Marxistas - Textos Diversos CI - A Polêmica Sobre a Ausência de Proletariado e a Estratégia (Arcary) - Parte II

 (continuação...)

1661 - Especificidade da revolução na China: a vitória da revolução chinesa, a maior revolução camponesa do século e, quiçá da História, uma revolução socialista em que o proletariado urbano não ocupou, essencialmente, nenhum papel, prostrado pela esmagadora derrota de 27, mais do que um processo sui generis, estabeleceu uma referência, durante um quarto de século, para a passagem da fase democrático-nacional das revoluções anti-imperialistas à fase anti-capitalista. Coloca que o marxismo clássico nunca esperaria tanta radicalização de uma massa camponesa.

1662 - Trata das cooperativas. O próprio Marx via embriões socialistas nelas (se bem que os via até nas sociedades por ações, mostra o texto), especialmente por eliminar as contradições entre capital e trabalho naquele âmbito restrito. Porém, Arcary coloca que são pouco representativas como fenômeno, impotentes para rivalizar, gradualmente, com os monopólios e cartéis que dominam o PIB mundial.

1663 - Se posiciona contra o “caminho se constrói caminhando” e diz que isso leva à absolutização dos princípios morais, que são inúteis no cotidiano da luta de classes. A coisa do imperativo categórico kantiano.

1664 - Também se posiciona contra o contrários - os fins justificam os meios. O combate tem que ser político e moral, o que não explica concretamente, apenas mencionando a necessidade de violência revolucionária.

1665 - O resumo de sua posição: A renúncia ao proletariado como sujeito social revolucionário não é uma “atualização” menor do programa marxista: é um punhal no coração da causa socialista. E isso por uma razão simples: os trabalhadores assalariados, independente de seu número absoluto, ou mesmo da sua proporção sobre o conjunto da população economicamente ativa são a única classe social com interesses antagônicos com a propriedade privada. Essa luta contra a propriedade privada é que permitirá, em última análise, erradicar o desemprego, acabar com a desigualdade social, e derrotar o Capital, a fonte de todas as mazelas da sociedade contemporânea.

1666 - Discute se as previsões do manifesto, de empobrecimento, se confirmaram ou não. Depende. Absoluto, claro que não, até pela luta dos trabalhadores. Relativo, possivelmente sim, pois, ainda que a participação da renda do “trabalho” no total do PNB possa parecer a medida mais adequada para isso, a verdade é que uma medida adequada teria que levar em conta também o tanto que se gasta com o controle da força de trabalho (e não apenas a renda dos capitalistas). Ou seja, não há um índice realmente bom para isso.

1667 - Podem até ter mudado de setor nos países de ponta (indústria para serviços), mas é certo que o número de assalariados é crescente: “Se tomados como exemplo três países avançados (EUA, França e Japão observa-se que efetivamente a proporção de assalariados continuou crescendo. Nos EUA, de mais de 89% em 1970, os assalariados alcançaram 90,59% da PEA em 1980, pouco mais de 91% em 1990 e 92,34% em 1999. Na França, os assalariados eram 76,27% em 1970, passaram para mais de 84% em 1980, atingindo 87,01% em 1990 e 87,66% em 1999. No Japão, o assalariamento correspondia a 64,20% em 1970, mais de 71% em 1980, 78,42 em 1990 e 81,19% em 1995. A continuidade do crescimento do assalariamento aponta para uma questão fundamental: a continuidade da dominância das formas capitalistas de organização e de estruturação dos processos de trabalho”.

1668 -  Como disse, diferente é a situação focada na indústria: En la actualidad representa menos del 17 por 100 de la fuerza laboral en los Estados Unidos, el 20 por 100 en Gran Bretaña (frente al 30 por 100 de hace diez años), entre una cuarta y una tercera parte en los otros principales países de Europa Occidental.

