Fatos e Dados (Brasil) - Parte XIII - Odebrecht, Uma Transnacional Alimentada Pelo Estado
Odebrecht, Uma Transnacional Alimentada Pelo Estado:
988 - É de 2013. Da “Le Monde”. Explica: a Odebrecht foi se diversificando ao longo do tempo até se tornar o maior grupo industrial do Brasil. Energia (gás, petróleo, nuclear), água, agronegócio, setor imobiliário, defesa, transportes, finanças, seguros, serviços ambientais e setor petroquímico: sua lista de atividades constitui um inventário interminável. Mas, embora a brasileira seja a maior construtora de barragens do mundo, com onze projetos tocados simultaneamente em 2012, é o setor petroquímico que gera mais de 60% de suas receitas. A Braskem, “joia” compartilhada com a Petrobras, produz e exporta resinas plásticas para sessenta países. Emprega 250 mil pessoas.
989 - Em dez anos, seu volume de negócios aumentou seis vezes, passando do equivalente a R$ 15 bilhões em 2002 para R$ 96 bilhões em 2012.
990 - Marcelo é neto de Norberto. “De origem alemã, a família Odebrecht emigrou em 1856, chegando ao estado brasileiro de Santa Catarina para em seguida se estabelecer em Salvador, na Bahia, onde sua empresa familiar foi fundada em 1944.”
991 - A TEO se baseia em “comunidades do conhecimento”. A Odebrecht tinha até medo de crescer em ritmo superior ao da disseminação da TEO. “Transmissão de experiência” e “educação por meio do trabalho” são as diretrizes lá. Empresa-escola.
992 - “A organização deve ter uma estrutura horizontal, na qual as decisões e os resultados, em vez de subirem e descerem, fluem e refluem”, escreve Norberto Odebrecht em suas obras completas, publicadas sob o título de Educação pelo trabalho, que cada novo membro contratado é obrigado a ler.” O livro é de 1991 e o, de outro título, que sistematizou a TEO é de 1983, vi no google.
993 - Vargas e a ditadura de 64 foram “parteiros” da emergência de novos grupos industriais e direcionamento de outros para atividades mais arriscadas e grandiosas.
994 - Interessante como as coisas são complexas: “À sombra do Estado, a empresa conseguiu socializar o custo de seu desenvolvimento tecnológico: os contribuintes pagam mais caro pelos produtos e serviços que o país se recusa a importar. O resultado desafia os pressupostos ideológicos do Brookings Institution, um think tank liberal norte-americano: “paradoxalmente,” o protecionismo brasileiro teria “oferecido uma base sólida para a próxima geração de empresas privadas, voltadas para o exterior e envolvidas na competição globalizada”. (...) Para a Odebrecht, foram o Peru e o Chile em 1979, Angola em 1980, Portugal em 1988, Estados Unidos em 1991 e, finalmente, o Oriente Médio na década de 2000.
995 - Previ, Petros etc.: “Por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social [BNDES], da Petrobras e dos grandes fundos de pensão, o Estado brasileiro está hoje presente em 119 grupos, contra 30 em 1996.”
996 - Essa gestão de “campeões” foi retomada, portanto, com o governo Lula: “Assim, o grupo Odebrecht pode contar com o dinheiro do fundo de garantia FI-FGTS – que indeniza os desempregados brasileiros e possui 27% da Odebrecht Ambiental e 30% da Odebrecht Transport – ou do BNDES, que desde 2009 controla 30% da Odebrecht Agroindustrial. Por fim, a Petrobras é acionista da Braskem, com 38% de participação.” (fico me perguntando o que é que vai acontecer se essa porra falir…)
997 - O BNDES emprestou bilhões para a Odebrecht ir ganhando mercado externo na África, Ásia etc. Financiou, com 250 milhões, uma obra (barragem) da Odebrecht no Equador, por exemplo. Deu ruim. Equador se recusou a pagar pelas deficiências na obra. Incidente diplomático. Hugo Chávez alfinetou Correa. Disse que a Odebrecht era empresa amiga da Venezuela...
998 - Doa milhões a várias campanhas. Para Dilma foram 10, em 2010. “Marcelo Odebrecht, explicou recentemente à revista Época Negócios: “Somos, sim, alinhados com o governo e não vemos nenhum conflito nisso, afinal, o governo foi eleito e representa o interesse da população”. A empresa financia Lula e PT desde os tempos em que isso não era normal.
999 - Por que a Odebrecht entrou no ramo de defesa (submarinos, etc...)? Durante o segundo mandato do presidente (2007-2010), o orçamento da defesa aumentou 45%, e foi adotada a Estratégia Nacional de Defesa. Principais beneficiários: a Embraer, na aviação, e a empresa do doutor Norberto, na Marinha.
1000 - Desde 1950, porém, a empresa já construia laços com a Escola Superior de Guerra (ESG), “principal think tank brasileiro, onde militares e industriais estão lado a lado. A família Odebrecht e vários executivos do grupo passaram por cursos de formação ali, o que facilitou a assinatura de contratos, tanto durante a ditadura como hoje”.
1001 - Lula: “Em 22 de março de 2013, a Folha de S.Paulo revelou que metade das viagens de Lula desde sua saída da Presidência foi financiada pelas três grandes construtoras brasileiras: Odebrecht, OAS e Camargo Corrêa. Telegramas diplomáticos publicados pelo jornal sugerem que essas viagens ajudaram a “vencer resistências” encontradas pelas empresas brasileiras, principalmente em Moçambique, onde parte da população se revoltou contra o deslocamento forçado imposto por uma mina de carvão”.
1002 - No Peru, a Odebrecht, pela primeira vez, cavou um túnel através dos Andes, desviou um rio e construiu barragens e lagos artificiais para irrigar uma zona árida. Depois de concluído, o projeto, chamado Olmos, continuou sendo administrado pela Odebrecht, que revende os “serviços” de água, eletricidade e terra para pagar seu investimento inicial (que, como de costume, aumentou com o passar dos meses). As concessões dos primeiros 110 mil hectares foram todas para grandes empresas agroalimentares, cada lote estendendo-se por pelo menos mil hectares, o que torna impossível que os agricultores locais tirem proveito das terras irrigadas, embora o projeto inicial tenha sido concebido em torno de suas necessidades específicas.
(...)
O grupo não pode ser considerado responsável nem pela concessão de terras nem pelo reassentamento, em um desfiladeiro perigoso, da população deslocada, já que tudo foi feito pelas autoridades peruanas. Também não está provado que sua “relação privilegiada” com o presidente Alan García (1985-1990 e 2006-2011) tenha influenciado a obtenção do contrato. A Odebrecht avalia simplesmente que “respondeu a uma concessão pública, uma necessidade do país, em conformidade com o que considera ser seu papel: estar a serviço da humanidade”, como nos explicou seu porta-voz.
(...)
Em uma troca de gentilezas, a Odebrecht ofereceu ao Peru o “Cristo do Pacífico”: uma escultura de 36 metros de altura, réplica do Cristo Redentor do Rio de Janeiro: “A viagem de barco do Cristo durou 33 dias, para celebrar nossos 33 anos de atuação no Peru”.
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