Marxistas - Textos Diversos XCI - Marx e a Liberdade (Eagleton)
Terry Eagleton - Marx e a Liberdade:
1537 - Observa que a segunda tese sobre Feuerbach
dá a entender o que queria Marx dizer na famosa 11ª (que não se tratava de
negar a reflexão filosófica, mas sim combiná-la à ação prática… Ou seja, nada
de ações irrefletidas, como se pode pensar), que segue: A questão se uma verdade objetiva pode ser atribuída ao pensamento
humano não é teórica, mas prática. É na prática que o homem deve demonstrar a
verdade, ou seja, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento. A
disputa sobre a realidade ou irrealidade do pensamento, quando isolada da
prática, é uma questão puramente escolástica. [TF]
1538 - ...Pode-se
assim juntá-lo a uma respeitável linhagem de "antifilósofos" que
inclui Kierkegaard, Nietzsche, Heidegger, Adorno, Benjamin, Wittgenstein, e,
nos dias de hoje, pensadores como Jacques Derrida e Richard Rorty, para quem há
algo de fundamentalmente equivocado em todo o empreendimento filosófico de
nossa época. É um pessoal antimetafísica. Marx meio que usava a
historicidade contra esta. Banhava tudo nas condições históricas.
1539 - Marx e a liberdade (isto é bem um resumo):
Para ele, como veremos, somos mais
humanos e menos como os outros animais quando produzimos livre, gratuita e
independentemente de qualquer necessidade material imediata. A liberdade para
Marx é uma espécie de superabundância criativa acima do que é materialmente
essencial, aquilo que ultrapassa a medida e se torna seu próprio padrão.
1540 - As ideias, a prática e a divisão do
trabalho. Marx faz essa magnífica relação neste trecho do Ideologia Alemã (ao
que entendi): “A divisão do trabalho
apenas se dá verdadeiramente a partir do momento em que aparece a divisão entre
o trabalho intelectual e o manual. (A primeira forma de ideólogo, a dos
sacerdotes, é contemporânea.) Deste momento em diante, a consciência pode
realmente alimentar a ilusão de ser algo diverso da consciência da prática
existente, de realmente representar algo sem representar algo real; de agora em
diante, a consciência é capaz de se emancipar do mundo e dar início à formação
da "pura" teoria, teologia, filosofia, ética etc. “
1541 - O
próprio Marx, como filho do Iluminismo, era talvez bem mais confiante que nós
no poder translúcido da razão; mas como pensador historicista - e estas
correntes gêmeas, a racionalista e a historicista, estão freqüentemente em
tensão no seu trabalho - reconheceu que se todo pensamento fosse histórico,
então isto deveria naturalmente valer para seu próprio pensamento. Não poderia
ter havido marxismo algum no tempo de Carlos Magno ou Chaucer, uma vez que o
marxismo é mais do que um simples conjunto de idéias brilhantes que qualquer
pessoa, em qualquer época, pudesse ter tido. Isso é filosofia materialista.
A consciência determinada pela vida (ser social). Para Marx, o que dizemos ou pensamos é em última análise determinado
por aquilo que fazemos. …
1542 - A superestrutura quer esconder a injustiça
das relações na infraestrutura.
1543 - Quando
a filosofia se torna ideologia, tende a desviar a atenção dos homens e mulheres
dos conflitos históricos insistindo no primado do espiritual, ou oferecendo uma
resolução destes conflitos num plano mais alto, imaginário. (...) A afirmação
de Marx é que se os problemas teóricos cruciais estão ancorados em contradições
sociais, então só podem ser resolvidos politicamente, em vez de
filosoficamente.
1544 - A filosofia gosta de sonhar que produz a
si mesma, mas não é bem assim.
1545 - Porém, o homem obviamente transforma as
condições que herda: A humanidade,
portanto, não é apenas o produto determinado de suas condições materiais; se
fosse, como poderia Marx ter esperança de que ela pudesse algum dia
transforma-las? Ele não é um materialista "mecânico" , como, digamos,
Thomas Hobbes, que vê a consciência como mero reflexo das circunstâncias, mas um
materialista histórico no sentido de que deseja explicar a origem, o caráter e
a função das idéias em termos das condições históricas nas quais estão
inseridas.
1546 - A reflexão do autor é: se a filosofia pode
servir como ideologia e esconder a injustiça da infraestrutura, haveria
filosofia no comunismo? A de Marx, profundamente histórica que é, já seria
desnecessária. Quais seriam os problemas dos filósofos no comunismo? Responde
(e nem sei se Marx negaria) que nem toda filosofia é idealista.
1547 - Marx e Hegel acreditam em essência e
natureza humana, mas atribuem estas à mudança, ao desenvolvimento. Não é algo
eterno. Essa essência humana só se dá em sociedade. Portanto, é histórica. O indivíduo é o ser social. Chega a
afirmar. E que a sociedade não está “acima”. Manuscritos economico-filosóficos.
(continua...)
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