Marxistas - Textos Diversos XCII - Marx e a Liberdade (Eagleton)
(continuação...)
1548 - O sentido da vida humana em Marx é o autodesenvolvimento prazeroso. Não se trata de se explicar a Deus ou formar a melhor moral. Também não se trata de ser um meio de realização de algum espírito maior, como o Estado. Nesse sentido, Eaglaton o coloca como “romântico”.
1549 - Importante destacar: Não que Marx, é claro, repudie completamente esta razão instrumental. Sem ela, não poderia haver ação racional alguma; e sua própria política revolucionária envolve o ajuste de meios a fins. Mas uma das muitas ironias de seu pensamento é que isto está a serviço da construção de uma sociedade em que os homens e mulheres seriam livres para florescer como fins radicais em si mesmos. É apenas porque valoriza o indivíduo tão profundamente que Marx rejeita uma ordem social que, enquanto apregoa o valor do individualismo em teoria, na prática reduz homens e mulheres a unidades anonimamente intercambiáveis.
1550 - Outra maneira de expressar tal idéia consiste em dizer que almeja libertar o "valor de uso" dos seres humanos de seu aprisionamento ao "valor de troca".
1551 - Marx associa, no Ideologia Alemã, comunismo à desnecessidade de especialização num trabalho só. Pessoa pesca de manhã, caça de tarde e é crítico de noite.
1552 - Alienação: … numa sociedade de classes, os objetos produzidos pela maioria dos homens e mulheres são apropriados pela minoria que possui e controla os meios de produção; e isto significa que eles não são mais capazes de se reconhecer no mundo que criaram. Sua auto-realização é não mais um fim em si mesma, mas se torna puramente instrumental para o autodesenvolvimento dos outros. (...) O trabalhador, Marx comenta, sente-se em casa apenas quando não está trabalhando.
1553 - Fetichismo da mercadoria é a aparência fantasmagóricas que a produção voltada para o mercado assume. O valor de uso e as propriedades afins não importam mais, e sim a quantidade de trabalho ali, abstratamente, que vai permitir a troca. Vira uma relação entre coisas em vez de relações entre os homens. As criações ganham “vida própria” imaginária.
1554 - O dinheiro transforma qualquer coisa em qualquer outra. Nas palavras de Marx: “Quanto maior o poder de meu dinheiro, mais forte sou. As qualidades do dinheiro são qualidades e poderes essenciais meus, do possuidor. Portanto o que sou e o que posso fazer não são de forma alguma determinados por minha individualidade. Sou feio, porém posso comprar a mulher mais bela. O que significa que não sou feio, uma vez que o efeito da feiúra, seu poder repulsivo, é destruído pelo dinheiro. Como um indivíduo, sou manco, porém o dinheiro me proporciona vinte e quatro pernas. Logo, não sou manco. Sou um individuo perverso, desonesto, inescrupuloso e estúpido, mas o dinheiro é respeitado, e assim também seu dono. O dinheiro é o bem supremo, e conseqüentemente seu dono também é bom. [MEF]”
1555 - “..."Forças" referem-se aos vários meios de produção disponíveis numa sociedade, ao lado da força de trabalho humana. Um tear mecânico ou um computador são forças produtivas, capazes de produzir valor; porém tais forças materiais são sempre inventadas, desenvolvidas e mobilizadas no interior de determinadas relações sociais de produção - para Marx, principalmente as relações entre os que possuem e controlam os meios de produção e os não-proprietários cuja força de trabalho é colocada à disposição daqueles. Numa leitura de Marx, a história progride em virtude de as forças e relações de produção entrarem em contradição entre si.
1556 - Marx não nega o individualismo, apenas afirma que o livre desenvolvimento de cada um deve se tornar a condição para o livre desenvolvimento de todos.
1557 - Eagleton afirma que classe em Marx é uma definição meio imprecisa ou pouco detalhada. Traz trechos onde Marx faz essa discussão. No “Brumário”, temos: “... Na medida em que há entre estes pequenos camponeses apenas uma interconexão local, e a identidade de seus interesses não dá origem a uma comunidade, nem a uma ligação nacional, nem a uma organização política, eles não formam uma classe. “
1558 - Cita trecho da Crítica ao Programa de Gotha, no qual Marx coloca que o direito que quer tratar os indivíduos como iguais funciona, na prática, como um direito a desigualdade. O mesmo trabalho não significa que os trabalhadores tenham a mesma necessidade. Ademais, não possuem as mesmas possibilidades. Nenhum homem é igual a outro. Assim, o socialismo é mais injusto que o comunismo... Marx no mesmo texto: “Numa fase superior da sociedade comunista, quando tiver desaparecido a escravizante subordinação do indivíduo à divisão do trabalho, e com ela também a antítese entre o trabalho mental e o físico; quando o trabalho houver se tornado não um meio de vida, mas a necessidade fundamental da vida; quando as forças produtivas tiverem crescido com o desenvolvimento geral do indivíduo; quando todas as fontes de riqueza cooperativa fluírem mais abundantemente - só então o horizonte estreito do direito burguês será completamente ultrapassado, podendo a sociedade inscrever em suas bandeiras: "De cada um de acordo com suas capacidades, a cada um de acordo com suas necessidades!" “
1559 - A classe operária nem é a mais oprimida. É o “lumpen”, coloca. Porém… “Pode-se alegar que é o próprio capitalismo, não o socialismo, que "seleciona" a classe operária como o agente da mudança revolucionária. É a classe que mais pode se beneficiar da abolição do capitalismo, e que é suficientemente habilidosa, organizada e bem situada para desempenhar tal tarefa.”.
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