Marxistas - Textos Diversos CIII - O Critério Para a Classificação das Revoluções do Século XX (Arcary)
(continuação...)
1710 – Casos particulares: ...o caso da própria revolução russa de fevereiro de 1917, da revolução de Novembro de 1918 na Alemanha e, em grande medida, mais recentemente, do processo da revolução de “veludo” na Tchecoslováquia, do levante na ex-Alemanha Oriental, e da insurreição na Romênia em 89. A força do sujeito social é tamanha, e a fragilidade dos regimes é de tal gravidade, que desmoronam como um “castelo de areia”. Em outras palavras, os fatores objetivos e subjetivos se apresentam desigualmente desenvolvidos em uma proporção tão assombrosa, os primeiros quase apodrecendo, e os segundos quase inexistentes, que essa contradição, não impede a revolução de triunfar. Nessas circunstâncias excepcionais, a ausência do sujeito político revolucionário foi suprida pelo ativismo das massas em movimento.
1711 – Nos casos como o acima, o sujeito político – a direção – coletivo é improvisado.
1712 – Posição de Arcary: As massas em movimento geram milhares de pequenos chefes políticos: por lugar de trabalho, de moradia, nas cidades e nas vilas, enfim, por toda a parte e, por isso, os graus de espontaneidade serão tanto maiores, quanto maiores forem as energias desbloqueadas. Mas se essa vanguarda ampla, inexperiente e desarticulada, não tiver um ponto de apoio nacional visível e credível, a tendência é que essa vanguarda se disperse, com a mesma velocidade que surgiu. Se a maturidade dos fatores objetivos for excepcionalmente grande, a primeira vaga da revolução pode triunfar, como revolução política, mesmo que a vanguarda ampla não encontre, para dirigi-la, um sujeito político coletivo (como aconteceu, recentemente, no Paraguai e na Indonésia).
1713 – Defende, porém, que quando a revolução quer ser não apenas política, mas também social, aí sim a história parece exigir uma direção (sujeito político). Lênin teria razão apenas parcial contra Rosa.
1714 – Sempre que se abalou a propriedade privada, havia partidos-exércitos ou exércitos-partidos, militarmente disciplinados, em torno disso. É o que diz o texto.
1715 – Uma classe, no desenvolvimento desigual e combinado, pode realizar tarefas revolucionárias que, em tese, caberiam a outra classe. As liberdades democráticas em alguns países não foram obra da burguesia.
1716 – Aponta que os “fevereiros” chineses, coma chegada de Chieng-Kai-Check (sei lá o nome) ao poder em 1910, realizou muito menos que o fevereiro russo. Sequer se abriu o espaço democrático para outubro. Preobrajensky acertou a possibilidade de substitucionismo social, tendo a massa camponesa assumido o protagonismo na revolução chinesa. Isso nunca havia ocorrido. O proletariado acabou não tendo cumprido qualquer tarefa relevante, embora tivesse tentado antes.
1717 – Concorda, Arcary, com Trotsky ao apontar que o resultado de uma revolução dependerá de mais fatores que simplesmente qual o sujeito político que está por trás dela ou qual o conteúdo social que ela traz. Até a própria dinâmica internacional pode levar o processo revolucionário a uma marcha completamente diferente da que seria esperada ou mesmo da que é anunciada inicialmente.
1718 – Mas é curioso como, nesta polêmica com Preobrajensky, por diferentes caminhos, ambos, simultaneamente, acertaram e erraram. Trotsky acertou, na medida em que previu que a revolução chinesa seria socialista, mas errou, com seus excessos, quanto ao sujeito social, por, digamos assim, “obreirismo”. Entretanto, também acertou porque foi capaz de compreender que, pela natureza histórica da época (a fragilidade e atraso da burguesia chinesa, demasiado débil tanto em relação aos impérios, como sobretudo, em relação à massa do povo, para ser capaz de um protagonismo revolucionário) a revolução chinesa, para levar adiante a tarefa da independência nacional e da reforma agrária, não poderia evitar a via da ruptura anti-capitalista, e não poderia existir, na China, um estágio intermediário de república democrática (mesmo que na forma da ditadura democrática do proletariado e do campesinato, a fórmula indefinida de Lênin), de forma perene.
1719 - Mas sejamos mais rigorosos: em que consiste essa fraqueza social crônica das burguesias semi-coloniais? Ela se explicaria por uma “fobia” das massas operárias e camponesas: o medo do povo em mobilização, seria maior do que a aspiração a um papel independente no mercado mundial. Mas tanto esse medo quanto essa ambição são sentimentos sociais relativos, e dependem de relações de forças concretas. Não devem ser interpretados como máximas invioláveis. Se as massas populares não tiverem avançado até o patamar de uma expressão política independente, as burguesias coloniais podem se apoiar parcialmente em uma mobilização controlada, como forma de manobrar na arena mundial. Esse foi o sentido do Cárdenismo no Mexico, do Aprismo no Peru, do Peronismo na Argentina, e do próprio Varguismo no Brasil.
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