Fatos e Dados (Brasil) - Parte V

 (continuação...)

811 - Também havia articulações destes com os socialistas. Até porque de 1889 (I Congresso Internacional Operário Socialista, de certa forma iniciando, ao que entendi, a II Internacional) a 1896 (IV Congresso), os anarquistas se esforçaram pra participar da II Internacional.

812 - Os anarquistas franceses “bombistas”, que faziam propaganda pelo fato (atos contra burgueses e etc) foram criticados por Euclides da Cunha em artigo para “O Estado de São Paulo”. Era, porém, grande entusiasta de Proudhon. Em realidade, pregava um socialismo de evolução lenta pelo consentimento...

813 - Voltando aos militantes soltos (uns seis meses depois). Voltaram a tentar organizar o primeiro de maio no ano seguinte (1895). “A polícia paulistana prendeu Luciano Campagnoli e Attilio Venturini, quando eles distribuíam e colavam nos muros manifestos anarquistas pelos subúrbios da cidade.

814 - A seguir, mais prisões: "A seguir, a polícia procedeu a buscas nas casas de diversos militantes, apreendendo numerosos livros e publicações de propaganda revolucionária".

815 - Há relato de que, em Santos, porém, outro grupo conseguiu comemorar a data.

816 - Em 1898, a propaganda anarquista já era mais intensa. Além disso, na capital, no Teatro Politeama, cerca de 2 mil pessoas assistiram a numerosos poemas e discursos feitos por anarquistas como Benjamim Mota e Polinice Mattei.

817 - No mesmo ano, a polícia prendeu anarquistas que lançaram manifesto agitador e “querendo jogar a opinião pública contra os militantes detidos, emitiu um boletim em que afirmava haver prendido dois anarquistas que pretendiam envenenar os reservatórios de água que abasteciam a cidade". Jornal “O Estado de São Paulo” endossou...

818 - As passeatas continuavam a ser dispersadas pela polícia.

819 - Em 1902, políticos e imprensa resolvem abraçar a data para “domesticá-la”. Posta trecho de um jornal de Curitiba explicando que a data é para celebrar a união por amor, paz e justiça gerando a Jerusalém do futuro e acabando com a miséria...

820 - Em 1903 começou a ser permitida a comemoração desde que “em ambiente fechado…”.

821 - Já rolava a pelegagem “Os cortejos operários, animados por bandas de música, com queima de fogos de artifício, conferiam um ar festivo às comemorações operárias. O que se convencionou chamar de “carnavalização” das datas operárias. Esse aspecto das manifestações operárias também ocorria no 1º de Maio, principalmente no Rio de Janeiro, provocando a crítica severa dos anarquistas, que ali enxergavam o desvio do foco daquela data como dia de luta e protesto dos trabalhadores, servindo assim aos propósitos alienantes de patrões e autoridades.”

822 - Ora, era da cultura a festa com enfeites e certo caráter religioso no Brasil, logo, era difícil esperar algo um pouco diferente. A imprensa, óbvio, elogiava o caráter das festas.

823 - A questão de evidenciar o verdadeiro sentido do 1º de Maio torna-se já tão importante que o I Congresso Operário Brasileiro, realizado no Rio de Janeiro, de 15 a 20 de abril de 1906, dedica uma parte de suas resoluções sobre orientação a esse tema. Foi a primeira central sindical nacional. 43 delegados sindicais fundaram. Ação direta como método de luta e não participação dos trabalhadores na política institucional.

824 - Além disso, o I Congresso decide, na parte dedicada à ação operária, convidar os trabalhadores a iniciar uma greve no 1º de Maio de 1907, com vistas à adoção da jornada de 8 horas de trabalho.

825 - Foi deflagrada e como a polícia proibiu concentração em praça pública a sede da Federação Operária de São Paulo ficou lotada. A polícia efetua diversas prisões à saída do ato.

826 - A greve se espalha por outras cidades e os industriais paulistas se reúnem para pedir à polícia que intensifique a repressão e à imprensa que não divulgue os fatos, para evitar inflar o movimento.

827 - Um dos empresários ali presentes declara que as oito horas não devem ser concedidas, pois os operários passariam o tempo ganho em botequins e festas. A polícia, alguns dias depois, justifica as prisões em massa e a depredação de sedes operárias com o pretexto de que “a greve foi provocada por alguns anarquistas, agitadores de ofício, pagos por governos estrangeiros para matar a nossa indústria.”

828 - A greve resistiu e durou um mês e meio, tendo conseguido as oito horas em várias empresas. A partir desse histórico 1º de Maio, a data se fortalece em termos de luta social e de protesto.

