Econ - Michael Roberts
K - Textos de Michael Roberts
50 - Baseiam-se no seu livro sobre Crise. 'A baixa rentabilidade explica, sobretudo, a razão pela qual o investimento empresarial foi tão fraco a partir de 2009. Os lucros obtidos foram destinados à especulação financeira: para fusões e aquisições, a recompra de ações e o pagamento de dividendos. Também houve acumulação de dinheiro em espécie. Tudo isso porque a rentabilidade do investimento produtivo continua sendo historicamente baixa'',
51 - O novo Informe de Estabilidade Global do FMI oferece mais apoio à minha interpretação causal da longa depressão. Confirmando o que demostrei empiricamente antes, o FMI considera que a rentabilidade empresarial (medida pelos lucros corporativos em relação ao balanço de ativos) nas principais economias não recuperou os níveis de 2008. Aliás, a rentabilidade do capital está muito abaixo dos níveis do final de 1990.
52 - Esta longa depressão tem características similares à depressão do final do Século XIX, e à Grande Depressão dos Anos 30 do século passado. A primeira foi superada após uma série de crises, que finalmente fizeram aumentar a rentabilidade, enquanto a segunda precisou de uma guerra mundial. Creio que a atual depressão terá uma evolução mais parecida à do Século XIX.
53 - Como o resume Gillian Tett, em artigo para o Financial Times: “o FMI calcula que, no ano passado, as empresas estadunidenses pagaram dividendos aos acionistas e recompras de ações que supunham ser um 0,9% dos ativos, o dobro do nível de 2010. Não é de se estranhar que os mercados de ações tenham disparado (deixando de lado as oscilações do final de 2018). As empresas também têm utilizado este arsenal para aumentar significativamente as fusões e aquisições: este tipo de acordo absorve os fluxos de dinheiro vivo, que são equivalentes a 0,4% dos ativos em 2019, em comparação com um nível de praticamente zero em 2011. Entretanto, o volume de fluxo em dinheiro gasto como investimento de capital, pelo contrário, se mantém plano desde 2012, situando-se em torno de 0,7% de todos os ativos – menos que o fluxo em dinheiro destinado ao pagamento de dividendos aos acionistas”.
54 - Como Armstrong ainda ressalta, “nos EUA, a dívida corporativa, não financeira, era de cerca de US$ 10 trilhões no início da crise. Nunca foi tão grande no passado; eis que chegou agora a 47% do PIB. Sob condições normais, isso não seria um problema, porque as taxas de juros agora muito baixas tornaram as dívidas mais facilmente manejáveis.
55 - O livro “House Of Debt” enfatiza outra dívida: Eis o que afirmam: “tanto a Grande Recessão quanto a Grande Depressão foram precedidas por um grande aumento da dívida das famílias... E todas as depressões começaram com uma grande queda nos gastos das famílias”.
56 - Os ricos não investiram essa riqueza extra em investimento produtivo; diferentemente, estesouraram ou aplicaram esses recursos em especulações financeiras, ou ainda os emprestaram aos mais pobres por meio de hipotecas para que eles pudessem adquirir imóveis. Assim, a dívida das famílias cresceu devido a um excesso de poupança dos ricos.
57 - As Tabelas 9.1 da Penn World fornecem uma nova série chamada taxa interna de retorno sobre capital (TIR) para quase todos os países do mundo, desde 1950 até 2017. A TIR é uma proxy razoável para uma medida marxista da taxa de lucro sobre o estoque de capital, embora, é claro, não lhe seja equivalente, porque exclui o capital variável e os estoques de matérias-primas (capital circulante) do denominador. Apesar dessa deficiência, essa medida (TIR) permite considerar as tendências e trajetórias da lucratividade nas economias capitalistas, assim como compará-las entre si a partir de uma base semelhante de avaliação.
58 - A propósito, o argumento dos economistas keynesianos segundo o qual o baixo crescimento econômico nos últimos dez anos se deve à "estagnação secular" causada por um "excesso de poupança" não parece ter sido confirmado. A taxa de poupança nacional nas economias capitalistas avançadas, em 2019, não é maior do que em 2007, enquanto a taxa de investimento caiu 7%.
FIM
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