Manolo - Extrema-Esquerda e Desenvolvimentismo - Parte II

(continuação...)

598 - Nas capitais brasileiras, era comum o escravo de ganho. Negros que possuiam mais oportunidades que outros de comprar sua alforria, já que trabalhavam a maior parte do tempo longe da vigilância do seu senhor, prestando serviços urbanos.

599 - 71% dos trabalhadores da capital de São Paulo em 1893 eram estrangeiros. Eram ainda 30% dos proprietários da cidade. Vieram muito bem posicionados em várias profissões (engenheiros, arquitetos, professores, artífices, manufatureiros etc.). Tudo isso é importante pra contestar aquela ideia besta de que o estrangeiro veio tão “lenhado” quanto o negro e se deu bem. Fora o capital educacional (digamos assim) e de organização política que muitos trouxeram na bagagem. Florestan traz vários dados que confirmam tudo isso. Vale a pena ler o livro dele sobre a integração do negro na sociedade de classes.

600 - Celso Furtado vai na mesma linha: “Aqueles que iam trabalhar nas manufaturas eram indivíduos com alguma experiência nesse setor em seu país de origem, e os salários tenderam a fixar-se em função das condições de vida a que estavam habituados” (Desenvolvimento e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 255).

601 - Sem contar, obviamente, a construção dos primeiros campos de concentração no Brasil, no Ceará, para conter as hordas de untermenschen avant la lettre, os flagelados da seca nordestina que se abatiam sobre as cidades para saqueá-las e saciar sua fome durante a seca de 1915; embora o mais famoso deles seja o do Alagadiço, com cerca de 8 mil internados, o maior deles, no Crato, chegou a engaiolar 60 mil pessoas.

602 - Operariado brasileiro: a situação era calamitosa ao ponto de Jorge Street, um dos poucos “industriais com visão social” da República Velha, afirmar em 1917 que “50% do operariado fabril brasileiro é constituído por pessoas abaixo de 18 anos”.

603 - Greves, protestos e conflitos armados nas ruas foram uma constante entre 1902 e 1919. A repressão também era máxima.

604 - Parece que nem tudo nasceu com a CLT. O saldo deste ciclo de lutas foi a imposição à burguesia industrial pelos operários de uma série de melhorias nas condições de trabalho (aumentos salariais escalonados, jornada de oito horas, pagamento diferenciado à hora extra, primeiras regulamentações do trabalho infantil etc.). (Seria, assim, um erro colocar Vargas como um antecipador genial… Seria ainda que não o ciclo de lutas nada tivesse conquistado)

605 - A partir daí, os empresários brasileiros começaram a ser forçados a pensar um pouco mais em termos de mais-valia relativa. Nem tudo é “absoluta”. Exemplo de preocupação com a mais valia relativa (antes mesmo do século XX)? “Muito antes das experiências de Jorge Street em São Paulo e Delmiro Gouveia em Alagoas, ambas iniciadas em 1911, Luís Tarquínio – filho de ex-escrava, balconista de uma firma de tecidos e saint-simoniano autodidata – fundou em Salvador, em 1891, o Empório Industrial Norte, maior companhia têxtil do Nordeste, com cerca de 1.600 operários, e talvez a mais tecnologicamente avançada do Brasil quando de seu lançamento. Junto à fábrica, Luís Tarquínio mandou construir 258 residências em oito quarteirões (totalizando 22km2 de área construída) e entregou-as em 1892 já equipadas com instalações elétricas, coisa rara inclusive nas principais mansões do Centro de Salvador. Luís Tarquínio também organizou a prestação de assistência médica, dental e hospitalar gratuita, creche, escola, biblioteca, museu de história natural e cooperativa. Cf. DUMÊT, Eliana Bittencourt. O semeador de ideias: o pensamento, a vida e a obra de Luís Tarquínio, um empresário de ideias revolucionárias em pleno século XIX;”

606 - Crise de 29: Os preços do algodão caíram 30%, os da borracha 40%, os da lã em 64%, os do gado em três vezes e meia e o valor global da produção agrícola brasileira caiu em duas vezes e meia. As falências anuais aumentaram 200% (de 200 para 600, mais ou menos) e as reservas de ouro esvaíram-se pagando dívida externa até chegar à insolvência!

607 - Para tentar manter os lucros, os empresários obviamente foram pra cima dos trabalhadores!

608 - A Coluna Prestes-Miguel Costa dos tenentistas chegou a pensar em abrigar trabalhadores, mas dispensou essa ideia por estes saquearem mercados em busca de víveres. Sairam de 24 a 27 pelo interior do Brasil “queimando títulos de dívidas, listas tributárias e processos judiciais, libertando presos políticos, organizando comícios e fazendo “justiça revolucionária”.

(continua...)

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