829 - O ano é 1912 agora. “houve um comício da Federação Operária de São Paulo no Salão Celso Garcia, interrompido com a chegada de numerosos operários oriundos dos bairros proletários do Brás e da Mooca, cantando a Internacional e sendo intensamente aplaudidos. À noite realizou-se outro comício no Largo São Francisco, organizado por um grupo de estudantes da faculdade de direito que ali funcionava, que contou com numerosa concorrência, com a multidão permanecendo no local mesmo com a forte chuva que desabou.”

830 - Anarquistas começam a perceber que viria um contragolpe do governo: “Os governos, que sempre tratam de desvirtuar as coisas, já cogitam, em toda parte, de fazer do 1º de Maio um feriado. Quando isto for verdade, trabalhadores, então não se abandona mais o trabalho nesse dia, porque ele será perdido completamente o verdadeiro sentido, e já não será mais um dia 15 de protesto, é o dia 1º de Maio sancionado pela lei. (A Revolta, 1914)

831 - O Largo Sao Francisco era lugar tradicional de manifestações operárias.

832 - O primeiro de maio de 1918 teve 3 mil pessoas num teatro e demonstrou simpatia à revolução russa. Acreditavam que tomaria o rumo libertário.

833 - “O 1º de Maio de 1919 foi uma manifestação sem precedentes no Rio de Janeiro. A polícia e o governo ficaram preocupados seriamente. Na Avenida Rio Branco, cheia desde a Praça Mauá até a Praça Floriano Peixoto, havia várias tribunas, onde oradores anarquistas defendiam as suas doutrinas sociais, sem o menor constrangimento.” A polícia apenas observou e não houve confrontos.

834 - Os libertários até fundaram um PC em 1919, mas dissolveram ao se decepcionarem com os rumos da revolução russa.

835 - Cálculos da época falam numa passeata de 60 mil pessoas no Rio. (ainda 1919)

836 - Mas não só no Rio houve manifestações grandiosas dos trabalhadores. Elas também ocorreram em Niterói, na praça em frente à estação das barcas que fazem o trajeto Rio-Niterói, palco de violentos conflitos entre grevistas e a polícia no ano anterior. Em Recife, operários cantaram em coro a Internacional na sede da Federação Operária de Pernambuco. Em São Paulo não houve comemoração da data, pois 20 mil operários encontravam-se em greve, travando-se numerosos conflitos com a polícia, na capital e em cidades do interior. (Bandeira, 1967, pp. 182-183).

837 - Em 1924 já houve divisão. PCB e pelegos e anarquistas marcaram comícios em lugares diferentes. Ambos foram fracos.

838 - Enquanto isso, os presidentes brasileiros Epitácio e Artur Bernardes organizavam a “polícia política” e aumentavam as deportações de estrangeiros subversivos.

839 - Para os anarquistas do Brasil, o período Bernardes (1922-1926), sob estado de sítio, vai se caracterizar por prisões em massa, deportações e, acima de tudo, por serem enviados para o campo de concentração de Clevelândia, no então território do Amapá, próximo à fronteira com a Guiana, onde vários virão a morrer em conseqüência de fome, doenças e maus tratos.

840 - A divisão era grave! “Dois anos depois, Bastos estaria envolvido em um episódio no Sindicato dos Gráficos do Rio de Janeiro, em que membros do PCB atiraram sobre militantes anarquistas indefesos, matando um deles, o sapateiro Antonino Dominguez.”

841 - Mesmo assim, em 1927, os anarquistas ainda levavam muita gente pra rua no primeiro de maio. Um militante da época fala em 60 mil pessoas no comício daquele ano.

842 - O que Vargas fez foi aperfeiçoar o aparato de Bernardes com a experiência das polícias fascistas europeias. Prisões em massa, torturas e assassinatos.

843 - A unicidade sindical - inclusive com avaliação prévia dos candidatos aos cargos sindicais - e imposto sindical previstos na “regulamentação”, por seu lado, também ajudava a matar a “combatividade” do movimento. Queria inclusive sindicalização obrigatória, pra ampliar o controle.

844 - Vargas obviamente transformou o 1º de Maio em festas de agradecimento a ele...

845 - Anarquistas e afins tentavam resistir, mas a polícia invadia até eventos nas sedes da organização para prender os agitadores.

846 - As comemorações de 1º de Maio com caráter de luta tendiam cada vez mais a decair ou a sumir de cenário.

847 - A legislação getulista foi mantida após a queda (1945).

848 - Fui ver comentários no Passa Palavra. Manolo tem acréscimos. “Ora, nesta mesma onda de greves de 1978/1980, assim como no surgimento da CUT, houve participação de anarquistas; a corrente “CUT pela Base”, importante no desenvolvimento dos primeiros anos da CUT, também estava apinhada de anarquistas etc.

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