Fatos e Dados (Brasil) - Parte IX

 

Eduardo Tomazine - UPPs 2021, Um Exercício de Ficção Sociocientífica:

927 - Um comentador observa a valorização de 6,5% dos aluguéis em áreas de UPP. Ademais, as empresas, como “Casas Bahia”, começaram a entrar. O metro quadrado ficou caríssimo nas áreas comerciais.

 

De Individual a Coletivo, A Paralisação da Linha Verde Em Campinas (União Faz a Força):

928 - Interessante. Trata-se de um dia de paralisação surpresa de uma linha de ônibus porque os funcionários da empresa foram solidários com três colegas demitidos por justa causa em razão de deixar passageiros entrarem sem passar a roleta (e recebendo diretamente a passagem). A argumentação dos trabalhadores era de que isso era feito a fim de garantir água, café e outras itens essenciais aos longos trajetos. Itens que a empresa não fornecia. Conseguiram converter as demissões de dois em multas e, ainda, retirar a “justa causa” da outra demissão.

 

Racha MST, Via, MTD, Consulta (PP) - Carta de Saída das Nossas Organizações e do Projeto Defendida Por Elas:

929 - Passa da época “combativa” da CUT, PT e MST para o surgimento da Consulta após a perda do vigor dos primeiros: “Neste cenário surge a Consulta Popular, criticando o PT por ter colocado a centralidade na luta institucional e eleitoral e cada vez menos nas lutas de massas”.

930 - Lista a capitulação do PT, digamos assim: “a desigualdade de investimentos entre agronegócio e reforma agrária, a aprovação das sementes transgênicas, a expansão da fronteira agrícola e com isso a legalização da grilagem nas terras de até 1500 hectares, a permanência dos atuais índices de produtividade e as recentes alterações no novo código florestal”.

931 - Denuncia a redução de pauta do MTD à mera reivindicação de programas de governo para qualificação profissional.

932 - Afirma que a tática adotada pelo campo democrático popular é semelhante a da social democracia europeia, só que rebaixada...

933 - Posição da Consulta: “Afirmamos claramente na Consulta Popular que o caráter de nossa revolução é socialista. Porém, isso não significa que o programa de transformações estruturais cujas contradições possibilitam a luta pelo poder, seja constituído de reivindicações socialistas.”

934 - Por que as bandeiras são recuadas? A “Consulta” responde o seguinte: “As bandeiras ou reivindicações que integram um programa não são determinadas pelo desejo dos revolucionários, mas por contradições efetivamente existentes que geram mobilizações”. Os agricultores querem a propriedade da terra e não a sua socialização.

935 - Afirma, ainda, que os dissidentes da carta dos 51 não apresentam qualquer programa, quaisquer reivindicações no lugar.

936 - E o programa da Consulta? “O projeto popular da revolução brasileira é a ruptura com o imperialismo, o direito e o dever do trabalho para todos, o aumento dos salários e a anulação das privatizações e controle do sistema financeiro, o acesso universal à educação pública, saúde e previdência pública de qualidade, a conquista da reforma agrária, a reforma urbana entre outros.”

937 - Um comentador que assina “MTD pela base” coloca a seguinte questão: “A ocupação de postos institucionais e cargos nos “aparatos”, longe de contribuir para a luta popular, no longo prazo, acabam por comprometer seriamente a autonomia dos movimentos.”

938 - Passa Palavra sempre com alguns diagnósticos bem pertinentes: “Dentro de uma perspectiva anticapitalista — o que significa geração de novos valores e sociabilidades e politização do econômico com vista à superação do capital — a ocupação, enquanto momento de luta e fator de mobilização, se no plano tático serve para conseguir terras e encetar uma luta defensiva e econômica, deveria servir, no plano estratégico, como um espaço e um tempo de ruptura com aspectos do capitalismo. Se isto não suceder, as questões táticas — ainda que sejam relevantes, como sucede com o atendimento das necessidades materiais e sociais básicas — são convertidas em estratégicas, como os financiamentos e a dependência direta e exacerbada dos recursos públicos.” Contenção e cooptação da luta, acrescentam. Citam que isso aconteceu na Argentina, por exemplo.

939 - Para o PP, é Reforma e revolução, afinal, as lutas na dimensão econômica (que alguns acham que são sempre meramente defensivas) devem ser articuladas com a luta política e etc. Nesse sentido, a forma de lutar ganha mais importância que o contéudo reivindicativo...

940 - Não é que o MST (ou afins) não possa sentar pra negociar com o Estado. Só não vale é ser braço indireto. No rodapé, há o dado de que o MST teria entre 60 mil e 120 mil famílias em seus acampamentos.

941 - MST: “Baseado na ação direta, enquanto método de luta, o MST não se limita a ocupações de terra, mas vale-se igualmente de ocupação de prédios públicos, marchas, atos públicos, procissões, vídeos, abaixo-assinados, greve de fome, campanhas, teatro, literatura, música, etc.”

942 - Pergunta se se trata de um movimento de ocupação de terras ou um movimento para conseguir subsídios estatais.

943 - (O que não gostei do texto é que fica muito nas questões abstratas, sem as linhas cinzentas que as dificuldades práticas trazem)

944 - PP sobre uma das “linhas cinzentas” - é como eu chamo: “trata-se de ampliar e multiplicar os canais de democracia interna que permitam às pessoas envolvidas com o trabalho nas cozinhas, nas cirandas, etc., se envolverem de igual modo com o debate das questões estratégicas. Nem no MST nem em nenhum outro movimento social nem em nenhuma organização política isto está assegurado. É uma luta permanente”. Para sair do dilema “reformista com base vs. revolucionário sem base”, sugere que só se pode lutar contra este dilema através de uma democracia interna que estimule a base a contribuir cada vez mais para a formulação da estratégia.

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