Fatos e Dados (Brasil) - Parte XV - Manolo - Extrema-Esquerda e Desenvolvimentismo - Parte I

 

Manolo - Extrema-Esquerda e Desenvolvimentismo I:

579 - É um verdadeiro livro de Manolo. Mais de 150 páginas de Word. É sobre a história da esquerda pré-golpe de 64 (e pós, na “segunda parte”). Vou fichar logo aqui.

580 - Período 50 a 64: “Da mesma forma, se no período abrangido por este ensaio a esquerda era composta pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), a extrema-esquerda era então composta pela Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (ORM-POLOP), pelo Partido Operário Revolucionário (POR), pela Liga Socialista Independente (LSI), pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e pela Ação Popular (AP)”.

581 - A AP era a esquerda católica que se pretendia alternativa ao PCB. Com o golpe, virou APS e APML e, ainda depois, teve uma série de mudanças. Cada vez mais leninista e menos cristã.

582 - O Partido Comunista do Brasil (PCdoB), fundado também em 1962 a partir de uma cisão do Partido Comunista Brasileiro (PCB), ela própria resultante dos debates posteriores ao XX Congresso do Partido Comunista da URSS. Buscava apoio russo sem sucesso e se aliou ao partido chinês em 1963. Era pequeno.

583 - Embora a AP tenha tido bastante relevo na luta pelas reformas de base, em especial na agitação estudantil e cultural, é apenas na resistência à ditadura pós-1964 e após a imagem de falência das propostas do PCB que ela e o PCdoB incorporarão grande número de egressos do PCB e mostrarão sua verdadeira importância.

584 - Nos comentários, discute-se se Vargas foi fascista. “Imagino que você esteja familiarizado com a disputa entre a primeira e a segunda geração de trotskistas brasileiros sobre o caráter do regime varguista: enquanto a primeira (Mário Pedrosa e Lívio Xavier principalmente) qualificou-o como bonapartista, a segunda (Hermínio Sachetta principalmente) qualificou-o como fascista. Os próprios comunistas, assim como os anarquistas, qualificaram-no diretamente como fascista.”

585 - Um comentarista traz declarações atuais de Sader elogiando o legado de Vargas e Manolo explica que isso confirma sua conclusão de que tudo que ex-militantes defendem hoje tem a ver com posições e ações passadas - no caso de Sader, o período de encanto que a POLOP teve pelo canto de sereia varguista no início dessa organização (POLOP), digamos.

586 - Não é a única coisa “estranha”. A eleição de Plinio Sampaio (AP) também é interessante: “Mas ninguém, ou quase ninguém, fala de sua eleição à Câmara dos Deputados pelo Partido Democrata Cristão em 1962, cuja ala esquerda liderou. Curiosamente, o PDC era a mesma legenda de ninguém menos que… Jânio Quadros, mestre do nacionalismo conservador, eleito presidente em 1961 com apoio de uma dissidência do PTB (o PTN organizado por Hugo Borghi), de uma dissidência da UDN (o PR criado por Artur Bernardes), de um partido gaúcho (o PL de Raul Pilla) e da própria UDN.”

587 - Matheus, comentador, defende que Vargas não era fascista por não ser “expansionista”, nem “racista”, e por ter reprimido a AIB também.

588 - Manolo lembra que racista (racistão) nem Mussolini era. Sobre a AIB, Manolo observa que facções do fascismo podem brigar entre si: “Pergunto: você lembra da Noite dos Longos Punhais? É um exemplo de conflito dentro de uma mesma organização política fascista. Conhece a luta do Integralismo Lusitano e de seu movimento sucessor, o Movimento Nacional-Sindicalista, contra o Estado Novo de Salazar?” (...) Da mesma forma, pergunto: conhece os conflitos entre o regime de Engelbert Dollfuss — conhecido na historiografia como “austrofascismo” — e o Partido Nazista austríaco, conflitos estes que resultaram na morte do próprio Dollfuss?

589 - … Lembra, aliás, que há conflitos inclusive externos entre fascistas diferentes. Itália x Grécia, por exemplo.

590 - Matheus reformula seus “porquês” de Vargas não ser fascista. Afirma que o gaúcho chega ao poder: “Sem qualquer partido único, mobilização de massas, sistema ideológico, em uma nação caracterizada pela monocultura latifundiária e capitalista, voltada para a exportação e com fraco mercado interno. E uma pífia classe média, setor onde os fascistas recrutam seus MILITANTES (e esse aspecto ultramilitante do fascismo foi ignorado pelo Manolo)”.

591 - Manolo assinala uma longa fase de descenso entre 1871 e 1914. Segue-se ascenso (1916 a 1930).

592 - Lutas dos “gestores”: Suas primeiras lutas contra a burguesia pela remodelação do funcionamento da economia capitalista foram – além da primeira Revolução Russa (1905) – a Revolução Radical argentina (1905), a Revolução Constitucional iraniana (1906), a Revolução dos Jovens Turcos (1908), o Golpe de Goudi (1909), a Revolução Monegasca (1910), a Proclamação da República Portuguesa (1910), a Revolução Mexicana (1910) e a Revolução Xinhai (1911); esta onda revolucionária afetou mais de um quarto da população mundial, sendo comum a todas elas a presença dos gestores enquanto principal classe definidora do rumo dos eventos.

593 - O que são os gestores para Manolo: esta “terceira classe” é chamada de gestores, definidos enquanto classe dominante cujo poder funda-se, de um lado na gestão das condições gerais de produção do capitalismo (educação, urbanismo, publicidade, saúde pública, gestão da informação, segurança pública, setor energético, infraestrutura sanitária, setor logístico), sob cuja influência a produção capitalista aumenta suas taxas de produtividade em todos os setores simultaneamente, e de outro no controle coletivo dos meios de produção (através das técnicas de administração ditas “científicas”), cujo sentido e ritmo determinam através de uma complexa malha de integrações horizontais e verticais.

594 - Na “II Internacional” tinha gente fazendo, com apoio de Bernstein, relatório a favor do “colonialismo socialista”, um programa de reformas - escolas, higiene - sob tutela de algumas nações… Já outros relatores optavam por condenar qualquer colonialismo. Os segundos ganharam por margem apertada.

595 - Fala das estratégias utilizadas por tropas na I Guerra para minimizar os confrontos. Inclusive “já em 1914 ocorreram na terra de ninguém do front ocidental confraternizações entre tropas adversárias, especialmente no Natal”. Chama isso de resistência subterrânea.

596 - Em 1917, trinta mil homens do exército francês se rebelaram. Deixaram de cumprir ordens e arrancaram condecorações de um general. Ingleses e alemães também tiverem momentos do tipo. As greves aumentaram 500 a 700% nos principais países que participavam da guerra.

597 - … Nada se comparou, porém, ao exército russo.

(continua...)

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