Econ - Textos Variados III

 

Anônimo Liberal - Marxismo Vs Realidade - Crítica a Lei de Ferro dos Salários (Com Dados) - Livro 'Lucro, acumulação e crise':


135 - EUA possuem sindicalização de 6% e flexibilidade trabalhista, logo, afirma que o descolamento do preço da força de trabalho em relação ao da ampla cesta de mercadorias básicas não pode ser creditado à luta de classes, quase inexistente lá.

136 - Finalmente, quanto ao 3° caso, a explicação de Mandel para este crescimento dos salários - a mais amplamente aceita entre os marxistas (quiçá a única) - é a de que o próprio desenvolvimento do capitalismo teria elevado o valor da força de trabalho a patamares seguidamente maiores, devido à criação de novas e maiores necessidades de consumo. Assim, ao invés de uma queda do valor da força de trabalho, estas novas necessidades surgidas teriam atuado como uma espécie de contra-tendência, justificando salários maiores frente a um maior valor da força de trabalho.

137 - Ele critica esse argumento por entender que os próprios índices de bens e serviços básicos sofre reformulações metodológicas para incorporar o fato acima. Ainda assim, há o descolamento.

138 - Ademais…. Lança a seguinte hipótese: Pelo contrário: são salários reais cada vez maiores, decorrentes do aumento da produtividade, que levam os trabalhadores a terem cada vez maiores desejos de consumo. E novos desejos tendem facilmente a se tornar uma necessidade, vide o fato de que um número crescente de pessoas hoje já não pode conduzir suas vidas normalmente sem possuir um smartphone.

139 - Este aumento dos salários reais ocorre porque o mercado, quando operando livremente, repassa para os trabalhadores os benefícios de uma maior produtividade social do trabalho, através da queda tendencial dos preços, o que lhes confere um crescente poder de compra. (...) Paralelamente a isto, o progresso técnico, que promove sucessivas inovações na produção e é por elas impulsionado, vai criando uma oferta de trabalhos que pagam salários cada vez maiores. (...) . Isto ocorre especialmente com relação ao setor de serviços, que apresenta uma maior elasticidade-renda (a demanda por serviços tende a ser maior que por bens de consumo à medida que a renda cresce).

140 - Afirma que talvez Marx não fosse desonesto, mas sim tivesse sofrido com os dados pobres de sua época, como lembra Josef Steindl.

141 - Para finalizar, uma indagação sincera. Suponham-se dois livros com a mesma quantidade de páginas, com as mesmas dimensões físicas e impressos em igual quantidade por uma mesma editora, num mesmo período. A única diferença entre eles é a natureza do seu conteúdo: enquanto um deles foi escrito por um sociólogo pouco conhecido, que passou anos viajando por diversos países para coletar todo tipo de informação relevante para sua obra, um ensaio sobre os determinantes da desigualdade social específicos de cada país; o outro é uma obra ordinária de ficção, como a de um Paulo Coelho, E. L. James ou J. K. Rowling da vida. O que justificaria, sob a ótica da teoria do valor-trabalho, que o segundo livro tivesse um preço maior que o do primeiro? Seria ele mais caro por conter mais valor que o primeiro, ou porque há um público mais amplo que o valoriza mais que o primeiro? (A resposta é que são bens diferentes. Tempo de trabalho necessário diferente). (Ademais, há de se pensar se a utilidade não influencia apenas nas órbitas preço e não no valor)

 

(...)


Blog Conhecimento Econômico - A eterna e imortal 'Lei de Say':

194 - Os neoclássicos adotaram a Lei de Say de uma forma, os keynesianos re-interpretaram de outra forma, para depois os adeptos da Escola Austríaca tentarem trazer de volta a validade da Lei de Say.

195 - A ideia de que “toda oferta gera sua demanda” é o que levaria, por ser falsa, a superprodução, supostamente segundo Keynes.

196 - Esse “equilíbrio” viria do fato que a oferta, vendida, se torna poder de compra (de outros bens e serviços), ou seja, demanda futura do vendedor. Diz que os austríacos reativaram isso colocando a observação do tempo. Cedo ou tarde a oferta será vendida e produzirá demanda.

197 - Para além da discussão superficial da crítica de Keynes: Keynes falava que o problema da Lei de Say residia nas decisões de investimento (...). Os neoclássicos fazem uma suposição de que tudo que não seria consumido depois de produzir seria automaticamente investido (lembrando da diferença entre gasto/consumo e investimento na macroeconomia). A hipótese neoclássica sugere que poupança (parcimônia de gastos) é automaticamente investimento, mas não é assim que funciona. As decisões de investimento são incertas, uma vez que as expectativas sobre as taxas de lucro não sejam tão altas, então os agentes podem preferir manter a moeda em mãos ao invés de investir, ocasionando aí um dos fundamentos para a sub-produção e a crise econômica.

198 - O texto e eu concluímos que, no longuíssimo prazo, a coisa pode até estar correta, mas a crítica de Keynes também está. Há um razoável consenso entre os principais estudiosos da macroeconomia hoje de que a demanda é importante no curto prazo, mas no longo prazo seria mais importante a produção (produtividade do trabalhador, investimento e afins).

199 - Nos comentários, uma austríaco vê a questão da “preferência pela poupança” de forma diferente: Se a produção cai porquê os indivíduos não gastam, isso é o mercado entrando em equilíbrio – onde o mesmo exatamente sai ou porquê quem produziu estimou erroneamente (o empresário), ou então porquê houve um “estímulo” da demanda (o estado), transformando água em vinho para os consumidores.

200 - Um anti-austríaco, nos comentários, dá outra visão sobre essa “poupança”. O dinheiro nunca vira investimento. Fica “guardado” cada vez mais, pois o capitalismo, mais do que visar lucro visa acumulação de riqueza. Segundo o ex-ministro das Finanças da Grécia, essa riqueza acumulada é responsável pelas dívidas internas dos Estados Nacionais, que cobrem esse GAP via endividamento. Ou seja, os Estados financiam a acumulação privada de riqueza. Yanis chama isso de “picos gêmeos”, pois há uma equivalência entre essa riqueza acumulada e a soma das dívidas públicas dos países.

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