Felipe Côrrea (PP) - Balanço Crítico Acerca da Ação Global dos Povos no Brasil I e II:

 

Felipe Côrrea (PP) - Balanço Crítico Acerca da Ação Global dos Povos no Brasil I e II:

716 - Rede de comunicação com princípios comuns e objetivando combater o livre comércio. Define. Desobediência civil não violenta e ações construtivas. Instrumento de coordenação não-formal. A AGP não possui membros nem é representada por pessoas ou organizações. Nem representa. Atuação em rede… Princípios e não estrutura… Não se sabe exatamente quem é membro e quem não o é...

717 - G7 e OMC - Seatle 1999 - levavam mais de 50 cidades a protestarem simultaneamente. No Brasil só surgiu após 1999.

718 - 2 mil pessoas contra a ALCA foram feridas e atacadas pela PM na Avenida Paulista.

719 - Teve protesto de 5 mil pessoal em SP num dia global do G8. Bicicletada… Protesto me reunião do BID em Fortaleza… Etc.

720 - Houve ocupação da ANATEL em 2003, pelas rádios livres.

721 - Com o aniversário de um ano da revolta argentina de 2001 realiza-se, em São Paulo, como forma de solidariedade, teatro de rua, panfletagem e 15 ativistas ocupam o Consulado da Argentina, realizando um “panelaço” — ocorrem também protestos em Salvador.

722 - Além de organização de espaços nos FSM, tornaram-se comuns as “tortas na cara”: em 2001, no capitão Francisco Roher, responsável pela repressão ao A20; em 2002, contra representantes do BM; em 2003, em José Genoíno, contra o aparelhamento do FSM por parte do PT, em um representante da ALCA e no governador do MT. Em 2004 foi a vez de Rubens Ricupero, representante da UNCTAD, contra o discurso desenvolvimentista.

723 - Distribuição de panfleto anarquista durante uma missa numa igreja foi épico hehe

724 - Ele entra na caracterização dos “novos movimentos sociais”, que só chegaram ao Brasil após os anos 80 - anos do novo sindicalismo: Protagonizados em sua maior parte pela juventude, os novos movimentos contavam com uma base vinculada às culturas alternativas e a estilos de vida que questionavam as normas culturais vigentes. As reivindicações apresentavam-se associadas a símbolos, crenças, valores e significados coletivos, relacionadas aos sentimentos de pertencimento a um grupo diferenciado e com o sentido existencial dado por cada indivíduo a si mesmo.

725 - Assembleias e métodos horizontais de tomada de decisão.

726 - A base “classista” na AGP era de escassa a nula.

727 - Felipe elenca uma série de virtudes e defeitos. Crê que faltava programa mais definido e política de alianças, além de uma redefinição de classe, colocando-a de novo no centro de forma renovada (e não apenas criticar a velha noção de classe). Não buscava ir além da composição estudantil (ou deixava isso em segundo plano). “descartava a necessidade da responsabilidade militante, do trabalho regular e do trabalho de base”.

728 - Parece considerar que por vezes faltava aprofundamento teórico para além dos slogans.

729 - Crê que decisões por consenso e necessidade de todos participarem de tudo não podem ser dogmas.

730 - Crê que por vezes a estratégia era substituída pelo espontaneismo.

731 - Critica o “faço quando der e estiver disposto”. Critica ainda a falta de um trabalho regular e do trabalho de base, a substituição da luta pela festa.

732 - Muito mais interessados no “grupo-fechado-em-si” do que na atuação política coletiva, os ativistas, muito frequentemente, substituíram a política pela cultura e pela identidade.

733 - O grupismo em detrimento da falta de intervenção na realidade ainda tinha o lado negativo de afastar o “diferente”. Diz que alguns trabalhadores tentaram se aproximar e nada. Grupo com perfil muito homogêneo. Dá um exemplo disso: “Tive a nítida impressão de que ao ouvir as conversas que aconteciam antes da reunião e ver o perfil dos presentes, a mulher sentiu-se como peixe fora d’água. Em vez de darmos atenção a ela, continuamos conversando sobre as “internas” do movimento, falando de fulano e cicrano, sobre o show não sei de quem etc. Depois de algum tempo, a mulher saiu. Nunca mais apareceu.

734 - O discurso e que a mudança é interior… (No caso aqui, a prática): “É uma característica relativamente comum incorporar elementos do âmbito pessoal, em vez de levá-los para fora, para o campo da mudança social. Exemplos disso são infindáveis, mas só para exemplificar, posso citar: passar a chamar os negros de afro-americanos e acreditar que o problema do racismo está resolvido; utilizar linguagem inclusiva e pensar que o problema de gênero está solucionado; consumir alimentos sem agrotóxicos e acreditar que o problema do agronegócio está resolvido etc. É fato que, também inconscientemente — nunca ouvi ninguém falar “vou priorizar o individual em detrimento do político” ou defender essa posição abertamente –, isso “simplesmente aconteceu”, tornou-se verdade prática sem uma reflexão teórica que lhe desse sustentação. Puxados por aquilo que na realidade é mais simples, ou seja, uma mudança no comportamento individual, os ativistas afastavam-se das atividades no campo social, evidentemente mais complexas, visto que elas implicavam conviver com o diferente, discutir, ter argumentos, persuadir — em suma, tudo o que implica a luta.”

