima em muitos casos de uma análise marxista. É que a parte I e a parte II do livro foram escritas em 1966, quando a influência de Weber era mais forte. “Sociedade estamental” cede lugar a “escravismo colonial” na parte III.
1085 - Florestan: Para ele, residiria sobretudo nesse caráter dependente e subalterno de nossa formação social a razão por que não seguimos uma “via clássica” para a modernidade; ou, mais precisamente, foi por termos sempre ocupado uma posição dependente no quadro do capitalismo internacional que não pudemos conhecer uma revolução burguesa capaz de forjar em nosso País uma superestrutura política que, referindo-se a Barrington Moore Jr., Florestan chama de “liberal-democrática”.
1086 - (Por sinal, volta e meia me pergunto se revoluções burguesas clássicas só não foram mesmo possíveis nos países mais avançados de sua época. Parece-me que a “exceção” ao “classicismo” é a regra. Brasil, Prússia, Rússia…)
1087 - Florestan fala ainda de outro fator. O fato das mudanças no Brasil se darem em plena “ameaça comunista real” faz com que a burguesia tenha mais medo e prefira se aliar às velhas classes dominantes e aos segmentos militares, ao invés de tentar um compromisso mais permanente com as classes subalternas, compromisso que, se realizado, implicaria uma ampliação dos direitos de cidadania entre nós.
1088 - Coutinho crê que tudo isso não explica tudo, porém. Alemanha e Japão eram “tardios”, mas não “dependentes”. (Ora o argumento de Fernandes não me pareceu ser que “tem que ser os dois ao mesmo tempo”) Ademais, queria incluir nosso modo tosco de (não) resolução da questão agrária ao fim do escravismo. (Vejo mais como sintoma que como causa do “não-classicismo”, ué!)
1089 - A autocracia burguesa de Florestan seria a “ditadura sem hegemonia” de Grasmci. Como o Estado não pode/quer conseguir o consenso dos de baixo, opta pela coerção simplesmente. Coutinho critica o “autocrático” porque o poder não se centralizava numa pessoa, havendo inclusive sucessão presidencial.
1090 - Afirma que Florestan sempre supôs que — embora pudesse alterar alguns traços inessenciais do seu modo de dominação — a burguesia brasileira seria incapaz de renunciar a estruturas autocráticas de dominação, já que tal renúncia poria seriamente em risco não só o seu poder, mas a sua própria existência como classe. (Se foi assim, errou) Parecia também entender que os anos 80/90 trariam um "autêntico capitalismo de Estado", no que também errou. A não ser que “autocracia” seja uma coisa mais amena.
1091 - Afirma que a "transação conservadora" que Florestan viu nos anos 80 não foi tão conservadora assim, pois foi empurrada pelas massas e gestou a Constituição de 88.
1092 - Período populista (45-64) pra Florestan: Não existia uma democracia burguesa fraca, mas uma autocracia burguesa dissimulada.
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