Fatos e Dados (Brasil) - Parte IV

 

A Literatura Anarquista dos Anos 1900-20:

794 - Fabio Luz migrou para o RJ com 24 anos (1988), após se formar em Medicina. Escreveu romances e afins. “Ideólogo”, de Fábio, seria uma das obras-primas da literatura anarquista da época.

795 - Fabio foi um dos incentivadores e fundadores da Universidade Popular de Ensino Livre (1904), mas esta fracassou. Durou poucos meses.

796 - Os romances eram divulgados nos jornais anarquistas, mas não a recepção. Esta era analisada no círculo dos “homens de letras”. Certamente era quem os lia. Não necessariamente anarquistas.

797 - Havia panelinhas no Rio de escritores que queriam estar na ABL e os da ABL. Aos amigos, tudo. Aos inimigos, a lei (A crítica).

798 - A literatura anarquista queria ir além do realismo e naturalismo, queriam descrever a realidade para que as pessoas tomassem consciência da necessidade de sua superação. Talvez por isso alguns críticos da época torciam o nariz para certo doutrinarismo nas obras. José Veríssimo criticava o tom de propaganda de Fabio, por exemplo. Não combina com arte, dizia.

799 - Ademais, muitos críticos não gostavam desse utopismo. Alguns acharam isso pouco a ver com o Brasil. Um estrangeirismo. Seriam temas e personagens exóticos ao nosso país.

800 - Astrojildo Pereira, um dos fundadores do PCB (1922) provocava Fabio Luz. Dizia, ainda, que o PCB só surgiu devido a muitos terem percebido as limitações do anarquismo. Fábio Luz devolvia no mesmo tom do “vira-casaca”.

801 - Edgard Leuenroth e Edgar Rodrigues eram anarquistas que continuaram o legado de Fabio Luz e outros e diziam que o movimento operário vinha perdendo o vigor revolucionário desde o crescimento do PCB nele.

802 - Alguns críticos disseram que a literatura socialista/anarquista/libertária não deixou qualquer obra de grande valor literário, mas foi importante ainda assim pelo pioneirismo em trazer questões sociais nos romances. Alguns crêem que Graça Aranha foi o mestre disso.

803 - Outra crítica é que não se abordou a totalidade da realidade (não se falou da abolição, por exemplo). Algo que os modernistas sim teriam feito.

 

Anarquismo e 1º de Maio no Brasil - Milton Lopes:

804 - O número de estabelecimentos industriais, que era pouco mais de 200 em 1851 sobe para mais de 500 em 1889. Do total do capital investido nas atividades industriais naquela época, 60% concentram-se na indústria têxtil, 15% na da alimentação, 10% na de produtos químicos, 4% na indústria de madeira, 3,5% na do vestuário e 3% na metalurgia. (...) Um primeiro censo geral das indústrias brasileiras realizado em 1907 mostrará a existência de 3.258 estabelecimentos industriais, empregando 15.841 operários. 33% destas fábricas estavam localizadas no Rio de Janeiro, então capital da recém proclamada república (1889).

805 - São Paulo só tomaria a dianteira a partir de 1920.

806 - Entre 1871 e 1920, 3.390.000 imigrantes chegaram ao Brasil. 1.373.000 eram italianos, 901.000 portugueses e 500.000 espanhóis.

807 - A imensa maioria destes imigrantes europeus tomou conhecimento da chamada “questão social” após sua chegada ao Brasil, e não vieram de seus países de origem já imbuídos da ideologia anarquista, desmentindo a imagem da “planta exótica” transplantada para o meio do trabalhador brasileiro cordato e bom.

808 - O operariado (mulheres eram maioria nas têxteis e homens na metalúrgica) era tratado como escravo pelos gerentes e patrões, submetidos a atos vexatórios e salário de miséria - cortiços e má alimentação. Algumas coisas não mudaram muito não…

809 - É em São Paulo ainda com poucas fábricas que dezessete militantes operários reúnem-se no centro da cidade, à rua Líbero Badaró, número 110, a 15 de abril de 1894. Ali é aprovada a resolução do Congresso Socialista de Paris de 1889, que instituía o 1º de Maio como dia de luta e de protesto contra a condenação e execução dos mártires de Chicago. A reunião dos militantes foi frustrada pela polícia, que prendeu parte dos agitadores.

810 - Os italianos envolvidos no episódio, dentre os quais estavam Eugenio Gastaldetti, Félix Vezzani, Augusto Donati, Artur Campagnoli, Galileo Botti, eram alguns dos militantes pioneiros do anarquismo em São Paulo e no Brasil.

(continua...)

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