735 - Quem tava de fora do grupo pouco compreendia dessas mudanças. Um “arroba” mais afastava que aproximava, argumenta.

736 - O trabalho permanente era substituído pela participação ocasional. Não era mais como outrora, que a vida se adaptava à militância; agora, a militância adaptava-se à vida; seria feita quando desse e se desse.

737 - Critica novamente a dogmatização do consenso: “o consenso dava espaço demasiado àqueles com maior capacidade de oratória e com mais condições de formular seus próprios argumentos”.

738 - Critica o democratismo: “Utilizar um processo democrático significava, muitas vezes, ficar por longos períodos discutindo questões completamente marginais, sem qualquer importância: a marca da cerveja que seria comprada para uma festa, a cor de uma parede de um espaço coletivo que seria pintado, a vírgula do texto do panfleto etc. E, obviamente, as discussões prioritárias e relevantes eram prejudicadas.” (...) “Lembro-me de diversas vezes que chegavam pessoas novas, davam opiniões sobre todos os assuntos, suas posições eram incorporadas nas decisões e depois essas pessoas nunca mais apareciam”.

739 - Fala de reuniões de dezoito horas em que nada foi deliberado… Enfim, o democratismo pelo democratismo…

740 - Fala do gringo que defecou num espaço coletivo e a maioria não quis puni-lo por ser um ato autoritário.

741 - Trata dos problemas dos “rebeldes individualistas” que se utilizavam da proteção do coletivo para mostrar como são rebeldes e irados, prejudicando o planejamento. A tática pra minimizar isso foi começar os atos sempre com as deliberações da assembleia e informando que atitudes que as comprometessem seriam consideradas como indícios de policial infiltrado - o rebelde seria tratado como tal.

742 - Dá um exemplo: “Só me lembro que o processo para organizar o ato havia sido desgastante, e tínhamos modificado o trajeto, pensando em como conduzir a coisa e, como queríamos tentar aumentar a participação, decidimos que seria um protesto pacífico. Isso havia sido fechado na assembléia anterior à manifestação e avisado já no início. No meio do protesto, uma turma inspirada pelo “Black Bloc” avança rumo ao Mc Donald’s e começa a xingar as pessoas que estavam lá dentro. Alguns, mais exaltados, jogam, escondidos atrás da turba, objetos como garrafas e outros no vidro da lanchonete.”

743 - A organização “sem estrutura” da rede fazia com que, não raro, fosse tomada pelo reboquismo, adesão acrítica a propostas de outros movimentos. Alguns militantes chegaram a se integrar a estes últimos mesmo quando não representavam qualquer elemento anticapitalista.

744 - É bastante crítico da falta de discussão estratégica: Movimento para quê? Movimento para quem? — se foram algumas vezes tratadas, nunca superaram o nível da especulação rasa e deram espaço a proposições que se abstinham de um caminhar estratégico. Se essas perguntas tivessem sido honesta, profunda e criticamente discutidas, certamente haveria um diagnóstico de que as bandeiras do movimento — por mais que girassem geralmente em torno de questões ligadas ao neoliberalismo — mudavam com muita frequência, o que fazia com que se acentuasse uma outra característica do nosso movimento: o “faz tudo mas não faz nada”. Pessoas envolvidas com inúmeras causas, inúmeros projetos, mas que terminam por não fazer nada direito.

745 - Sem drama também. Entre erros e acertos houve, certamente, outros ganhos como a chegada de vários militantes que até hoje seguem na ativa, além da criação de alguns grupos e coletivos que também se mantêm funcionando. E o movimento foi capaz de fazer lutas que, com todos os problemas apontados, conseguiram, em uma medida ou outra, acumular.

746 - Por que considera que aspectos culturais e identitários são tão importantes quanto os econômicos? “A diferença entre um indivíduo que na primeira dificuldade abandona a causa e um outro que dá a vida por ela não está na infra-estrutura e, certamente, possui determinação central na correlação de forças entre um movimento popular e seus inimigos. (...) Nesse sentido, estimular o subjetivo, as paixões, os desejos, os sentimentos, as ideologias, parece-me central”.

747 - No entanto, fazer política não é a mesma coisa que fazer amizade. (...) será necessário estar junto com pessoas que não são nossas amigas e que, por vezes, podem até não gozar de nossa afinidade pessoal. Assumir essa posição implica, necessariamente, para que se construa um projeto político, abandonar a idéia de que sempre estaremos entre amigos.

748 - Para melhor controle das delegações, mandatos temporários e rotativos é um bom método.

749 - Organização significa associação com objetivos comuns (para quê se organiza) e critérios de união (com quem se organiza); estratégia significa um conjunto de leitura da realidade (onde se está), objetivos (aonde se quer chegar) e o conjunto de caminhos pelos quais se pretende chegar ao objetivo (como sair de onde se está e chegar aonde se quer).

750 - Um comentador concorda parcialmente com a crítica que se faz ao “método do consenso” e propõe um meio termo, que seria que exceções ao consenso só passassem com 70 ou 80% dos votos. É algo a se pensar, afinal, o consenso ajuda a evitar a ditadura da maioria e os rachas. Em alguns casos.

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