1669 - Por último, a história está repleta de exemplos que ensinam que o peso social e político de uma classe social não guarda uma relação mecânica com o seu peso demográfico, ainda que este aspecto do problema não seja negligenciável: um exemplo emblemático seria a revolução chinesa de 1925/27, que teve como eixo a rebelião do jovem proletariado de Xangai e Cantão, não mais do que 2 ou 3 milhões de operários imersos em um oceano camponês de centenas de milhões, mas que pela sua capacidade de mobilização foram um detonador da irrupção social das massas rurais, até então prostradas e apáticas.

1670 - Afirma que organizar o lumpen é bastante mais difícil.

1671 - Nesse sentido, para ilustrar com um exemplo, Perry Anderson cunhou a frase que conclui que quando a classe trabalhadora inglesa foi revolucionária nas suas inclinações (no dezenove) não era socialista, e quando se fez socialista, deixou de ser revolucionária. 

1672 - Parece culpar fundamentalmente a crise da direção stalinista pelas derrotas socialistas do século.

1673 - Gorender considera, hoje, ser inegável que a classe operária é ontologicamente reformista. Incapaz de escapar a tais limites. Arcary discorda. Como admite o próprio Gorender, não existe na luta de classes correspondência direta entre reivindicações e formas de luta: pode-se lutar com métodos e entrega revolucionária por “reivindicações de reforma” (afinal como definir a demanda de pão para quem tem fome, como em Outubro de 17 na Rússia, senão como uma reivindicação mínima?) (...) será que existiram ou existem, esses “inalteráveis objetivos” de reforma e de revolução? Ou o conteúdo de uma reivindicação depende da capacidade do capitalismo de absorver ou não essas reivindicações? Será que a redução da jornada de trabalho, sem redução de salários, ou trabalho para todos, é sempre reformista? Mas, e se o capitalismo não puder mesmo garantir trabalho para todos, nessas circunstâncias, a exigência da intervenção do Estado e a expropriação das grandes empresas que demitem, não pode adquirir um conteúdo revolucionário, ou seja, levar as grandes massas à compreensão da necessidade da luta pelo seu próprio poder? A história não ensina que, as mesmas reivindicações, podem adquirir um caráter reformista ou revolucionário dependendo das condições das classes dominantes de fazerem ou não essas concessões?

1674 - Coloca que mesmo os burgueses só passaram, na luta contra o feudalismo, do plano das reformas para o plano político quando as primeiras já não podiam ser mais atendidas. Quem empurrou a burguesia francesa para o caminho da revolução foi a obstinação da aristocracia feudal em preservar, a qualquer preço, os seus privilégios e o seu Estado, a monarquia absoluta dos Bourbons.

1675 - (...) no plano histórico parece incontroverso, que o proletariado comprovou, em variados processos disposição para ações revolucionárias: como na Europa Central entre 17/23, na Europa mediterrânica entre 45/48, e de novo na França, Espanha e Portugal, entre 68/76.

1676 - Na verdade podemos afirmar que, sem exceção, todas as correntes revolucionárias da história foram minoritárias em situações políticas adversas. Nesse sentido foi parte do “destino” dos revolucionários aguardar a abertura de situações revolucionárias para sair da obscuridade. Hoje, pode parecer surpreendente, mas Lênin era um ilustre desconhecido, na própria Rússia, alguns meses antes de Outubro. Os bolcheviques (apesar do nome de origem querer dizer maioria) foram quase sempre uma minoria, e durante muitos anos, uma ínfima minoria, pouco mais do que círculos de propaganda. 

1677 - Enfim, defende que o proletariado é revolucionário desde que devidamente liderado. Admite, porém, que se revelaram entre os trabalhadores grandes dificuldades, sempre tomando com cuidado as medidas e as proporções do processo, e relevadas extraordinárias exceções, de construir a partir de suas próprias fileiras os quadros dirigentes de suas organizações (o que se expressa no peso insubstituível dos intelectuais revolucionários, como previu Gramsci).

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