Manolo - Extrema-Esquerda e Desenvolvimentismo - Parte VII

(Continuação...)

665 - E o anarquismo nesse período 45-64? Embora fazendo muitas movimentações, eram mais atividades de grupos de cultura e preservação da memória, longe da enorme influência que tiveram no movimento operário e na própria formação da classe trabalhadora brasileira antes de 1930.

666 - O PSR, de 1950, era trotskista e tinha Mário Pedrosa, Rachel de Queiroz etc. entre seus quadros. Sacchetta era da segunda geração. Entre as duas gerações havia todo tipo de divergências, desde a atuação junto à IV Internacional – onde Mário Pedrosa fora publicamente censurado, inclusive pelo próprio PSR que lá representava, dentre outras coisas por divergir de Trotski quanto à tese de “defesa incondicional da URSS” na Segunda Guerra – até a caracterização do Estado Novo varguista – “ditadura policial-militar e bonapartista” para a primeira geração, “fascismo” para a segunda. Hermínio Sacchetta, personalidade dominante da segunda geração, exerceu influência duradoura sobre todos que o conheceram, como Florestan Fernandes.

667 - Tragtenberg adorava Sacchetta, mas este ficou dois anos brigado com o jovem porque este lhe confidenciou que achava o trotskismo um stalinismo refinado.

668 - Hehe: O PSR tinha dez pessoas, entre militantes, simpatizantes e direção do partido. Um dia apareceu alguém na Biblioteca Municipal e disse: – Maurício, o partido precisa se lembrar do seguinte: é necessário que a revolução se faça imediatamente, não vamos esperar a data. Eu, por minha vez, falei: – Maurício, o que você acha desse partido que quer fazer uma revolução com dez pessoas? Maurício observou o fato. E um belo dia Sacchetta ficou bravo com ele, e o expulsou do partido. Assim, o PSR ficou com nove pessoas.

669 - O que era o entrismo do PSR e suas poucas dezenas de militantes? “sob a influência de seu secretário-geral, Michel Raptis (“Pablo”), (...) dizia ser impossível permanecer neutro à bipolarização do mundo na Guerra Fria e que era preciso fazer “apoio crítico” à URSS entrando nos partidos comunistas para, dentro deles, formar “oposições de esquerda” e disputar seus programas por dentro.” Também se prestava a fazer cooptações de militantes.

670 - Sacchetta saiu do PSR por cada vez mais concordar com Mário Pedrosa: a URSS era um capitalismo de estado e não um estado operário degenerado.

671 - A terceira geração de trotskistas brasileiros formaria o POR, tendo de 20 a 50 militantes inicialmente, dissidentes do PSR (agora quase extinto já) e PSB. (Os primeira geração descende lá daquele racha no PCB na época da Intentona Comunista). Os críticos aos PSR não aderiram e foram formar a LSI...

672 - LSI (1956): “… nós três [Sacchetta, Moniz Bandeira e Rocha Barros] procuramos alguns trotskistas para formar a LSI porque ainda havia aqueles velhos trotskistas que tinham rompido com a IV [Internacional] e que eram revolucionários (…) Maurício Tragtenberg e Paul Singer também estiveram na Liga, mas logo se afastaram, pois adotaram uma posição mais moderada. (…) Michael Löwy, Gabriel Cohn, os irmãos Eder e Emir Sader também fizeram parte do grupo. (…) essa Liga Socialista que nós fundamos era mais luxemburguista, considerava a União Soviética um capitalismo de Estado, que era a tese que eu defendia”.

673 - … Meia dúzia de gatos pingados que queriam acabar com a exploração capitalista, segundo Löwy. Vinte pessoas no máximo. O único operário era um sapateiro anarquista. Denunciavam com vigor as ilusões do nacional-desenvolvimentismo e do socialismo soviético.

674 - Em 1960, ele (Löwy) e os irmãos Sader partiram para a POLOP. Cansaram de pregar no deserto.

675 - LSI mudou para MCI - Movimento Comunista Internacionalista - na década de 60.

676 - As denúncias da época chegam a falar claramente na possibilidade desse período “democrático” jajá cessar. Parece que Waldir Pires não acompanhava as análises dos membros do LSI. A de 1958 já mostrava isso.

677 - A de 1960 coloca Jango como um dos maiores proprietários de terras do país. Diz ainda sobre Quadros e Lott e as eleições: “Existe, ainda, um traço comum aos dois candidatos – no Antonio Conselheiro caspento, como sempre, em maior dose: a ausência de compromisso com os partidos e, por consequência, a falta de plataforma definida (…) eleito presidente, qualquer dos dois tenderá a evoluir para o bonapartismo, isto é, para o poder unipessoal, supostamente acima das classes.”

678 - A aliança do POR com Jânio em 52 se deu da seguinte forma: “(...) lá, também na presença de outros militantes do POR como Leôncio Martins Rodrigues, Boris e Ruy Fausto, fechou um programa básico a cujo endosso o POR condicionava seu apoio. Os trotskistas, em troca disto e também de espaço no jornal A Hora, de verbas para aumentar a tiragem de Frente Operária e de um carro de som emprestado, fizeram campanha para Jânio em bairros populares e em portas de fábricas, naquilo que foi confessadamente seu primeiro contato com as massas”. Jânio obviamente traiu o acordo quando eleito.

679 - O POR tinha umas análises de conjuntura bem contestáveis. Entre 59 e 62 oscilou entre tentar frentes de esquerda (pensaram até numa candidatura em 1960) e centrar fogo pesado no “entrismo”.

680 - Conclusão de Manolo para este capítulo: “Na verdade, suas análises e prática política demonstraram, como caso dos anarquistas, da LSI e do MCI, sua impotência política para além do campo da própria extrema-esquerda; ou, como no caso do POR, a vacilação entre seguir as massas a qualquer custo no impulso ao desenvolvimento econômico – no que perderia sua especificidade e terminaria fundindo-se com a esquerda hegemônica – e propor uma política que as tornassem independentes diante dos interesses das classes dominantes da época.”

(continua...)

Comentários