Marxistas - Textos Diversos XCVI - O Futurismo (Trotsky)
Trotsky - O Futurismo:
1602 - Aqueles estudiosos, que, procurando definir a natureza social do
futurismo nos seus primórdios, dão importância decisiva aos protestos violentos
contra a vida e a arte burguesas, não conhecem, suficientemente, a história das
tendências literárias. Os românticos, franceses ou .alemães, falavam sempre,
asperamente, da moralidade burguesa e da rotina. Ostentavam cabelos compridos,
a tez esverdeada, e Théophile Gautier, para acabar de cobrir de vergonha a
burguesia, portava sensacional colete vermelho. A blusa amarela dos futuristas
é sem dúvida alguma a sobrinha-neta do colete romântico, que tanto horror
suscitou entre os papais e as mamães. Sabe-se que nenhum cataclismo seguiu esses
protestos de cabelos longos e colete vermelho do romantismo, e a opinião
pública burguesa adotou, sem prejuízo, tais cavalheiros e canonizou-os nos seus
livros escolares. (A carta de Gramsci sobre o destino final e reacionário
do futurismo só confirmou esses escritos de Trotsky)
1603 - Na Rússia: “O jovem futurista, de certo, não ia às fábricas, mas fazia muito ruído
nos cafés, derrubava estantes de música, enfiava a blusa amarela, pintava suas
faces e, vagamente, ameaçava com o punho.”
1604 - Na exagerada recusa do passado pelos futuristas não se esconde um ponto
de vista do operário revolucionário, mas o niilismo do boêmio. Nós, marxistas,
vivemos com as tradições. Nem por isso deixamos de ser revolucionários.
Estudamos e guardamos vivas as tradições da Comuna de Paris, mesmo antes de
nossa primeira revolução. Depois as tradições de 1905 a elas se somaram, e
delas nos alimentamos enquanto preparávamos a segunda revolução. E,
remontando-nos a tempos mais distantes, ligamos a Comuna às Jornadas de junho de
1848 e à grande Revolução Francesa.
1605 - Critica as tendências futuristas a
ignorarem as “etapas”. Diz que lembram os anarquistas nisso. Precipitar o que só pode desenvolver-se como
parte integrante do futuro, e materializar apressadamente essa antecipação
parcial, no presente estado de miséria, diante das luzes mortiças da ribalta,
apenas dá a impressão de diletantismo provinciano. A ideia, do Lef, de que
a arte deve se fundir com a vida - festejos, comícios, manifestações e fim dos
ofícios como os conhecemos - é um exemplo dessa precipitação. A arte como
profissão (algo separado, portanto) existirá por décadas e décadas: Que se tenha ao menos, porém, um pouco de
imaginação histórica para compreender que mais de uma geração virá e
desaparecerá entre a pobreza econômica e cultural dos dias de hoje e o momento
em que a arte se fundirá com a vida.
1606 - O Partido não tem e não pode ter decisões prontas sobre a versificação,
a evolução do teatro, a renovação da linguagem literária, o estilo
arquitetônico etc., assim como, nos outros setores, não tem nem pode ter
decisões prontas sobre o melhor adubo, a mais correta organização dos
transportes ou as metralhadoras mais perfeitas.
1607 - O futurismo russo - como já se disse - expressou, inicialmente, a
revolta dos boêmios, isto é, da ala esquerda semi-pauperizada da intelligentsia
contra o caráter de casta e fechado da estética burguesa.
1608 - Embora crítico do futurismo,
Trotsky vai apontar diversas conquistas que o mesmo trouxe, como no campo da
poesia, com maior flexibilidade dos versos e rimas. Mete o cacete nos exageros
porém. Como a preferência, de alguns, pelo som das palavras ao sentido.
1609 - Coloca o movimento como uma
revolta a uma ordem e estética realmente repulsiva. Cita Maiakovsky como “maior
poeta do futurismo”. O futurismo é contra
o misticismo, a deificação passiva da natureza, a preguiça aristocrática ou de
qualquer outra espécie, contra o devaneio e as lamúrias. É pela técnica, pela
organização científica, pela máquina, pela planificação, pela vontade, pela
coragem, pela rapidez, pela precisão e pelo novo homem, armado de todas essas
coisas.
1610 -
Em diferentes combinações e sobre diferentes bases históricas, vimos a rebeldia
da intelligentsia produzir mais um novo estilo. E terminava sempre assim. Mas,
desta vez, a Revolução proletária apanhou o futurismo num certo estágio de seu
crescimento e empurrou-o para a frente. Os futuristas tornaram-se comunistas.
E, pelo mesmo ato, entraram na esfera dos problemas e das relações mais
profundas, que transcendem os limites de seu próprio pequeno mundo, ainda
não-elaborado, organicamente, no seu espírito.
1611 - Critica o que categorizou de
“individualismo boêmio” em Maiakovsky (após vários elogios), falando sempre nos
esforços dele e não da “Revolução” em superar os obstáculos. Povoa todas as
questões com a sua personalidade e modo de vida, afirma Trotsky. Acusa-o de
falta de dinâmica, pos Maiakovsky usaria imagem estonteantes o tempo todo: Cada frase, cada expressão e cada imagem
esforçam-se, em Maiakovsky, para estabelecer um limite, atingir um máximo, um
cume. E por isso, precisamente, o conjunto não tem ápice.
1612 - Aqui exemplificações de parte das
críticas de Trotsky: “É preciso, com
efeito, pôr fim ao romantismo de Oblomov e de Karataiev. Mas como? "Ele é
velho, mate-o e faça um cinzeiro do seu crânio." Aí não existe romantismo?
E do mais negativo? Crânios servindo de cinzeiros não são cômodos nem
higiênicos. E afinal essa selvajaria não tem sentido. O poeta deve estar embebido
de romantismo para fazer semelhante emprego dos ossos de um crânio. Ele, em
todo caso, não trabalhou nem unificou as suas imagens. "Roubai a riqueza
de todos os mundos!" É nesse tom familiar que Maiakovsky fala do
socialismo. Mas roubar significa agir como ladrão. Esta palavra se ajusta,
portanto, quando se trata da expropriação da terra e das fábricas pela
sociedade? Está, notavelmente, deslocada.”
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