Marxistas - Textos Diversos CII - O Critério Para a Classificação das Revoluções do Século XX (Arcary)

 

Valerio Arcary - O Critério Para a Classificação das Revoluções do Século XX:

1678 a 1699 - Pulei tais números.

1700 – Quarteladas e afins abrindo, inesperadamente. portas para revoluções. Acontece. Exemplo: foi assim, entre inúmeros exemplos, que se iniciou a revolução portuguesa em 1974, com a insurreição militar do MFA (Movimento das Forças Armadas), dirigida por Otelo Saraiva de Carvalho. No espaço de poucos dias, milhões de trabalhadores e jovens já tinham saído às ruas, abrindo a cena para os outros atos da revolução, em especial o “verão vermelho” de 1975.

1701 – Existe não uma ausência, mas sim um excesso de causas que podem levar a uma revolta. Por isso é tão difícil prevê-las. Não há um padrão único e incontroverso. A pobreza/fome nem sempre desperta isso, vide a Índia. A presença de ditaduras também não explica tudo (teoria reativa), pois boa parte das insurreições e revoluções se dão em governos eleitos, havendo, ainda, as transições conservadoras da ditadura para a democracia, controladas por cima, como no Chile de Pinochet.

1702 – Relação muito interessante entre violência e revolução:

“Na revolução de Outubro, morreram em Petrogrado sete pessoas. Em Moscou, onde as forças militares leais ao governo de Kerensky ofereceram maior resistência, morreram aproximadamente cem. Ou seja, em uma perspectiva histórica, pouquíssimo sangue foi derramado. É, no entanto, verdadeiro que, durante a Guerra Civil, a Rússia sangrou até à exaustão. A violência da contra-revolução foi brutal.

O importante é, todavia, não confundir as formas políticas dos processos com a sua substância social: quanto mais minoritárias foram as bases sociais das quarteladas, mais violentos e sangrentos foram também os combates que elas provocaram. Inversamente, quanto mais radicais as revoluções, portanto massivas e legitimas, mais pacíficas as suas formas, porque mais limitadas as possibilidades da contra-revolução.”

1703 - Toda revolução é um processo e não um ato. As grandes revoluções do século XX tiveram muitas inversões de conjuntura, reviravoltas inesperadas do curso dos acontecimentos e guinadas bruscas de direção. As classes em luta medem as suas forças e realizam, de forma concentrada, confrontos e experiências que estavam pendentes durante décadas. As semanas valem por anos e os dias correspondem a meses.

1704 – Há um colapso ao menos parcial da governabilidade e surge uma dualidade de poderes.

1705 – As condições objetivas geralmente surgem de uma percepção geral de decadência. Dependem também, claro, das condições subjetivas, que têm a ver com bruscas e aceleradas mudanças nas correlações de forças entre as classes. Só a situação revolucionária se há ambas as condições.

1706 – As revoluções mais recentes, principalmente desde o fim da década de 70, acabam se conformando nos limites da democracia liberal. Nem sempre foi assim: Depois de 1917 até 1923, a possibilidade de novos Outubros esteve colocadas pelo menos na Hungria, onde um governo operário-camponês chegou ao poder, ainda que de forma efêmera, e na Alemanha

1707 – O fato da esquerda não ter 50% do eleitorado não significa que a força real dos dominados não seja maioria numa determinada conjuntura. Os capitalistas possuem armas midiáticas, tradicionais, culturais e literais que superdimensionam sua força eleitoral. Enfim, o jogo parlamentar é um indicador perigoso, que leva a não crer na vitória possível.

1708 – As grandes massas em luta pelas suas reivindicações (terra, paz, pão, liberdade, democracia, independência nacional, etc...) isto é, por uma vida melhor, têm uma compreensão muito parcial das tarefas históricas, ou seja econômico-sociais, necessárias para a sua vitória. As revoluções são impulsionadas pela necessidade de derrubar aquele governo cuja presença se tornou insuportável, mas as multidões em luta se lançam a essa tarefa sem um plano pré-concebido e detalhado do que vão colocar no seu lugar. As revoluções são, portanto, em larga medida um terreno de improvisação política e histórica.

1709 – ... Em seguida, há quase uma necessidade de retorno ao estágio habitual de “fora da política”. A ideia de delegar o poder político logo aparece e não faltam sujeitos que queiram usar isso. Daí, Arcary coloca que o papel dos pequenos chefes que surgem de qualquer processo acaba tendo um peso muito grande.

(continua...)

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