Manolo - Extrema-Esquerda e Desenvolvimentismo - Parte III

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609 - A CIESP (FIESP da época) surge em 1928, até porque os trabalhadores estavam cada vez mais federados e confederados. Porém, surge também para combater o discurso da “vocação natural agrícola” dos latifundiários para o Brasil.

610 - Roberto Simonsen, entusiasta de Taylor e Ford, difundia as práticas administrativas modernas no Brasil.

611 - Armando Sales de Oliveira, outro engenheiro e industrial, fundou quando governador em 1934 a Universidade de São Paulo; entre 1936 e 1937, como parte da missão francesa presente na USP, lecionou na universidade o economista e sociólogo francês François Perroux, defensor de uma forma branda de corporativismo paraestatal. Tudo isto era um programa sistemático de formação de elites técnico-políticas.

612 - É desse clima de revolta que a Aliança Liberal se aproveita no sul para levar Getúlio ao poder e, a partir daí, reprimir qualquer intenção de ir além do programa da Aliança.

613 - Bóris Koval cita outros eventos semelhantes, mas este ficou marcado: Uma nota curiosa sobre o levante de outubro de 1930. No Rio Grande do Sul, de onde saíram as forças fiéis a Getúlio Vargas, em menos de 48 horas após o início dos combates comunistas da cidade de Itaqui saíram às ruas de armas em punho, tomaram a sede da Prefeitura, a central telefônica e algumas empresas, e fundaram um soviete. As tropas varguistas não tiveram dificuldade para debelar esta tentativa, talvez a única, de estabelecer um conselho operário no Brasil.

614 - Vargas anotou em seu diário a preocupação em fazer um governo revolucionário dentro da ordem. “Revolta dentro da ordem” é uma definição de fascismo muito usada por JB e outros.

615 - Em 1933, o valor da produção industrial supera pela primeira vez na história o da produção agrícola no Brasil. Cresceu 50% entre 1929 e 1937. Isto se deveu, de um lado, ao aumento da produção usando-se a mesma capacidade instalada e à importação de maquinário de segunda mão.

616 - Uma ferramenta getulista de profundo impacto e de que pouco se fala foi a “lei dos ⅔”, que reservou tal cota para brasileiros na indústria, aumentando o percentual de negros em tal mão de obra. Como portugueses não tinham costume de pagar negros, a polícia getulista inclusive incentivava a denúncia (ao menos, segundo um depoimento da época). “Preto que não tinha direito ao trabalho. Os trabalhos estavam nas mãos dos portugueses, espanhóis, italianos.” … isso foi logo em 1930. Era Getúlio querendo formar sua base social de apoio.

617 - Entre 1930 e 1940 foram publicadas trinta e oito normas diferentes (entre leis, decretos e decretos-lei) para regulamentar desde o horário de trabalho em profissões especificas e as condições de trabalho de menores e mulheres até a instituição das férias (1931), da carteira de trabalho (1931)[30], da convenção coletiva de trabalho (1932) e do salário mínimo (1940).

618 - Enquanto isso, perseguiu a organização autônoma de sindicatos e promoveu o extermínio físico dos militantes mais combativos nas prisões, nos interrogatórios, nas torturas, nos espancamentos e nos assassinatos.

619 - Além de status e privilégios aos pelegos da burocracia sindical, Vargas também garantiu novos empregos às “classes médias urbanas” (via cargos públicos e estímulo ao crescimento da economia urbana).

620 - CHESF, Vale, CSN, tudo dessa época. Precedidas por estudos e regulações de órgãos criados para tal fim.

621 - Nelson de Oliveira apresenta os mecanismos que o governo usou para sugar capital das atividades agrícolas gradualmente e redirecionar para criação de estatais e industrialização em geral: “O governo, de um lado, comprava estoques de café, com problemas de realização circunstancial nos mercados externos; de outro, impunha severos controles cambiais, visando constituir fontes geradores de recursos para o setor industrial, ao tempo em que manipulava as taxas de juros, diferenciando-as segundo destinação e objetivos do empréstimo: se para agricultura ou para a indústria”. Entretanto, “ainda se fazia necessário contar com forte apoio de capitais externos”.

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