Econ - China, Estabilidade e Crescimento (Dados Muito Completos!) II

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403 - Perigos do crescimento baseado só em investimento: Note-se que, nos últimos cinco anos da série, a contribuição dos investimentos suplanta ou iguala a do consumo final, podendo estar havendo um excesso de acumulação de capital. Ademais, na presença de taxas de juros muito baixas, o investimento pode apresentar taxas de retorno muito baixas.

404 - China teve problemas pequenos com inflação nesses 40 anos, por afrouxamentos monetários e liberalização dos preços (no momento em que houve): Em 1978, 97,5% dos preços de bens vendidos no varejo eram administrados ou “guiados”. Esse percentual cai para 55% em 1988 e 7% em 1992, caindo lentamente a partir daí. Na verdade, pelo menos até o início da década de 1980, os preços na China eram divididos em quatro categorias: preços planejados, preços flutuantes, preços negociados e preços de mercado.

405 - A forte ênfase em controle de preços na China entre 1950 e 1980 deveu-se à hiperinflação que assolou a economia chinesa ao longo da década de 1940, antes da Revolução Comunista em 1949.

406 - O exemplo mais dramático ocorreu quando os preços se elevaram fortemente em 1988 e 1989. O principal arquiteto das reformas entre 1978 e 1989 havia sido Zhao Ziyang, à época Secretário-Geral do PCC. O clima político mais aberto então vigente permitiu que protestos estudantis, em maio e junho de 1989, em parte motivados pelos aumentos dos preços, assumissem uma dimensão jamais vista, sacudindo a Praça da Paz Celestial, com o resultado conhecido de centenas (ou milhares, dependendo dos relatos) de jovens mortos pelas forças de segurança. Este fato resultou na demissão de Zhao Ziyang e sua substituição por Jiang Zemin e no fortalecimento do grupo liderado pelos principais opositores a Deng Xiaoping, adeptos de maior austeridade fiscal e monetária.

407 - A moeda e crédito, quase sempre crescentes em relação ao PIB, mostram períodos de estagnação e queda toda vez que a inflação ameaçou a sair do controle, o que mostra uma política monetária de rédeas curtas muitas vezes. A inflação, por sua vez, aparece em outra gráfico do texto como causada por crescimentos do PIB próximo ou acima do “PIB potencial”: É razoável considerar, assim, que o período de relativa estabilidade de preços na China entre 1997 e 2006 está fortemente associado ao fato de o PIB efetivo ter crescido a um ritmo muito próximo do PIB potencial, indicando hábil manejo da política de curto prazo.

408 - Abertura comercial: Esse extraordinário crescimento foi viabilizado por diversos fatores, sendo os mais importantes a política cambial, especialmente a forte desvalorização real do renminbi ocorrida entre 1990 e 1994, e os ganhos de competitividade da indústria chinesa possibilitada, por sua vez, pela liberalização das importações.

409 - Tem crescido o superávit comercial num país cada vez mais aberto ao comércio exterior, inclusive de bens de mais alto valor agregado. Entre 1991 e 2006, enquanto a produção de energia, em todas as fontes, cresceu a 4,8% ao ano, o consumo cresceu a 5,9%. As importações de petróleo, que representavam apenas 6,6% do consumo em 1990, saltaram para 43,1% em 2000 e 55,8% em 2006. Com isso, a demanda de petróleo da China, que representava 5,6% da demanda global em 1999, pulou para 8,8% em 2007, constituindo parcela expressiva do aumento da demanda global de produto no período recente. Apesar de a China ser o maior produtor mundial de minério de ferro, a demanda vem crescendo a um ritmo superior ao da oferta nos últimos anos, causando um forte aumento das suas importações.

410 - Tarifas médias: Em 1985, foi feita uma nova reforma do sistema de tarifas, que reduziu a tarifa média de 55,6% para 43,3%. A partir de 1992, teve início novo processo de redução de tarifas, que levou a tarifa média a cair para 15,3% em 2001, às vésperas do ingresso na Organização Mundial de Comércio, em dezembro desse ano. Já em 2005, a tarifa média havia caído ainda mais, para 9,7%.

411 - De 1998 a 2008, a China mais que decuplicou suas reservas internacionais. Como foi possível à China acumular reservas internacionais em valores tão elevados, mantendo a taxa de câmbio fixa sem, ao mesmo tempo, gerar pressões inflacionárias? A contrapartida da elevação das reservas é o aumento da dívida pública. Quanto maior a dívida, maiores os encargos financeiros e maior o déficit fiscal. (Ou seja, em vez de jogar moeda local na economia local ao comprar os dólares dos exportadores, a China usou, não sei se direta ou indiretamente, títulos públicos). A dívida bruta do governo central passou de aproximadamente 6,5% do PIB em 1990 para 15,7% em 2008.

412 - Em 1972, após a visita do presidente Nixon à China, os IDEs foram formalmente liberados na China, porém sua magnitude continuou inexpressiva por vários anos. (...) Após 1979 foi promulgada uma Lei de Joint Ventures que começou a, de fato, permitir o ingresso de empresas multinacionais (EMN). … Porém, o ingresso de IDE só começou a crescer, de fato, a partir de 1992, tendo recebido maiores incentivos desde o ingresso da China na OMC,

413 - É importante perceber que foram os superávits chineses - no balanço de pagamentos - que permitiram o crescimento dos déficits norte-americanos. Isso porque o excesso de poupança na Ásia resultou numa redução das taxas de juros globais, que contribuíram para a expansão do consumo (e do investimento) nos Estados Unidos que, por sua vez, acarretou o aumento do déficit em conta corrente. Prova com um gráfico de poupanças e investimentos. O que já era alto cresceu. A partir de 2001, ambas as taxas aumentam aceleradamente, porém se distanciando cada vez mais, com a poupança atingindo impressionantes 54% em 2007, ao passo que os investimentos estacionam em torno de 43%, ainda assim uma cifra muito elevada.

414 - Afirma que a poupança das famílias também é alta porque o governo cobra por saúde, educação e previdência.

415 - Lucros altos das empresas chinesas justificam a poupança delas: Não apenas os salários são baixos, mas diversos serviços públicos como energia, transporte e saneamento são subsidiados pelo Estado, principalmente nas ZEEs. Além disso, os empréstimos são concedidos a taxas de juros bastante reduzidas, mesmo a empresas com riscos elevados.

416 - Muito dinheiro que fica para a poupança e investimentos das empresas também se deve: … à política de distribuição de dividendos: enquanto os acionistas privados recebem poucos dividendos, o Estado, acionista majoritário, praticamente não os recebe. Sobra grana pra reinvestir.

417 - Os modelos de crescimento via investimento possuem, porém, limites: ... é extremamente difícil a China continuar crescendo com base em tão forte dependência dos investimentos. O aumento da capacidade produtiva tem que ser absorvido pela expansão das exportações ou do consumo, caso contrário a ociosidade irá aumentando cada vez mais, reduzindo acentuadamente a rentabilidade de novos investimentos, o que poderia provocar uma redução abrupta do processo de crescimento.

418 - A maior parte dos países apresenta taxas de poupança doméstica entre –5% e 45%, com a FBCF variando entre 10% e 30%. Enquanto isso, a China apresentou poupança doméstica de 49% e investimento de 42%.

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